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Disciplina corporativa marca a temporada de balanços do 3º trimestre de 2025 no Brasil

Empresas reforçam gestão de caixa, eficiência e expansão seletiva em cenário ainda desafiador

Moedas de reais - 15/10/2010 (Foto: REUTERS/Bruno Domingos)

247 - A mais recente temporada de resultados corporativos no Brasil, referente ao terceiro trimestre de 2025, revelou uma mudança clara de postura entre as maiores companhias do país. Como destacou o Brazil Stock Guide, responsável pela análise que deu origem às informações, o período foi marcado por gestores tentando demonstrar ao mercado que a fase mais turbulenta já ficou para trás.

A revisão de mais de 60 teleconferências de resultados permitiu identificar um padrão: menos discursos otimistas e mais foco em execução, disciplina financeira, eficiência e preservação de caixa. Setores caminham em ritmos diferentes, mas a tônica é semelhante — expansão só quando lastreada em balanços robustos.

Margens pressionadas e prudência setorial

Os bancos registraram lucros elevados, mas alertaram que 2026 tende a ser mais incerto que 2025. O varejo continua priorizando geração de caixa, enquanto segmentos industriais equilibram ciclos de investimento intenso com gestão rígida de liquidez. Empresas digitais, marketplaces e fintechs seguem crescendo, porém reforçam o controle de risco e a rentabilidade. No setor de energia e infraestrutura, eficiência e integração permanecem centrais para a criação de valor.

Já as companhias de petróleo, mineração e proteína observam ciclos globais longos, ora favoráveis, ora adversos. Em comum, todas apontam disciplina como palavra de ordem — resultado de anos marcados por volatilidade.

Raio-X das principais companhias

A seguir, os destaques da temporada, com sínteses editoriais do Brazil Stock Guide sobre a mensagem estratégica transmitida por cada empresa:

Água, saneamento e energia

  • Aegea enfatizou que a prioridade é seguir reduzindo alavancagem após um ciclo pesado de concessões.
  • Axia (ex-Eletrobras) destacou que, com o processo de redução de riscos concluído e ativos legados vendidos, inicia um novo ciclo focado em eficiência e expansão.
  • CPFL busca equilibrar crescimento, dividendos e disciplina regulatória, reforçando previsibilidade.
  • Eneva concentra-se na execução de projetos e na preservação de espaço no balanço para futuras oportunidades.
  • Equatorial mantém foco na integração de aquisições e extração de eficiência.
  • Isa Energia registrou forte tração com maior RAP, obras aceleradas e retornos estáveis.
  • Neonergia avança com capex disciplinado e equilíbrio regulatório, expandindo ativos sem pressionar o endividamento.
  • Taesa reforçou a previsibilidade de caixa como sua maior fortaleza.

Finanças, seguros e serviços digitais

  • BB Seguridade comemorou o maior lucro recorrente de sua história.
  • BTG Pactual registrou receitas recordes sustentadas pela diversificação.
  • Banco Inter acentuou o crescimento lucrativo, sem elevar riscos.
  • Banco do Brasil reiterou compromisso com o agronegócio, mesmo diante de inadimplência elevada no setor.
  • Bradesco afirmou que seus resultados refletem a execução do plano de transformação.
  • Itaú Unibanco apresentou desempenho forte, embora reconheça incertezas para 2026.
  • Nubank continua combinando forte expansão com disciplina de crédito.
  • PagBank ampliou clientes e TPV, migrando de um modelo centrado em POS para um ecossistema financeiro mais abrangente.
  • Porto Seguro mantém uma sequência histórica de lucros elevados.
  • Santander reforçou prioridades de rentabilidade, seletividade e eficiência.

Indústria, tecnologia e infraestrutura

  • Braskem enfrenta um ciclo difícil, com EBITDA deprimido e alavancagem elevada, concentrando esforços em preservação de liquidez.
  • CSN prioriza redução de custos e melhora da qualidade do minério diante da competição acirrada.
  • Embraer celebrou carteira recorde, com aumento de margens mesmo em ambiente desafiador.
  • Gerdau contou novamente com o bom desempenho da América do Norte para compensar um ciclo doméstico mais fraco.
  • Klabin destacou que, sem as paradas de manutenção, o EBITDA teria crescido 8%, e que o ciclo de investimentos está próximo do fim.
  • Marcopolo viu operações internacionais impulsionarem resultados, compensando a desaceleração doméstica.
  • Motiva mantém foco na execução de seu corredor logístico e na monetização de ativos contratados.
  • Ultrapar registrou forte alta no EBITDA recorrente, com destaque para Hidrovias.
  • Usiminas trabalha para recompor margens, pressionadas por impairment e pelo aço importado.
  • WEG equilibra crescimento em automação, motores e soluções digitais com alocação disciplinada de capital.

Petróleo, gás e mineração

  • Brava mantém atenção na execução de projetos e na captura de valor em campos em desenvolvimento.
  • Petrobras busca equilibrar investimentos, dividendos e transição energética, defendendo previsibilidade.
  • Prio segue com forte eficiência operacional e expansão em campos maduros.
  • Vale avança em segurança, qualidade do minério e retorno ao acionista, com ênfase na disciplina de capital.

Varejo, moda e consumo

  • C&A registrou forte expansão de margens e geração de caixa com a estratégia Energia, além de avanço em NPS e beleza.
  • Casas Bahia prioriza saúde financeira e lucratividade, trocando crescimento de GMV por disciplina operacional.
  • GPA acelerou o e-commerce com ganhos de eficiência.
  • Magalu respondeu a um trimestre pressionado com reorganização de estoques e foco em tecnologia e disciplina comercial.
  • Mercado Livre manteve crescimento robusto de receita e lucro, impulsionado pelo ecossistema integrado.
  • Renner trabalha para equilibrar expansão física e digital com ganhos de rentabilidade.
  • Riachuelo segue reorganizando processos internos e fortalecendo a produção própria.

Saúde, educação e serviços

  • Cruzeiro do Sul cresceu com maior captação e rígido controle de inadimplência.
  • Fleury aposta em crescimento orgânico e aquisições, sustentado por geração estável de caixa.
  • Hapvida enfrentou um trimestre desafiador, com ajustes imediatos após pressões de margens, mas reforçou resiliência no portfólio premium.
  • Qualicorp sinalizou que o modelo de adesão em grupo é sua base mais adequada.
  • RD Saúde vem impulsionando resultados por meio de medicamentos de alto custo e serviços de saúde.
  • Rede D’Or apresentou forte desempenho, com aceleração de receita, EBITDA e oncologia.

Mobilidade, aviação e logística

  • Localiza segue entregando ROIC acima do custo de capital, apoiada em escala, dados e disciplina de frota.
  • Gol afirmou que seu processo no Chapter 11 só foi possível pela disciplina extrema; agora busca consistência operacional.
  • JSL mantém ritmo de crescimento acima de 20%, com consolidação setorial.
  • Movida aumenta ROIC e reduz alavancagem, com reorganização de frota e ocupação elevada.
  • Marcopolo reforçou a importância das exportações e dos avanços em ônibus elétricos.

Proteína animal

  • JBS destacou que a diversificação global suaviza ciclos e sustenta retornos aos acionistas.
  • MBRF alcançou seu maior EBITDA consolidado do ano, com avanços em integração e racionalização de portfólio.
  • Minerva relatou EBITDA recorde e menor alavancagem, embora considere o mercado ainda reticente em precificar a virada.

Imobiliário e construção

  • Cury foi reconhecida pelo mercado por sua capacidade de crescimento consistente.
  • MRV migrou para produtos mais rentáveis, com geração de caixa no centro das decisões.

Um retrato de disciplina e reconstrução

Do saneamento ao varejo, da energia às empresas digitais, o mapa corporativo do 3º trimestre de 2025 mostra líderes empresariais determinados a comprovar consistência, proteger margens e preservar caixa. Enquanto alguns setores enfrentam ciclos adversos, outros avançam para fases de colheita. Em comum, prevalece a busca por eficiência, previsibilidade e expansão seletiva amparada por balanços mais fortes — um sinal de que a travessia rumo a um ambiente mais estável ainda está em curso.

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