HOME > Mundo

Zelensky diz que negociações "avançaram 90%" antes de encontro com Trump

Trump disse que as negociações continuarão com o presidente da Rússia, Vladimir Putin

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky - 18/11/2025 (Foto: REUTERS/Susana Vera)

247 - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reuniu-se neste domingo com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Mar-a-Lago, na Flórida, para discutir uma nova proposta de paz voltada ao encerramento da guerra com a Rússia, que já se aproxima de quatro anos. Ao chegar para o encontro, o líder ucraniano afirmou que as negociações avançaram “em torno de 90%” dos pontos previstos no plano apresentado por Washington e Kiev.

O plano de paz, estruturado em 20 pontos, foi elaborado após semanas de conversas entre autoridades americanas e ucranianas, mas ainda não recebeu sinal verde do Kremlin.

Trump recebeu Zelensky em sua residência por volta das 13h no horário local. Antes do encontro a portas fechadas, o presidente norte-americano indicou que pretende manter conversas paralelas com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para tentar avançar na negociação. Poucas horas antes da reunião, Trump afirmou em sua rede social Truth Social: “Acabei de ter uma conversa telefônica muito boa e produtiva com o presidente da Rússia, [Vladimir] Putin”.

Durante a recepção a Zelensky, Trump declarou que o objetivo central é encerrar o conflito. “Muitas pessoas estão morrendo e queremos fechar um acordo de paz. Acredito que em breve teremos um acordo que seja bom para todos. Já consegui acabar com oito guerras e essa é a mais difícil de todas”, disse o atual presidente dos Estados Unidos. Ele acrescentou: “Zelensky trabalhou muito duro. Temos um encontro importante hoje. E após o encontro vamos continuar as negociações (com Putin). Não tenho um prazo final, mas quero acabar com a guerra”.

O documento em discussão trata de temas sensíveis, como garantias de segurança para evitar novas agressões russas, o futuro da região de Donbass e a situação de uma usina nuclear atualmente sob ocupação russa. A iniciativa ganhou novo impulso após um ataque massivo de mísseis e drones lançado pela Rússia contra Kiev no fim de semana.

Zelensky vinha pressionando por essa reunião há semanas, desde que os Estados Unidos retomaram esforços diplomáticos mais intensos para mediar um acordo. Em escala no Canadá, no sábado, ele disse esperar negociações “muito construtivas”, mas voltou a questionar a real disposição de Moscou em buscar a paz. Segundo o presidente ucraniano, os ataques recentes contra alvos civis demonstram o contrário.

“A Rússia continua atormentando nossas cidades e nosso povo. Moscou rejeitou até mesmo as propostas de um cessar-fogo no Natal e está intensificando a brutalidade de seus ataques com mísseis e drones”, afirmou Zelensky em redes sociais, a caminho da Flórida. “Este é um sinal claro de como eles realmente encaram a diplomacia lá. Até agora, não com a seriedade necessária.”

Analistas ouvidos pela imprensa internacional avaliam que Putin, fortalecido por avanços graduais no campo de batalha, tende a manter exigências elevadas, como a cessão de territórios ucranianos e a redução das Forças Armadas da Ucrânia. No sábado, o Kremlin anunciou a tomada de mais duas cidades no leste ucraniano, Myrnograd e Guliaipole.

O próprio presidente russo endureceu o discurso. “Se as autoridades em Kiev não quiserem resolver este assunto pacificamente, resolveremos todos os problemas que temos pela frente por meios militares”, declarou Putin. Segundo a agência estatal Tass, ele afirmou ainda que “os líderes do regime de Kiev não têm pressa em resolver este conflito pacificamente”.

No mesmo dia, líderes da União Europeia, como Ursula von der Leyen e António Costa, reafirmaram a Zelensky que o apoio europeu à Ucrânia “não vacilará” e prometeram manter a pressão diplomática sobre Moscou. Em contrapartida, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, rejeitou a possibilidade de envio de forças de paz europeias para a Ucrânia. Para ele, tropas da UE seriam um “alvo legítimo” das Forças Armadas russas.

“Após a mudança de governo nos EUA, a Europa e a União Europeia se tornaram o principal obstáculo à paz”, acusou Lavrov. “Eles não escondem seus planos de se preparar para a guerra com a Rússia, as ambições dos políticos europeus estão literalmente cegando-os.”

Trump, por sua vez, tem adotado cautela pública em relação ao conteúdo final do plano. Em entrevista ao jornal Politico, afirmou que Zelensky “não tem nada até que eu aprove”. As negociações incluem a possibilidade de congelar a guerra ao longo das atuais linhas de frente e a criação de zonas desmilitarizadas, o que implicaria concessões territoriais por parte da Ucrânia, ainda que não contemple a retirada das forças ucranianas dos 20% da região de Donetsk que permanecem sob seu controle.

Zelensky tem buscado demonstrar alinhamento com a iniciativa do atual presidente dos Estados Unidos. Nos últimos dias, afirmou estar disposto a retirar tropas de áreas do Donbas controladas por Kiev para transformá-las em zonas desmilitarizadas, desde que a Rússia faça o mesmo em regiões equivalentes. Ele também sinalizou abertura para a realização de eleições gerais, desde que haja garantias de segurança.

Essas garantias, segundo Zelensky, são centrais nas conversas. “Elas devem ser simultâneas ao fim da guerra, porque precisamos ter certeza de que a Rússia não iniciará uma nova agressão”, disse no Canadá. “Precisamos de garantias de segurança sólidas. Discutiremos isso e discutiremos os termos.”

Enquanto a diplomacia avança, o conflito segue afetando a população civil. Um ataque recente com cerca de 500 drones e 40 mísseis deixou centenas de milhares de moradores de Kiev sem eletricidade e aquecimento em meio a temperaturas abaixo de zero. A empresa DTEK informou no domingo que o fornecimento foi restabelecido na capital. Já a administração militar de Kherson relatou novos ataques russos durante a madrugada, com interrupções no fornecimento de energia.

Artigos Relacionados