Antes de reunião com Zelensky, Trump diz que teve diálogo “muito produtivo” com Putin
A reunião entre Trump e Zelensky está marcada para este domingo, em Mar-a-Lago, na Flórida
247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter mantido uma conversa telefônica “muito boa e produtiva” com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poucas horas antes de um encontro decisivo com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. A reunião entre Trump e Zelensky está marcada para este domingo, em Mar-a-Lago, na Flórida, e ocorre em meio à intensificação da ofensiva russa e às tentativas diplomáticas para encerrar a guerra que já se arrasta há quase quatro anos. As informações são da Reuters.
Segundo o governo americano, o encontro entre Trump e Zelensky será o primeiro desde outubro e ocorre após semanas de pressão de Kiev por uma retomada mais intensa das negociações mediadas por Washington.
Zelensky chegou aos Estados Unidos após uma viagem ao Canadá, onde buscou reforçar o apoio político e militar de aliados ocidentais. O presidente ucraniano tenta obter garantias americanas para uma nova proposta de paz, estruturada em 20 pontos, elaborada conjuntamente por equipes de Washington e Kiev. O plano trata de temas sensíveis, como mecanismos de segurança para evitar novas agressões russas, o futuro da região de Donbass e o controle de uma usina nuclear atualmente sob ocupação russa.
Antes da reunião, Trump usou sua rede social Truth Social para relatar o contato com o Kremlin. “Acabei de ter uma conversa telefônica muito boa e produtiva com o presidente da Rússia, Putin”, escreveu o presidente dos Estados Unidos. O diálogo ocorre em um momento de tensão elevada, após um ataque russo de grandes proporções contra Kiev, com o uso de mísseis e drones, o que reforçou a urgência das tratativas diplomáticas.
A Ucrânia tem insistido que Moscou não demonstra compromisso real com a paz. Durante uma escala no Canadá, Zelensky afirmou esperar que as negociações na Flórida fossem “muito construtivas”, mas voltou a questionar as intenções do Kremlin. Em publicação nas redes sociais, enquanto se deslocava para os EUA, ele declarou: “A Rússia continua atormentando nossas cidades e nosso povo. Moscou rejeitou até mesmo as propostas de um cessar-fogo no Natal e está intensificando a brutalidade de seus ataques com mísseis e drones”. Em outra mensagem, completou: “Este é um sinal claro de como eles realmente encaram a diplomacia lá. Até agora, não com a seriedade necessária”.
Analistas internacionais avaliam que Vladimir Putin, respaldado por avanços graduais de suas forças no campo de batalha, tende a rejeitar a proposta atual de paz ou a prolongar as negociações. Entre as exigências russas estariam a cessão de territórios ucranianos e a redução significativa das forças armadas de Kiev. No sábado, o Kremlin anunciou a tomada de mais duas cidades no leste da Ucrânia, Myrnograd e Guliaipole, ampliando a pressão militar.
Putin deixou claro que não descarta uma solução militar caso as negociações fracassem. “Se as autoridades em Kiev não quiserem resolver este assunto pacificamente, resolveremos todos os problemas que temos pela frente por meios militares”, afirmou. Segundo a agência estatal TASS, o presidente russo também disse que “os líderes do regime de Kiev não têm pressa em resolver este conflito pacificamente”.
Após a reunião na Flórida, líderes dos Estados Unidos e da Ucrânia devem conversar com dirigentes europeus. O porta-voz de Zelensky informou que o presidente ucraniano já realizou uma videoconferência com autoridades da União Europeia enquanto estava no Canadá. De acordo com o chanceler alemão Friedrich Merz, os líderes europeus reafirmaram “total apoio” aos esforços de paz conduzidos por Kiev.
A União Europeia, representada por Ursula von der Leyen e Antonio Costa, garantiu que o apoio ao governo ucraniano permanecerá firme e que a pressão sobre Moscou continuará. Em contraposição, a Rússia acusou a Ucrânia e seus aliados europeus de tentar “sabotar” um plano anterior mediado pelos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou à TASS que Moscou seguirá em “engajamento com os negociadores americanos” e que pretende tratar das “causas profundas do conflito”, mas fez duras críticas à Europa. “Após a mudança de governo nos EUA, a Europa e a União Europeia se tornaram o principal obstáculo à paz”, acusou. Segundo ele, os líderes europeus “não escondem seus planos de se preparar para a guerra com a Rússia”.
Trump, por sua vez, tem adotado um discurso cauteloso sobre a nova proposta. Em entrevista ao jornal Politico, disse que Zelensky “não tem nada até que eu aprove”. O plano em discussão prevê a interrupção dos combates ao longo das atuais linhas de frente e a criação de zonas desmilitarizadas, o que poderia exigir a retirada de tropas ucranianas de áreas do leste. Ainda assim, não contempla a saída da Ucrânia de cerca de 20% da região de Donetsk que permanece sob controle de Kiev, ponto central das exigências russas.
O atual presidente dos Estados Unidos fez do fim das guerras na Ucrânia e em Gaza uma das principais bandeiras de seu segundo mandato, definindo-se como um “presidente da paz”. No entanto, ele próprio já reconheceu que o conflito ucraniano se mostrou mais complexo do que previa inicialmente.
Zelensky tem buscado demonstrar alinhamento com a iniciativa de Trump. Nos últimos dias, afirmou estar disposto a retirar tropas ucranianas de áreas de Donbas ainda sob controle de Kiev, desde que a Rússia faça o mesmo em territórios equivalentes. Também declarou abertura para a realização das primeiras eleições gerais na Ucrânia desde 2019, desde que haja garantias de segurança, uma exigência levantada por Moscou e apoiada por Trump.
As garantias de segurança, segundo Zelensky, serão um dos principais focos das negociações na Flórida. “Elas devem ser simultâneas ao fim da guerra, porque precisamos ter certeza de que a Rússia não iniciará uma nova agressão”, afirmou a jornalistas no Canadá. “Precisamos de garantias de segurança sólidas. Discutiremos isso e discutiremos os termos.”
Enquanto as negociações avançam, a situação humanitária segue crítica. Um ataque recente com cerca de 500 drones e 40 mísseis deixou centenas de milhares de moradores de Kiev sem eletricidade e aquecimento em meio a temperaturas negativas. A empresa DTEK informou que o fornecimento de energia foi posteriormente restabelecido na capital. Já na cidade de Kherson, no sul do país, autoridades locais relataram novos ataques russos que também provocaram cortes de eletricidade.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou um pacote de US$ 1,82 bilhão em assistência econômica para apoiar a reconstrução da Ucrânia após o fim da guerra, reforçando o envolvimento internacional em um conflito que segue sem solução imediata.



