Zelensky busca reunião com Trump para destravar impasse territorial
Presidente da Ucrânia afirma que acordo de paz com a Rússia avança, mas questão territorial exige decisão direta entre líderes
247 - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que pretende se reunir diretamente com o presidente dos EUA, Donald Trump, para tratar dos pontos mais sensíveis de um eventual acordo de paz com a Rússia, especialmente a questão territorial. A declaração foi feita após uma nova rodada de negociações entre delegações ucranianas e norte-americanas, que avançaram na elaboração de um plano político para encerrar o conflito.
As informações foram divulgadas pela agência Reuters nesta quarta-feira (24), com base em declarações de Zelensky à imprensa, distribuídas por seu gabinete em Kiev. Segundo ele, Ucrânia e Estados Unidos estão próximos de concluir um documento de 20 pontos que serviria como base para o fim da guerra, embora temas centrais ainda permaneçam sem consenso.
De acordo com o presidente ucraniano, as conversas realizadas no fim de semana, em Miami, representaram um avanço relevante em relação às propostas anteriores. O novo texto funcionaria como um marco político envolvendo Ucrânia, Estados Unidos, Europa e Rússia, estabelecendo diretrizes gerais para um eventual acordo de paz.
“Este é um documento considerado um quadro de referência para o fim da guerra, um documento político entre nós, os Estados Unidos, a Europa e os russos”, afirmou Zelensky.
Ele ressaltou, no entanto, que determinadas decisões não podem ser resolvidas apenas em nível técnico ou diplomático. “Estamos prontos para uma reunião com os Estados Unidos em nível de líderes para tratar de questões sensíveis. Assuntos como as questões territoriais devem ser discutidos em nível de líderes”, disse.
Donald Trump tem declarado repetidamente que deseja pôr fim ao conflito, considerado o mais sangrento da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Até agora, porém, Washington não conseguiu obter concessões substanciais de nenhuma das partes envolvidas.
Kiev tem pressionado os Estados Unidos a rever versões preliminares do plano de paz que, segundo autoridades ucranianas, refletiam exigências centrais de Moscou, como a cessão de mais territórios, a renúncia a futuras alianças militares e a imposição de limites às Forças Armadas da Ucrânia. O governo ucraniano argumenta que essas condições deixariam o país vulnerável a novos ataques da Rússia, que iniciou incursões militares em 2014 e lançou uma invasão em grande escala em 2022.
Zelensky afirmou que a versão mais recente da proposta de 20 pontos representa uma evolução significativa em comparação com um plano anterior de 28 pontos discutido pelos Estados Unidos e pela Rússia. Pelo novo desenho, a Ucrânia manteria um efetivo militar de cerca de 800 mil soldados, além de contar com documentos adicionais negociados com Washington e aliados europeus para garantir sua segurança.
Segundo Zelensky, autoridades ucranianas e norte-americanas também trabalharam em diversos documentos voltados à reconstrução do país no pós-guerra e à atração de investimentos internacionais.
As questões territoriais continuam sem solução. Zelensky afirmou que a proposta de Kiev é interromper os combates nas atuais linhas de frente. Moscou, por sua vez, exige que as tropas ucranianas se retirem integralmente da região oriental de Donetsk, da qual cerca de um quarto ainda permanece sob controle ucraniano.
Zelensky disse que Washington tenta encontrar um meio-termo, avaliando a criação de uma zona desmilitarizada ou de uma zona econômica livre na região em disputa. Também não houve acordo sobre o futuro da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, localizada em território atualmente controlado pelas forças russas. Segundo ele, Kiev propõe a criação de uma pequena zona econômica no entorno da instalação.
O presidente ucraniano afirmou que a nova proposta de 20 pontos será analisada por Moscou antes da definição dos próximos passos. “Estamos dizendo: se todas as regiões forem incluídas e se permanecermos onde estamos, então chegaremos a um acordo”, declarou. “Mas, se não concordarmos em permanecer onde estamos, há duas opções: ou a guerra continua, ou algo terá de ser decidido em relação a todas as possíveis zonas econômicas.”



