Benin frustra tentativa de golpe e afirma ter situação sob controle
Governo diz que Forças Armadas impediram tomada de poder e prenderam suspeitos
247 - O governo de Benin anunciou neste domingo (7) que uma tentativa de golpe militar foi neutralizada pelas Forças Armadas, horas depois de um grupo de soldados aparecer na emissora estatal alegando ter assumido o controle do país.
Segundo a agência Reuters, os militares chegaram a interromper a programação da televisão nacional para ler um comunicado em nome de um suposto comitê liderado pelo coronel Tigri Pascal. O episódio ocorre a poucos meses da eleição presidencial prevista para abril e aumentou a tensão política no país da África Ocidental.
Nos últimos anos, a região vive uma onda de instabilidade, marcada por golpes de Estado no Níger, em Burkina Faso, no Mali, na Guiné e, mais recentemente, na Guiné-Bissau. A mobilização deste domingo acendeu um novo alerta sobre os riscos à democracia no entorno de Benin.
Soldados anunciam dissolução das instituições antes de repressão ao levante
Durante a manhã, ao menos oito soldados — alguns armados — apareceram na TV estatal para declarar que haviam derrubado o governo, dissolvido as instituições, suspendido a Constituição e fechado todas as fronteiras. No pronunciamento, um dos militares afirmou: "O exército compromete-se solenemente a dar ao povo beninense a esperança de uma verdadeira nova era, onde prevaleçam a fraternidade, a justiça e o trabalho".
Pouco depois, porém, o ministro do Interior, Alassane Seidou, informou que o levante havia sido contido. Ele assegurou que o governo seguia no comando e pediu calma à população. "Portanto, o governo exorta a população a seguir com suas atividades normalmente", declarou.
O porta-voz do governo, Wilfried Leandre Houngbedji, afirmou que 14 pessoas foram presas por suspeita de participação no golpe. As autoridades não divulgaram, por enquanto, detalhes adicionais sobre os envolvidos.
Chancelaria condena ação e organismos regionais reagem
Antes de o governo anunciar oficialmente que havia retomado o controle, o ministro das Relações Exteriores, Olushegun Adjadi Bakari, disse à Reuters que apenas “um pequeno grupo” de militares tentou derrubar o presidente Patrice Talon. Segundo ele, as forças leais ao governo rapidamente retomaram o comando da situação, incluindo o da emissora estatal, cuja transmissão foi interrompida após o pronunciamento dos golpistas, mas restabelecida em seguida.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana condenaram a tentativa de golpe e reafirmaram a defesa da ordem constitucional no país.
Cotonou registra tiroteios e reforço de segurança
Moradores de Cotonou relataram ter ouvido disparos em vários bairros durante as primeiras horas da manhã, justamente quando muitas pessoas se dirigiam às igrejas. A embaixada da França alertou seus cidadãos após relatos de tiros próximos à residência do presidente Talon.
Testemunhas afirmaram que, no início da tarde, a situação havia se estabilizado, embora policiais permanecessem em pontos estratégicos. Narcisse, vendedor de móveis que preferiu não divulgar o sobrenome, relatou: "Fiquei com medo, coloquei meus sofás para dentro e fechei. Agora está um pouco mais calmo, por isso reabri".
Crise ocorre em meio a disputa eleitoral e pressão por segurança
A tentativa de golpe ocorre em um momento sensível, quando Benin se prepara para a eleição presidencial que marcará o fim do mandato de Patrice Talon, no poder desde 2016. Embora seja apontado como responsável por dinamizar a economia, seu governo enfrenta críticas pela deterioração da segurança no norte, onde ataques jihadistas têm aumentado. Em abril, uma ofensiva atribuída a uma célula ligada à Al-Qaeda matou 54 soldados beninenses.
O ambiente político também se intensificou após a aprovação de uma nova Constituição, que cria um Senado e amplia o mandato presidencial de cinco para sete anos — mudança vista por opositores como manobra do governo. O partido oposicionista Os Democratas, fundado pelo ex-presidente Thomas Boni Yayi, teve sua candidatura barrada pela Justiça por falta de apoio parlamentar.
Benin, que viveu vários golpes e tentativas de golpe após a independência da França em 1960, não registrava uma tomada de poder pela força desde a redemocratização e a realização de eleições multipartidárias em 1991.
A rápida resposta das forças leais ao governo neste domingo reforçou temporariamente a estabilidade institucional, mas a situação política segue delicada às vésperas da eleição presidencial.



