Sob Trump, EUA dobram deportações e expulsam mais de 100 mil imigrantes
Dados oficiais mostram aumento de 126% nas ações do ICE entre janeiro e setembro de 2025
247 - Desde o início de seu novo mandato, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou a deportação em massa no centro da política migratória do país. Batidas realizadas por agentes federais passaram a ocorrer em locais do cotidiano, como supermercados, estacionamentos, escolas, tribunais e transportes públicos, alterando profundamente a rotina de imigrantes em situação irregular, que passaram a viver sob constante temor. Somente entre janeiro e setembro de 2025 ao menos 113 mil imigrantes foram deportados pelo Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE). O número representa um aumento de 126% em relação ao mesmo período de 2024, quando os Estados Unidos eram governados por Joe Biden. As informações são da Folha de S. Paulo.
Operações do ICE ampliam clima de medo
Relatos de organizações de defesa dos direitos humanos indicam que a intensificação das operações levou muitos imigrantes a se afastarem da vida pública, reduzindo a participação em eventos culturais e até evitando sair de casa. O ICE, responsável por localizar e prender pessoas em situação irregular dentro do país, tornou-se o principal instrumento dessa ofensiva migratória.
Dados oficiais revelam salto nas deportações
Os números foram compilados pelo Deportation Data Project, iniciativa da Universidade da Califórnia, a partir de documentos obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação dos Estados Unidos. A análise considera apenas deportações conduzidas pelo ICE, não incluindo ações do Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP), responsável principalmente pela vigilância da fronteira com o México.
O governo Trump afirma que houve uma redução de 2,5 milhões de estrangeiros no país, dos quais 600 mil teriam sido deportados. No entanto, esses dados divergem das informações obtidas pela imprensa. Procurados para esclarecer a discrepância, o ICE e o Departamento de Segurança Interna não responderam.
Especialistas questionam legalidade das ações
Para o professor de direito Daniel Kanstroom, do Boston College, os efeitos da política atual tendem a ser temporários. “Minha previsão é que essa é uma conquista temporária”, afirmou. “As forças que impelem as pessoas a imigrar, principalmente da América Latina, são muito, muito poderosas. Não acho que seja possível pará-las a não ser que haja mudanças estruturais no hemisfério. Se as empresas americanas continuarem a contratar pessoas, os imigrantes vão continuar a vir.”
Kanstroom também relata insegurança crescente entre profissionais da área jurídica. “Entre meus colegas advogados, há um sentimento de exaustão e imensa incerteza”, disse. “Ninguém sabe o que dizer para seus clientes. Muitos advogados estão com raiva porque parece que vivemos em um sistema sem lei.”
Mudança no destino e perfil dos deportados
Os documentos mostram alterações relevantes nos países de destino das deportações. Mexicanos seguem como o maior grupo, representando cerca de 40% do total, seguidos por guatemaltecos, hondurenhos e venezuelanos. Os brasileiros aparecem na 11ª posição, com 1.373 deportações no período, quase quatro vezes mais do que no governo anterior.
Houve ainda um crescimento expressivo de deportações para o México e para a Venezuela, inclusive de pessoas que não são cidadãs desses países. No caso venezuelano, o aumento está relacionado à retomada de voos de deportação após pressão do governo Trump para que o país voltasse a aceitar essas operações.
Orçamento bilionário transforma o ICE
Com a aprovação do novo orçamento federal em julho, os recursos destinados ao ICE saltarão de US$ 10 bilhões em 2025 para ao menos US$ 30 bilhões no próximo ano, além de um investimento adicional de US$ 75 bilhões até 2029. O plano inclui a contratação de mais 5 mil agentes e a ampliação da capacidade dos centros de detenção.



