Itaú acelera transformação digital e amplia foco popular, aponta CEO
Banco aposta em tecnologia e eficiência para competir com fintechs e crescer entre consumidores de menor poder aquisitivo
247 - O Itaú Unibanco iniciou uma ofensiva no segmento popular no Brasil, território tradicionalmente dominado por fintechs. A estratégia faz parte de uma ampla transformação digital voltada à expansão da base de clientes e à redução de custos operacionais. As declarações foram feitas pelo presidente-executivo do banco, Milton Maluhy Filho, durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2025.
De acordo com informações do Brazil Stock Guide, Maluhy afirmou que o Itaú “nunca abandonou esse público”, mas agora possui a tecnologia e a escala necessárias para atendê-lo com rentabilidade. “Com um custo menor para servir, clientes que antes não eram foco agora passam a ser”, explicou. Segundo ele, o novo modelo se apoia em uma década de modernização digital, que inclui desde a arquitetura modular até o Super App — plataforma que reúne serviços de crédito, investimentos e seguros em um único ecossistema.
Digitalização e eficiência operacional
O executivo destacou que a digitalização total permite ao banco oferecer produtos “com custos operacionais muito mais baixos”, tornando-o competitivo frente às fintechs e mantendo a rentabilidade. “A escala não depende mais da capacidade do mainframe — depende da inteligência da plataforma”, disse Maluhy. O uso intensivo de análise de dados e modelos de risco, segundo ele, permite ampliar o crédito de forma responsável e sustentável: “Clientes que antes não eram economicamente viáveis agora podem ser atendidos com eficiência.”
Com essa virada tecnológica, o Itaú busca disputar espaço diretamente em segmentos como empréstimos pessoais e cartões de crédito, aproveitando uma estrutura de custos mais enxuta e margens ajustadas ao risco. “Quando o atendimento é totalmente digital, deixamos de carregar o custo da rede física — e isso muda o jogo”, afirmou.
Disciplina estratégica e solidez financeira
Questionado por analistas sobre as perspectivas para 2026, Maluhy assegurou que o banco entrará no novo ano “com um balanço extremamente robusto, fortes provisões e altos níveis de capital”. Sem antecipar projeções, ressaltou a previsibilidade da instituição: “O guidance não é escrito em pedra — é a melhor informação disponível naquele momento.”
O executivo também destacou a agilidade conquistada com a modernização: “Hoje reagimos em um dia. A tomada de decisão é instantânea, e a execução acontece imediatamente.”
Apoio a pequenas empresas e programas públicos
Maluhy destacou ainda a força do crédito a pequenas e médias empresas, especialmente por meio de programas como Pronampe e FGI, que oferecem garantias de primeira perda. “São algumas das alocações de capital mais eficientes — multiplicam o alcance para milhares de pequenos negócios”, disse. Ele ressaltou que, embora o Itaú participe dessas iniciativas, sua operação de PME é autossustentável.
Juros altos e pressão regulatória
Questionado sobre o impacto dos juros elevados, Maluhy respondeu de forma cautelosa às críticas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que apontou lentidão dos bancos em repassar cortes da Selic aos clientes. O executivo defendeu a política de preços baseada em risco: “É difícil ter convicções absolutas em um cenário de incerteza.” Mesmo com os juros altos por mais tempo, afirmou que o banco mantém “enorme flexibilidade para reagir e crescer com qualidade”.
Em referência à possível queda estrutural dos juros em 2026, completou: “Nossa capacidade de equilibrar o balanço e crescer em linhas que se beneficiam de juros menores reequilibra a equação.”
Maluhy também observou que os tetos regulatórios em empréstimos consignados e cartões de crédito comprimem as margens e limitam a flexibilidade de preços. “Gerar margem financeira não é difícil — o desafio é fazê-lo com qualidade e nos segmentos certos”, afirmou.
Margens, rentabilidade e capital
O presidente do Itaú esclareceu que o pico de margem líquida de juros (NIM) observado no trimestre anterior foi um “ponto fora da curva”, impulsionado por efeitos sazonais e operações no atacado. Disse ainda que o banco deve encerrar 2025 com crescimento de cerca de 12,5% na margem de juros, mantendo retorno sobre o investimento (ROI) consolidado próximo de 27% no Brasil.
Sobre a política de capital, reafirmou a meta de manter o índice CET1 acima de 12% e disse que o Itaú poderá antecipar a distribuição de dividendos caso avance a proposta de tributação sobre lucros. “Cumpriremos nosso dever fiduciário e comunicaremos imediatamente qualquer decisão do conselho”, declarou.
“Modo ataque” e foco em eficiência
Encerrando a coletiva, Maluhy afirmou que o banco atua em “modo ataque, não defesa”, buscando reduzir custos de atendimento e acelerar a digitalização. “Eficiência não é força bruta — é inteligência, tecnologia e execução disciplinada”, disse. A transformação operacional é conduzida pelo vice-presidente Gabriel Moura, responsável por redesenhar o modelo de atendimento e integrar a análise de dados em todas as decisões.
“O plano já está em execução — e os resultados aparecem em rentabilidade e velocidade de resposta”, concluiu Maluhy.


