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Nova doutrina de segurança de Trump explicita imperialismo e busca pelo controle das Américas

Estratégia nacional do atual presidente dos Estados Unidos resgata a Doutrina Monroe e reforça ambições militares no Hemisfério Ocidental

O presidente dos EUA, Donald Trump - 19 de novembro de 2025 (Foto: REUTERS/Evelyn Hockstein)

247 – A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, divulgada nesta sexta-feira (5), apresenta uma guinada agressiva na política externa do presidente Donald Trump, reafirmando ambições históricas de supremacia norte-americana no continente americano. O documento, de 29 páginas, foi detalhado em reportagem da Reuters, que destacou a intenção explícita de recuperar a antiga Doutrina Monroe, concebida no século 19 para declarar o Hemisfério Ocidental como área de influência exclusiva de Washington.

O texto define o conceito de “realismo flexível” como eixo da visão estratégica de Trump e afirma que a política externa do presidente é “motivada acima de tudo pelo que funciona para a América”. Segundo o documento, os Estados Unidos devem “restaurar a preeminência americana” na região e colocar as Américas no topo das prioridades do governo.

 “Esse ‘Corolário Trump’ à Doutrina Monroe é uma restauração de bom senso e potência do poder americano, consistente com os interesses de segurança dos Estados Unidos”, afirma o documento, sinalizando que o robusto aumento da presença militar norte-americana no Caribe não será temporário.

Presença militar crescente e histórico intervencionista reacendem temores na região

Desde que Trump assumiu o mandato, críticas se intensificaram diante de sua retórica considerada imperialista. Ele chegou a mencionar, de forma vaga, ideias como retomar o Canal do Panamá e anexar a Groenlândia e o Canadá. Mais recentemente, a mobilização militar na região reforçou preocupações: mais de 10 mil soldados foram enviados ao Caribe, acompanhados de porta-aviões, navios de guerra e jatos de combate, em meio a ameaças de ataques em países como Venezuela e outros afetados por operações de cartéis de drogas.

O analista Jason Marczak, do Atlantic Council, avaliou:

 “A nova Estratégia de Segurança Nacional deixa muito claro que não vamos voltar ao que era antes.”

O documento também destaca o avanço econômico da China na América Latina como preocupação crescente, retomando a lógica de disputa de influência que marcou a Guerra Fria.

Indo-Pacífico: reforço militar para conter China e defender Taiwan

A estratégia amplia o foco militar dos EUA no Indo-Pacífico. O texto aponta que Washington buscará evitar um conflito direto com a China por meio do fortalecimento de capacidades militares próprias e de aliados.

 “Dissuadir um conflito sobre Taiwan, idealmente preservando a superioridade militar, é prioridade”, diz o documento.

A questão de Taiwan e do Mar do Sul da China tem sido um dos pontos mais sensíveis nas relações sino-americanas, e a formalização dessa diretriz eleva a tensão estratégica na região, especialmente diante do histórico de decisões imprevisíveis da administração Trump.

Europa é alvo de ataques e advertências sobre “apagamento civilizacional”

Em tom duro, o texto coloca em xeque a relação com aliados históricos e afirma que a Europa corre o risco de enfrentar um “apagamento civilizacional”. Segundo o documento, vários países da OTAN poderiam se tornar “majoritariamente não europeus” nas próximas décadas — argumento semelhante ao utilizado por partidos de extrema direita no continente.

O governo Trump exige que a Europa reconstrua suas capacidades militares e assuma a maior parte das responsabilidades na defesa convencional da OTAN. A Reuters informa que Washington pressiona para que países europeus assumam desde sistemas de inteligência até capacidades de mísseis, em um cronograma considerado irrealista por autoridades europeias.

Ao mesmo tempo, o documento afirma que interessa aos EUA resolver rapidamente o conflito na Ucrânia e restabelecer “estabilidade estratégica” com a Rússia, ecoando críticas recorrentes de que Trump seria “brando com Moscou” devido às suas declarações elogiosas ao presidente Vladimir Putin.

Nova hierarquia geopolítica: Américas e Pacífico como prioridades, Europa como perdedora

Brad Bowman, especialista da Foundation for Defense of Democracies, sintetizou o novo mapa de prioridades traçado pelo governo:

 “Vencedores na disputa por tempo, recursos e atenção? Hemisfério Ocidental e talvez o Pacífico. Perdedores? Europa. A definir? Oriente Médio. África? Boa sorte...”

A avaliação reforça que a estratégia de Trump abandona a ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial, na qual alianças multilaterais — especialmente com a Europa — eram pilares centrais da política externa dos Estados Unidos.

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