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Conheça, em detalhes, a nova estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos

Documento redefine prioridades globais e marca mudança profunda na política externa americana

Nova estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos (Foto: Reprodução)

247 – A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, publicada em novembro de 2025 e assinada pelo presidente Donald Trump, apresenta uma reorientação completa das prioridades, princípios e instrumentos pelos quais Washington pretende defender seus interesses e moldar o cenário internacional. O texto — um documento oficial da Casa Branca com 33 páginas — descreve o que a administração chama de recuperação da força nacional após anos de supostos erros estratégicos e perda de foco. 

O governo parte de uma premissa central: a política externa adotada desde o fim da Guerra Fria teria se desviado de seu propósito fundamental — proteger os interesses vitais dos Estados Unidos — ao tentar abraçar compromissos ilimitados ao redor do mundo. A estratégia publicada agora redefine o papel dos EUA com base na defesa da soberania, no aumento da capacidade militar, na pressão econômica sobre aliados e adversários e na recusa de envolvimentos externos considerados desnecessários.

A seguir, os principais pontos do plano estratégico.

O diagnóstico: como a política externa teria se desviado do objetivo nacional

A introdução do documento (págs. 5–6) afirma que sucessivas administrações ampliaram de tal forma o conceito de “interesse nacional” que acabaram criando um modelo sem prioridades reais. Em outras palavras, ao tentar atuar em todos os temas globais, os EUA teriam perdido clareza sobre o que realmente importa para sua própria sobrevivência e prosperidade.

Entre as críticas centrais estão:

  •  Tentativa de exercer dominação mundial permanente, vista como irrealista e prejudicial.
  •  Aposta excessiva no globalismo e no livre comércio, acusados de enfraquecer a indústria americana e a classe média.
  •  Dependência de alianças custosas, nas quais parceiros transferiram responsabilidades militares para os EUA.
  •  Submissão a instituições internacionais, descritas como estruturas que muitas vezes contestam a soberania americana.

Segundo o documento, essas escolhas teriam minado as bases econômicas, industriais e militares do país.

A visão de Trump: o presidente como agente de correção histórica

A estratégia sustenta que Trump teria revertido essa trajetória já no primeiro mandato, ao:

  •  reforçar fronteiras,
  •  modernizar as Forças Armadas,
  •  impor tarifas para proteger a indústria,
  •  pressionar membros da OTAN a elevar gastos militares,
  •  e usar diplomacia direta para resolver conflitos.

Onovo texto apresenta Trump como “o presidente da paz”, alegando que, apenas nos primeiros oito meses do segundo mandato, ele teria mediado acordos para encerrar oito conflitos internacionais — incluindo disputas entre Israel e Irã, Paquistão e Índia e Armênia e Azerbaijão (pág. 8).

O que os Estados Unidos querem: objetivos amplos e nacionais

A seção intitulada “O que queremos como país” (págs. 7–9) lista metas que compõem a essência da doutrina de segurança nacional:

1. Proteção da soberania e da segurança interna

O documento enfatiza a necessidade de preservar o país contra ataques militares, espionagem, práticas comerciais predatórias, redes criminosas e qualquer forma de influência estrangeira.

2. Controle total das fronteiras

O governo afirma que a imigração deixou de ser um fenômeno administrável e se tornou ameaça estratégica. Assim, defende:

  •  restrição severa de entradas,
  •  colaboração com outros países para bloquear fluxos migratórios,
  •  e visão de que “a era da migração em massa deve terminar”.

3. Superioridade militar inquestionável

A estratégia reafirma a intenção de manter “o exército mais poderoso do planeta”, investir em tecnologias avançadas e garantir capacidade de vencer guerras “de forma rápida e decisiva”.

Inclui ainda o objetivo de criar um grande sistema nacional de defesa antimísseis, chamado de “cúpula dourada”, cobrindo todo o território americano.

4. Reindustrialização e supremacia econômica

O texto declara que a base industrial é fundamento da segurança nacional. Para isso, prevê:

  •  reindustrialização acelerada,
  •  fortalecimento de cadeias produtivas internas,
  •  independência em setores estratégicos,
  •  incentivos à produção de energia — petróleo, gás, carvão e nuclear — como instrumento geopolítico.

5. Liderança tecnológica

O país quer preservar domínio em áreas como computação avançada, biotecnologia e inteligência artificial, e combater roubo de propriedade intelectual.

6. Defesa do modelo cultural americano

O documento também aborda temas internos, afirmando que a “vitalidade espiritual e cultural” da sociedade é essencial para a segurança nacional.

Os meios disponíveis: poder econômico, militar e influência global

A estratégia identifica recursos que sustentariam a posição americana (pág. 10):

  •  a maior economia do mundo,
  •  o dólar como moeda de reserva global,
  •  Forças Armadas mais poderosas do planeta,
  •  intensa capacidade de inovação,
  •  rede de alianças,
  •  posição geográfica favorável,
  •  e forte influência cultural.

O texto também diz que as políticas domésticas de Trump — energia abundante, redução de impostos, combate a políticas de diversidade e reindustrialização — fazem parte do arcabouço de segurança nacional.

Princípios da nova estratégia: foco, força e não intervenção seletiva

A seção de princípios (págs. 8–14) define como os EUA pretendem agir:

1. Foco no que é essencial

Somente interesses centrais devem guiar política externa. O país rejeita participar de todas as disputas globais.

2. Paz por meio da força

A dissuasão militar — e não a intervenção frequente — seria o caminho para impedir conflitos.

3. Preferência por não intervir

A intervenção é vista como última opção, usada apenas quando houver interesse vital claramente identificado.

4. Realismo flexível

Os EUA buscarão boas relações com países de sistemas políticos diferentes, sem pressionar por reformas ou modelos de governo.

5. Defesa da soberania

A estratégia rejeita influência de organizações internacionais sobre decisões americanas.

6. Equilíbrio de poder global

Washington não permitirá o surgimento de uma potência dominante que ameace seus interesses.

7. Proteção do trabalhador americano

Qualquer política externa deve priorizar empregos e prosperidade interna.

Prioridades estratégicas: fronteiras, economia e redistribuição de encargos

A seção de prioridades (págs. 11–15) afirma que:

A era da migração irrestrita acabou

A segurança de fronteira passa a ser tratada como o primeiro elemento da segurança nacional.

O governo deve proteger liberdades individuais

A estratégia critica governos e instituições — inclusive europeias — por supostamente restringirem liberdades em nome de “proteger a democracia”.

Aliados devem pagar mais

A administração exige que países ricos assumam maior parte dos custos de defesa, especialmente na OTAN, mencionando a meta de 5% do PIB em gastos militares.

Reindustrialização e autonomia

O texto propõe:

  •  tarifas estratégicas,
  •  políticas industriais,
  •  reconstrução da base bélica,
  •  expansão da produção energética,
  •  fortalecimento do setor financeiro.

Abordagem por regiões: hemisfério, Ásia, Europa, Oriente Médio e África

A parte final (págs. 15–29) define como os EUA atuarão em cada região do mundo.

1. Hemisfério Ocidental: nova doutrina Monroe

Trump cria o que chama de “Corolário Trump à Doutrina Monroe”, afirmando que o continente americano deve permanecer livre de influência de potências externas. Para isso, prevê:

  •  aumento da presença militar,
  •  combate mais agressivo a cartéis,
  •  restrição à compra de portos, instalações e ativos estratégicos por países de fora da região,
  •  pressão para que governos do continente alinhem suas políticas comerciais e de infraestrutura aos EUA.

2. Ásia: competição econômica e dissuasão militar

A região é vista como palco decisivo da disputa global. A estratégia prevê:

  •  reequilíbrio da relação econômica com a China,
  •  proteção de cadeias produtivas,
  •  pressão para que Japão, Coreia do Sul e Austrália aumentem gastos militares,
  •  manutenção do status de Taiwan, impedindo qualquer mudança unilateral,
  •  fortalecimento da presença naval para garantir liberdade de navegação no Mar do Sul da China.

3. Europa: evitar declínio e conter tensões com a Rússia

O documento afirma que a Europa vive crise econômica, política e cultural, e que corre risco de “perder sua identidade”. Prevê:

  •  acordos para encerrar a guerra na Ucrânia e estabilizar relações com a Rússia,
  •  incentivo para que países europeus recuperem autonomia e reforcem defesas,
  •  resistência ao “excesso regulatório” europeu,
  •  maior abertura ao comércio americano.

4. Oriente Médio: redução de envolvimento direto e ampliação de alianças

Segundo a estratégia:

  •  a região não deve mais dominar a política externa americana,
  •  a prioridade é impedir que potências hostis controlem o petróleo e os estreitos estratégicos,
  •  Washington quer expandir os Acordos de Abraão e apoiar governos que combatam o radicalismo,
  •  o conflito israelo-palestino deve ser resolvido por negociações diretas, sem “guerras intermináveis”.

5. África: menos ajuda, mais investimento e exploração de recursos

A nova diretriz rejeita políticas de assistência e propõe:

  •  foco em investimentos produtivos,
  •  exploração conjunta de minerais estratégicos,
  •  apoio condicionado a governos considerados “confiáveis e abertos ao mercado”,
  •  vigilância contra expansão de grupos extremistas no Sahel.

Conclusão: uma doutrina nacionalista, seletiva e centrada no poder econômico e militar

A Estratégia de Segurança Nacional de 2025 afirma que os EUA só garantirão sua supremacia se:

  •  controlarem rigidamente suas fronteiras,
  •  reconstruírem sua indústria,
  •  mantiverem a capacidade militar mais poderosa do planeta,
  •  exigirem que aliados aumentem seus compromissos,
  •  e concentrarem seus esforços apenas nos temas considerados essenciais.

Trata-se de uma doutrina que redefine o papel dos Estados Unidos no mundo, rompendo com modelos intervencionistas anteriores e adotando uma postura que combina nacionalismo econômico, pragmatismo militar e ênfase em acordos diretos conduzidos pelo próprio presidente.

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