Nancy Pelosi anuncia aposentadoria após quase quatro décadas no Congresso dos EUA
Aos 85 anos, a primeira mulher a presidir a Câmara dos EUA encerra uma era na política americana
247 - Nancy Pelosi, primeira e única mulher a ocupar a presidência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, anunciou que não buscará a reeleição ao Congresso. A democrata de 85 anos divulgou a decisão em um vídeo emocionado nesta quinta-feira (6), no qual declarou seu amor por São Francisco, cidade que representa há quase 40 anos.
Segundo a CNN, Pelosi afirmou que, após décadas em Washington, chegou o momento de encerrar o ciclo. “Amei verdadeiramente servir como sua voz no Congresso e sempre honrei o cântico de São Francisco, ‘Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz’. É por isso que quero que vocês, meus conterrâneos de São Francisco, sejam os primeiros a saber: não concorrerei novamente ao Congresso”, disse a parlamentar.
Despedida de uma trajetória histórica
Com um tom de gratidão e firmeza, Pelosi destacou o orgulho de representar sua cidade. “Com o coração grato, aguardo meu último ano de serviço como sua representante. À cidade que amo, digo isto: São Francisco, reconheça sua força. Fizemos história, avançamos e sempre lideramos o caminho”, declarou.
A decisão encerra semanas de especulações sobre sua aposentadoria, esperada desde que deixou o comando da liderança democrata na Câmara. Eleita pela primeira vez em 1987, Pelosi marcou época em 2007 ao tornar-se a primeira mulher a empunhar o martelo de presidente da Câmara — cargo que voltaria a ocupar em 2019.
De Baltimore a Washington: a ascensão de uma líder
Filha e irmã de ex-prefeitos de Baltimore, Nancy Pelosi cresceu em um ambiente profundamente político. Essa formação ajudou a moldar seu estilo de liderança firme e sua reputação como uma das mais habilidosas articuladoras do Partido Democrata. Durante sua carreira, manteve controle quase absoluto sobre as votações de sua bancada, evitando derrotas no plenário e impondo disciplina partidária.
Enfrentamentos com Donald Trump e legado legislativo
Durante seu segundo mandato como presidente da Câmara, Pelosi liderou duros confrontos com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, protagonizando momentos emblemáticos — como quando rasgou publicamente uma cópia do discurso do Estado da União, em 2020. Foi sob sua liderança que a Câmara aprovou dois processos de impeachment contra Trump.
Sua trajetória legislativa, porém, vai muito além das disputas políticas. Desde sua estreia no Congresso, na década de 1980, Pelosi esteve à frente de pautas históricas, como o combate à epidemia de HIV/AIDS, o voto contra a guerra no Iraque e a aprovação do Affordable Care Act, conhecido como “Obamacare”, marco da política de saúde do governo Barack Obama.
Relações com Joe Biden e transformações no Partido Democrata
Pelosi manteve uma relação próxima com o presidente Joe Biden, com quem trabalhou em pacotes de recuperação econômica durante a pandemia de Covid-19. No entanto, segundo a CNN, ela foi uma das figuras que incentivaram Biden a se retirar da disputa pela reeleição em 2024, por temer sua capacidade de derrotar Trump.
Sob sua liderança, o Partido Democrata tornou-se mais coeso em torno de pautas progressistas, consolidando posições firmes em temas como direitos reprodutivos e igualdade de gênero.
Uma era de mudanças e desafios pessoais
Em 2022, a trajetória de Pelosi foi abalada por um ataque a seu marido, Paul Pelosi, agredido por um invasor em sua casa em São Francisco. O episódio, que quase lhe custou a vida, teve forte impacto sobre a decisão da congressista de deixar a liderança partidária.
Ainda assim, Pelosi raramente se descreve como símbolo do feminismo, embora reconheça a importância de seu exemplo. “Quando uma mulher é eficaz, tentam miná-la, porque isso é uma ameaça real”, afirmou em entrevista à CNN em 2018. “Faço isso porque quero que as mulheres vejam que você não deve se deixar intimidar. Você não foge da luta".



