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Capital da Somália realiza votação histórica rumo ao sufrágio universal

Eleições municipais em Mogadíscio testam retorno do voto direto após mais de 50 anos

Mulheres fazem fila para terem seus dados biométricos registrados durante o cadastro eleitoral para as próximas eleições municipais, rompendo com a antiga prática de líderes serem escolhidos por anciãos do clã, no distrito de Hamarweyne, em Mogadíscio, Somália, em 19 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Feisal Omar)

Reuters Moradores da capital da Somália, Mogadíscio, votaram nesta quinta-feira (25) em eleições municipais destinadas a abrir caminho para as primeiras eleições nacionais diretas do país em mais de meio século. O pleito é considerado um teste para a retomada do sufrágio universal em nível nacional.

Com exceção de votações realizadas na região semi-autônoma de Puntland e na região separatista da Somalilândia, a Somália realizou sua última eleição direta em 1969, poucos meses antes de o general Mohamed Siad Barre assumir o poder por meio de um golpe militar.

Após anos de guerra civil que se seguiram à queda de Barre, em 1991, eleições indiretas foram introduzidas em 2004. O objetivo era promover consenso entre clãs rivais diante de uma insurgência islamista. No entanto, alguns somalis afirmam que políticos preferem o sistema indireto por criar oportunidades para corrupção.

Nesse modelo, representantes dos clãs elegem os parlamentares, que, por sua vez, escolhem o presidente. O presidente é responsável por nomear o prefeito de Mogadíscio.

A votação na capital, uma cidade com cerca de 3 milhões de habitantes, onde as condições de segurança melhoraram nos últimos anos apesar de ataques contínuos do grupo armado al Shabaab, ligado à Al-Qaeda, é vista como um ensaio para eleições diretas em nível nacional.

Cerca de 1.605 candidatos disputam 390 cargos nos conselhos distritais de Mogadíscio, afirmou Abdishakur Abib Hayir, membro da Comissão Nacional Eleitoral. Os integrantes dos conselhos elegerão posteriormente o prefeito da cidade.

“Isso mostra que a Somália está de pé e avançando”, disse Hayir à Reuters. “Após a eleição local, eleições podem e vão acontecer em todo o país”.

Eleitores começaram a formar longas filas do lado de fora dos locais de votação logo no início da manhã, segundo testemunhas da Reuters. As ruas foram fechadas ao tráfego de veículos, enquanto o aeroporto, o porto e estabelecimentos comerciais permaneceram fechados.

A comissão eleitoral informou que cerca de 10 mil agentes de segurança foram mobilizados nos locais de votação.

“Esta é a primeira vez que voto. Estou muito feliz e cheguei cedo pela manhã, caminhando com outras mães”, disse à Reuters Addey Isak Abdi, de 65 anos, que usava um véu rosa.

Uma lei aprovada em 2024 restaurou o sufrágio universal antes das eleições federais previstas para o próximo ano. No entanto, o presidente Hassan Sheikh Mohamud chegou a um acordo em agosto com alguns líderes da oposição estabelecendo que, embora os parlamentares sejam eleitos diretamente em 2026, o presidente continuará sendo escolhido pelo Parlamento.

Partidos de oposição argumentam que a introdução rápida de um novo sistema eleitoral beneficiaria as chances de reeleição de Mohamud. Eles também questionam se o país é seguro o suficiente para uma votação em massa, considerando que o al Shabaab controla vastas áreas do interior e realiza ataques regulares em grandes centros urbanos.

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