Disciplina corporativa marca a temporada de balanços do 3º trimestre de 2025 no Brasil
Empresas reforçam gestão de caixa, eficiência e expansão seletiva em cenário ainda desafiador
247 - A mais recente temporada de resultados corporativos no Brasil, referente ao terceiro trimestre de 2025, revelou uma mudança clara de postura entre as maiores companhias do país. Como destacou o Brazil Stock Guide, responsável pela análise que deu origem às informações, o período foi marcado por gestores tentando demonstrar ao mercado que a fase mais turbulenta já ficou para trás.
A revisão de mais de 60 teleconferências de resultados permitiu identificar um padrão: menos discursos otimistas e mais foco em execução, disciplina financeira, eficiência e preservação de caixa. Setores caminham em ritmos diferentes, mas a tônica é semelhante — expansão só quando lastreada em balanços robustos.
Margens pressionadas e prudência setorial
Os bancos registraram lucros elevados, mas alertaram que 2026 tende a ser mais incerto que 2025. O varejo continua priorizando geração de caixa, enquanto segmentos industriais equilibram ciclos de investimento intenso com gestão rígida de liquidez. Empresas digitais, marketplaces e fintechs seguem crescendo, porém reforçam o controle de risco e a rentabilidade. No setor de energia e infraestrutura, eficiência e integração permanecem centrais para a criação de valor.
Já as companhias de petróleo, mineração e proteína observam ciclos globais longos, ora favoráveis, ora adversos. Em comum, todas apontam disciplina como palavra de ordem — resultado de anos marcados por volatilidade.
Raio-X das principais companhias
A seguir, os destaques da temporada, com sínteses editoriais do Brazil Stock Guide sobre a mensagem estratégica transmitida por cada empresa:
Água, saneamento e energia
- Aegea enfatizou que a prioridade é seguir reduzindo alavancagem após um ciclo pesado de concessões.
- Axia (ex-Eletrobras) destacou que, com o processo de redução de riscos concluído e ativos legados vendidos, inicia um novo ciclo focado em eficiência e expansão.
- CPFL busca equilibrar crescimento, dividendos e disciplina regulatória, reforçando previsibilidade.
- Eneva concentra-se na execução de projetos e na preservação de espaço no balanço para futuras oportunidades.
- Equatorial mantém foco na integração de aquisições e extração de eficiência.
- Isa Energia registrou forte tração com maior RAP, obras aceleradas e retornos estáveis.
- Neonergia avança com capex disciplinado e equilíbrio regulatório, expandindo ativos sem pressionar o endividamento.
- Taesa reforçou a previsibilidade de caixa como sua maior fortaleza.
Finanças, seguros e serviços digitais
- BB Seguridade comemorou o maior lucro recorrente de sua história.
- BTG Pactual registrou receitas recordes sustentadas pela diversificação.
- Banco Inter acentuou o crescimento lucrativo, sem elevar riscos.
- Banco do Brasil reiterou compromisso com o agronegócio, mesmo diante de inadimplência elevada no setor.
- Bradesco afirmou que seus resultados refletem a execução do plano de transformação.
- Itaú Unibanco apresentou desempenho forte, embora reconheça incertezas para 2026.
- Nubank continua combinando forte expansão com disciplina de crédito.
- PagBank ampliou clientes e TPV, migrando de um modelo centrado em POS para um ecossistema financeiro mais abrangente.
- Porto Seguro mantém uma sequência histórica de lucros elevados.
- Santander reforçou prioridades de rentabilidade, seletividade e eficiência.
Indústria, tecnologia e infraestrutura
- Braskem enfrenta um ciclo difícil, com EBITDA deprimido e alavancagem elevada, concentrando esforços em preservação de liquidez.
- CSN prioriza redução de custos e melhora da qualidade do minério diante da competição acirrada.
- Embraer celebrou carteira recorde, com aumento de margens mesmo em ambiente desafiador.
- Gerdau contou novamente com o bom desempenho da América do Norte para compensar um ciclo doméstico mais fraco.
- Klabin destacou que, sem as paradas de manutenção, o EBITDA teria crescido 8%, e que o ciclo de investimentos está próximo do fim.
- Marcopolo viu operações internacionais impulsionarem resultados, compensando a desaceleração doméstica.
- Motiva mantém foco na execução de seu corredor logístico e na monetização de ativos contratados.
- Ultrapar registrou forte alta no EBITDA recorrente, com destaque para Hidrovias.
- Usiminas trabalha para recompor margens, pressionadas por impairment e pelo aço importado.
- WEG equilibra crescimento em automação, motores e soluções digitais com alocação disciplinada de capital.
Petróleo, gás e mineração
- Brava mantém atenção na execução de projetos e na captura de valor em campos em desenvolvimento.
- Petrobras busca equilibrar investimentos, dividendos e transição energética, defendendo previsibilidade.
- Prio segue com forte eficiência operacional e expansão em campos maduros.
- Vale avança em segurança, qualidade do minério e retorno ao acionista, com ênfase na disciplina de capital.
Varejo, moda e consumo
- C&A registrou forte expansão de margens e geração de caixa com a estratégia Energia, além de avanço em NPS e beleza.
- Casas Bahia prioriza saúde financeira e lucratividade, trocando crescimento de GMV por disciplina operacional.
- GPA acelerou o e-commerce com ganhos de eficiência.
- Magalu respondeu a um trimestre pressionado com reorganização de estoques e foco em tecnologia e disciplina comercial.
- Mercado Livre manteve crescimento robusto de receita e lucro, impulsionado pelo ecossistema integrado.
- Renner trabalha para equilibrar expansão física e digital com ganhos de rentabilidade.
- Riachuelo segue reorganizando processos internos e fortalecendo a produção própria.
Saúde, educação e serviços
- Cruzeiro do Sul cresceu com maior captação e rígido controle de inadimplência.
- Fleury aposta em crescimento orgânico e aquisições, sustentado por geração estável de caixa.
- Hapvida enfrentou um trimestre desafiador, com ajustes imediatos após pressões de margens, mas reforçou resiliência no portfólio premium.
- Qualicorp sinalizou que o modelo de adesão em grupo é sua base mais adequada.
- RD Saúde vem impulsionando resultados por meio de medicamentos de alto custo e serviços de saúde.
- Rede D’Or apresentou forte desempenho, com aceleração de receita, EBITDA e oncologia.
Mobilidade, aviação e logística
- Localiza segue entregando ROIC acima do custo de capital, apoiada em escala, dados e disciplina de frota.
- Gol afirmou que seu processo no Chapter 11 só foi possível pela disciplina extrema; agora busca consistência operacional.
- JSL mantém ritmo de crescimento acima de 20%, com consolidação setorial.
- Movida aumenta ROIC e reduz alavancagem, com reorganização de frota e ocupação elevada.
- Marcopolo reforçou a importância das exportações e dos avanços em ônibus elétricos.
Proteína animal
- JBS destacou que a diversificação global suaviza ciclos e sustenta retornos aos acionistas.
- MBRF alcançou seu maior EBITDA consolidado do ano, com avanços em integração e racionalização de portfólio.
- Minerva relatou EBITDA recorde e menor alavancagem, embora considere o mercado ainda reticente em precificar a virada.
Imobiliário e construção
- Cury foi reconhecida pelo mercado por sua capacidade de crescimento consistente.
- MRV migrou para produtos mais rentáveis, com geração de caixa no centro das decisões.
Um retrato de disciplina e reconstrução
Do saneamento ao varejo, da energia às empresas digitais, o mapa corporativo do 3º trimestre de 2025 mostra líderes empresariais determinados a comprovar consistência, proteger margens e preservar caixa. Enquanto alguns setores enfrentam ciclos adversos, outros avançam para fases de colheita. Em comum, prevalece a busca por eficiência, previsibilidade e expansão seletiva amparada por balanços mais fortes — um sinal de que a travessia rumo a um ambiente mais estável ainda está em curso.



