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Ambipar aprova plano de recuperação judicial e reforça que crise é financeira, não operacional

Conselho autoriza envio do plano à Justiça do Rio, com reestruturação de dívidas, preservação das operações e manutenção de empregos

Ambipar aprova plano de recuperação judicial e reforça que crise é financeira, não operacional (Foto: Ambipar)

247 – O conselho de administração da Ambipar (AMBP3) aprovou os termos e condições do Plano de Recuperação Judicial do grupo e autorizou o envio da proposta ao Judiciário, segundo informou a empresa em fato relevante divulgado na sexta-feira (19). O plano já foi protocolado na 3ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro e abrange a Ambipar e suas empresas coligadas, incluindo a Environmental ESG Participações.

As informações constam de reportagem publicada pelo Brazil Stock Guide, que detalha o conteúdo do plano e os fundamentos apresentados pela companhia para sustentar a viabilidade do grupo após a reestruturação financeira.

De acordo com a Ambipar, o plano estabelece uma ampla reformulação da estrutura financeira, corporativa e contratual, com o objetivo de superar o atual estresse financeiro, preservar a continuidade dos negócios, garantir a prestação regular dos serviços ambientais e proteger os postos de trabalho. A empresa ressalta que a proposta ainda pode sofrer ajustes antes da assembleia geral de credores, em função das negociações com as partes envolvidas.

Um ponto central do plano é o diagnóstico explícito de que a crise enfrentada pelo grupo é de natureza financeira, e não operacional. Segundo a administração e os relatórios econômico-financeiros anexados ao pedido, o desequilíbrio decorreu principalmente da estruturação de dívidas no exterior e de operações com derivativos cambiais, e não de perda de mercado, queda de demanda ou falhas de execução.

O documento atribui a origem do problema às duas emissões internacionais de bonds — US$ 750 milhões em 2024, com vencimento em 2031, e US$ 493 milhões em 2025, com vencimento em 2033 — e à estrutura de hedge cambial associada, decisões tomadas durante a gestão do então diretor financeiro João Arruda. Com a deterioração das condições de crédito, essas operações passaram a gerar chamadas de margem e expuseram o grupo ao risco de mais de R$ 10 bilhões em vencimentos antecipados, acionados por cláusulas de vencimento cruzado.

Medidas emergenciais

Esse cenário levou a empresa a adotar medidas emergenciais antes do pedido de recuperação judicial, incluindo uma injeção de aproximadamente R$ 60 milhões em caixa vinculada a operações de swap e a liquidação antecipada de cerca de US$ 120 milhões em obrigações financeiras, o que pressionou ainda mais a liquidez.

O plano prevê tratamento diferenciado para cada classe de credores. Créditos trabalhistas seguem as regras legais de prioridade, enquanto credores financeiros, quirografários, fornecedores e credores estratégicos estão sujeitos a combinações de alongamento de prazos, períodos de carência, descontos nominais, novação de dívidas e novos cronogramas de pagamento. A proposta também introduz a figura do “credor colaborador”, que poderá ter condições mais favoráveis, e admite a conversão de dívida em capital, com redução da alavancagem financeira.

No campo societário, o plano autoriza uma reorganização ampla, que inclui fusões, cisões, incorporações, encerramento de subsidiárias e venda de ativos não estratégicos e participações societárias. O objetivo declarado é simplificar a estrutura do grupo, concentrar recursos nas operações centrais e gerar liquidez adicional ao longo do processo de recuperação.

Escala global

Apesar das dificuldades financeiras, a Ambipar destaca a preservação de sua escala operacional. O grupo mantém atividades em mais de 40 países, com contratos recorrentes nas áreas de gestão de resíduos, atendimento a emergências ambientais e serviços industriais, atendendo uma base diversificada de clientes. Das empresas sob controle comum, 74 foram incluídas no perímetro da recuperação judicial, enquanto outras ficaram fora do processo, o que evidencia o caráter seletivo da reestruturação.

Os relatórios econômico-financeiros anexados ao plano concluem que, uma vez ajustada a estrutura de capital, o grupo é financeiramente viável. As projeções indicam que, após a eliminação da pressão causada por vencimentos antecipados e chamadas de margem, a Ambipar deverá voltar a gerar fluxo de caixa operacional positivo, suficiente para sustentar as operações, preservar empregos e honrar as obrigações reestruturadas ao longo do tempo.

Para investidores e credores, a mensagem central do pedido é que a recuperação judicial foi concebida como um instrumento de normalização financeira, e não como um resgate de um negócio estruturalmente inviável. O desfecho do processo dependerá agora do apoio dos credores e da execução disciplinada do plano, mas, segundo os próprios números e premissas apresentados, a base operacional da companhia permanece intacta.

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