Aliança amazônica impulsiona hidrovias e atrai novos investimentos
Iniciativa firmada durante a COP30 reforça prioridade ao transporte fluvial e pode destravar projetos estratégicos na região
247 - Grandes empresas de infraestrutura e logística veem com otimismo a criação da Aliança pelo Transporte Sustentável na Amazônia, articulada durante a COP30. A iniciativa, apoiada pelo BID e pelo Banco Mundial, reúne Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, com foco no fortalecimento de modais de baixo impacto ambiental, especialmente o hidroviário.
A informação foi divulgada pela Agência iNFRA, que destacou a expectativa do setor em relação à retomada de projetos essenciais, como as hidrovias dos rios Madeira, Tocantins e Tapajós. Esses empreendimentos enfrentam entraves que vão desde a ausência de modelagens financeiras até divergências técnicas e pressões socioambientais, somadas à necessidade de revisão de EVTEAs considerados defasados.
Nos bastidores, a assinatura da aliança reacendeu o debate sobre investimentos internacionais e metas de descarbonização. Para Ronei Glanzmann, CEO do MoveInfra, a articulação regional pode reposicionar a discussão sobre a matriz de transporte na Amazônia. “Há uma expectativa que essa aliança fortaleça o diálogo. Do lado brasileiro, ela traz à tona a questão das hidrovias, pois a construção de rodovias na região é algo muito dificultoso”, afirmou. Ele acrescentou que “hoje as rodovias respondem por 93% das emissões” e que metas de descarbonização passam pela expansão dos modais ferroviário e hidroviário.
O documento firmado na COP30 cita o transporte fluvial como prioridade de curto prazo, tanto na promoção de financiamento quanto na implementação de projetos. O Ministério de Portos e Aeroportos ressaltou, em resposta enviada à Agência iNFRA, que “a Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação, criada na atual gestão, está identificando as principais rotas que poderão receber investimentos, entre elas as dos rios Madeira, Solimões, Tapajós, Tocantins e Purus”.
O detalhamento das captações internacionais deve constar no Plano de Ação Regional 2026–2030, que vai concentrar os projetos estratégicos da aliança. O grupo ainda trabalha na estruturação de um plano de trabalho integrado.
Há também impactos no setor aeroportuário. O Ministério de Portos finaliza os preparativos para o leilão do Programa Ampliar, previsto para sexta-feira (27) na B3, em São Paulo, que ofertará 19 aeroportos regionais, nove deles no Norte.
Infraestrutura resiliente e cat bonds
Outro tema debatido na primeira semana da COP30 foi o financiamento de infraestrutura resiliente. O MoveInfra defendeu a adoção de cat bonds, títulos que funcionam como seguros no mercado de capitais para cobrir danos de eventos climáticos extremos. A proposta integra estudo elaborado pela Marsh McLennan e pela consultoria Oliver Wyman, que também sugere modernizações contratuais, como a inclusão de mapeamento de riscos ainda na fase de estudos de viabilidade das concessões.
Segundo Glanzmann, “esse estudo traz uma resposta ao aumento de custos que decorre da infraestrutura resiliente”. Ele alertou que concessões antigas foram estruturadas em um contexto climático distinto e que eventos extremos têm causado “descasamento enorme no fluxo de caixa”, afetando operações e exigindo reconstrução imediata.
Setor de transportes acumula perdas com eventos extremos
Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) indicam que 70,6% das empresas do setor registraram perdas financeiras causadas por fenômenos climáticos nos últimos cinco anos; quase um quarto delas sofreu prejuízos superiores a R$ 1 milhão. O modo rodoviário é o mais afetado: 84,5% das companhias relataram impactos diretos de chuvas intensas, enchentes e danos estruturais em pavimentos, pontes e túneis.
Desde 2024, uma portaria do Ministério dos Transportes determina que entre 1% e 2,5% da receita bruta dos contratos de concessão seja destinada obrigatoriamente a ações de adaptação climática. A ANTT colocou em consulta pública um Sandbox Regulatório que permitirá a apresentação de projetos aptos a receber esse incentivo.
Coalizão propõe metas para descarbonizar em até 68%
Também durante a COP30, foi apresentado o Estudo Coalizão dos Transportes pela Descarbonização, elaborado por 121 entidades do setor. O plano reúne 90 medidas que podem reduzir as emissões em até 68% nas próximas duas décadas, com foco na ampliação dos modais ferroviário, hidroviário e na cabotagem.
“Propomos investimentos direcionados à expansão de corredores ferroviários e hidroviários, modernização portuária e incentivo à intermodalidade, com integração física e tecnológica entre diferentes modais”, afirmou o presidente da CNT, Vander Costa. A estimativa é de que as ações atraiam cerca de R$ 600 bilhões.
A combinação entre diplomacia regional, pressão por sustentabilidade e urgência climática cria um ambiente favorável a uma guinada no transporte amazônico. O potencial de impacto é elevado tanto para a logística de cargas quanto para o atendimento das populações que dependem dos rios como principal via de mobilidade.



