Putin e Modi concordam em ampliar o comércio entre Índia e Rússia
Nova Délhi e Moscou assinam acordos estratégicos e planejam expandir comércio até 2030
247 - A mais recente cúpula entre Rússia e Índia reforçou a intenção dos dois países de aprofundar a cooperação econômica e militar. O encontro, realizado em Nova Déli, reuniu o presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que anunciaram novos compromissos bilaterais.
No encontro de dois dias, a Índia recebeu Putin com honras de Estado, num gesto que confirma a relevância da parceria histórica entre os dois países. Moscou pretende ampliar a presença de produtos indianos no mercado russo e elevar o fluxo comercial para US$ 100 bilhões até 2030.
A Rússia também sinalizou disposição para manter o fornecimento de energia à Índia, maior compradora mundial de armamentos russos e importadora expressiva de petróleo transportado por via marítima. Putin reafirmou que seu país está pronto para assegurar o “fornecimento ininterrupto de combustível”, repetindo críticas à pressão dos Estados Unidos para que Nova Déli reduza as compras de petróleo russo.
A resposta indiana, porém, foi marcada pela prudência. O secretário de Relações Exteriores, Vikram Misri, ressaltou que as decisões das empresas locais dependem da “dinâmica de mercado em constante evolução” e de “questões comerciais que enfrentam ao obter seus suprimentos”, indicando a influência das sanções ocidentais e da volatilidade dos preços. Misri afirmou que a parceria energética continuará seguindo esses parâmetros.
Essa postura cautelosa se refletiu em decisões operacionais recentes: a Indian Oil Corp e a Bharat Petroleum Corp fizeram pedidos para janeiro exclusivamente a fornecedores russos não submetidos a sanções, motivadas pelos descontos crescentes no petróleo.
Durante a cúpula, Modi destacou a força da relação bilateral. Descrevendo a parceria com Moscou como “uma estrela guia”, afirmou: “Com base no respeito mútuo e na profunda confiança, essas relações sempre resistiram ao teste do tempo.” Ele acrescentou que o programa de cooperação econômica até 2030 tornará o comércio “mais diversificado, equilibrado e sustentável”.
O primeiro-ministro também reiterou que a Índia apoia uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia. Em comunicado conjunto, os dois governos enfatizaram que, apesar do cenário global “complexo, tenso e incerto”, os laços russo-indianos permanecem resilientes diante de pressões externas.
Putin recebeu uma recepção cerimonial no palácio presidencial Rashtrapati Bhavan, que incluiu salva de 21 tiros. A delegação russa levou representantes do governo e do setor privado, e vários acordos foram assinados: facilitação da migração de trabalhadores indianos para a Rússia, construção de uma fábrica conjunta de fertilizantes em território russo e ampliação da cooperação em agricultura, saúde e navegação.
Na área de defesa, os dois países concordaram em reformular a parceria para incorporar o esforço indiano de autossuficiência, com ênfase em pesquisa, desenvolvimento e produção conjunta de equipamentos avançados, incluindo peças, componentes e plataformas militares.
Em entrevista à India Today, Putin voltou a questionar a pressão norte-americana sobre as compras indianas de petróleo russo. “Se os EUA têm o direito de comprar nosso combustível [nuclear], por que a Índia não deveria ter o mesmo privilégio?”, afirmou, acrescentando que está disposto a discutir o assunto com Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.
A Índia considera injustificadas as tarifas impostas por Trump a produtos indianos em razão das importações de petróleo russo. Apesar das sanções, Estados Unidos e União Europeia continuam adquirindo bilhões de dólares em energia e commodities russas, como gás natural liquefeito e urânio enriquecido.
A cúpula em Nova Déli reforçou que, mesmo sob pressões geopolíticas e econômicas, Índia e Rússia pretendem preservar e ampliar sua parceria estratégica nos próximos anos.



