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Trump é citado em novos arquivos de Epstein, que indicam voos e alegações não corroboradas

A relação entre Trump e Epstein remonta aos anos 1990 e início dos anos 2000, quando ambos circulavam no mesmo meio social

Uma foto sem data de Jeffrey Epstein com Donald Trump, divulgada pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA em 12 de dezembro de 2025. (Foto: Divulgação)

247 - O governo dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira (23) uma nova leva de documentos relacionados ao caso Jeffrey Epstein, que inclui menções ao presidente Donald Trump e detalhes inéditos sobre registros de voo do fim dos anos 1990. As informações foram inicialmente reportadas pela agência Reuters, que teve acesso ao material liberado pelo Departamento de Justiça (DoJ). Segundo a reportagem, parte dos arquivos indica que Trump utilizou o avião particular de Epstein mais vezes do que se sabia anteriormente, embora não haja acusações diretas de crime contra ele.

De acordo com um e-mail datado de 7 de janeiro de 2020, escrito por um promotor de Nova York cujo nome foi suprimido no documento, registros de voo mostram que Trump teria viajado no jato de Epstein ao menos oito vezes durante os anos 1990. Em quatro desses voos, a britânica Ghislaine Maxwell — condenada a 20 anos por participação nos abusos cometidos pelo financista — também estava a bordo. A correspondência faz parte de um conjunto de cerca de 30 mil páginas agora tornadas públicas, muitas delas com trechos censurados para proteger vítimas.

A revelação contrasta com declarações anteriores do presidente. Em uma publicação feita nas redes sociais em 2024, Trump afirmou que “was never on Epstein’s Plane, or at his ‘stupid’ Island”. O e-mail divulgado, porém, não atribui qualquer crime ao mandatário, e a Casa Branca não respondeu às solicitações da Reuters para comentar a nova documentação. Os autores do relatório detalham que, em um dos voos, apenas três pessoas estavam presentes: Epstein, Trump e uma mulher de 20 anos cujo nome foi ocultado. Em outros dois trajetos, as passageiras seriam mulheres consideradas possíveis testemunhas no caso Maxwell.

A relação entre Trump e Epstein remonta aos anos 1990 e início dos anos 2000, quando ambos circulavam no mesmo meio social. Trump diz ter rompido com o financista em meados dos anos 2000 e nega ter tido conhecimento dos crimes que resultaram na condenação de Epstein em 2008, na Flórida, por prostituição de menor, e nas acusações de tráfico sexual apresentadas em 2019.

Após a divulgação, o Departamento de Justiça publicou uma nota oficial afirmando que parte dos documentos continha “untrue and sensationalist claims made against President Trump”, enviados ao FBI às vésperas das eleições de 2020. O órgão reforçou que tais alegações são “unfounded and false”, reiterando que, caso houvesse credibilidade, elas já teriam sido utilizadas contra o presidente. Mesmo assim, o DoJ justificou a liberação dos arquivos por exigência legal e em nome da transparência.

Os novos documentos incluem vídeos, fotos e e-mails obtidos ao longo de anos de investigação. Em uma das mensagens, enviada em 2021, uma pessoa não identificada afirma ter encontrado “uma imagem de Trump e Ghislaine Maxwell” ao analisar dados extraídos do celular de Steve Bannon. O governo divulgou também uma fotografia que mostra Trump sentado ao lado de Maxwell, imagem que corresponde a um registro conhecido de ambos em um evento de moda em Nova York no ano 2000.

Outro conjunto de arquivos menciona um cartão supostamente enviado por Epstein ao ex-médico esportivo Larry Nassar, no qual há referência indireta ao presidente. Pouco depois da divulgação, o Departamento de Justiça classificou o cartão como “falso”. Também foram tornados públicos registros de ligações anônimas feitas a uma linha de denúncias do FBI, nas quais pessoas relataram supostos comportamentos comprometedores envolvendo Trump, mas sem comprovação de veracidade ou indicação de que as informações tenham sido consideradas sérias pelos investigadores.

Um vídeo incluído no pacote de documentos, que pretendia mostrar Epstein dentro de sua cela, também foi desmentido. A Reuters verificou que se trata de um clipe digital criado por computador e difundido nas redes sociais em 2020, um ano após a morte do financista, oficialmente classificada como suicídio.

A divulgação ocorre em meio à aplicação da nova lei de transparência sobre os arquivos de Epstein, aprovada pelo Congresso em consenso bipartidário. Nas últimas semanas, o governo liberou diversos lotes de documentos, muitos deles com pesadas redações, o que despertou críticas entre parlamentares, sobretudo republicanos, que acusam o DoJ de reter informações sensíveis. Trump afirmou recentemente que a atenção ao caso serve apenas para “desviar” do que considera os sucessos de seu governo e de seu partido às vésperas das eleições legislativas de 2026.

O republicano Thomas Massie, um dos principais articuladores da lei de divulgação integral dos arquivos, rebateu Trump nas redes sociais, ao afirmar que o presidente tenta culpá-lo pelo conteúdo que decidiu assinar. Massie escreveu no X: “Trump is blaming me for a bill he eventually signed, while defending his banker friends, Bill Clinton, and ‘innocent’ visitors to rape island”, além de criticar a atuação da procuradora-geral Pam Bondi, encarregada de cumprir a liberação do material.

A expectativa é de que novos documentos continuem sendo publicados nos próximos meses, à medida que o Departamento de Justiça conclui as revisões exigidas pela legislação.

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