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Mercado já aposta em possíveis sucessores da Enel São Paulo em meio a ameaça de caducidade

Âmbar Energia, Equatorial e CPFL surgem como candidatas em cenário de troca de controle da maior concessão de distribuição da América Latina

Ilustração com o logo da Enel (Foto: Reuters/Dado Ruvic)

247 – Após o governo federal sinalizar de forma mais assertiva a possibilidade de iniciar um processo de caducidade do contrato de concessão da Enel São Paulo, o mercado passou a especular sobre quais empresas poderiam assumir a operação da distribuidora em um eventual rearranjo de controle. As informações foram publicadas pelo jornal Valor Econômico, que ouviu fontes do setor elétrico sobre os bastidores da disputa.

Entre os nomes citados como possíveis candidatos estão a Âmbar Energia, braço do grupo J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a Equatorial Energia e a CPFL Energia. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a caducidade é vista como um caminho mais demorado e sujeito a disputas judiciais, enquanto uma troca de operadora seria considerada uma alternativa mais simples do ponto de vista prático.

A concessão da Enel São Paulo é considerada uma das mais complexas do país. A distribuidora atende 24 municípios da região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, abrangendo cerca de 8,5 milhões de imóveis. O contrato vai até 2028 e a operação é classificada como a maior concessão de distribuição de energia da América Latina, com alta densidade populacional e elevada geração de caixa.

A pressão sobre a empresa aumentou após um novo apagão de grandes proporções. Na semana passada, mais de 2,2 milhões de imóveis ficaram sem energia elétrica depois que ventos superiores a 100 quilômetros por hora atingiram a região metropolitana. Foi o terceiro ano consecutivo em que eventos climáticos extremos provocaram interrupções severas no fornecimento, reacendendo críticas à demora na recomposição do serviço.

Em nota, a Enel afirmou que cumpriu “de forma integral os indicadores regulatórios” e que apresentou “avanços consistentes” em todos os índices de qualidade do serviço, conforme fiscalizações recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A empresa também destacou que a Grande São Paulo está cada vez mais exposta a eventos meteorológicos extremos em razão das mudanças climáticas.

“A Enel Brasil reafirma sua confiança no sistema jurídico e regulatório brasileiro para garantir segurança e estabilidade aos investidores com compromissos de longo prazo no país”, afirmou a companhia, acrescentando que a avaliação da Aneel deve ocorrer “em um ambiente técnico adequado para garantir que as necessidades da população sejam efetivamente priorizadas”.

Perfis das empresas citadas

A Âmbar Energia é vista como uma candidata com forte capacidade financeira e experiência recente na gestão de ativos complexos. A empresa assumiu as distribuidoras Amazonas Energia e Roraima Energia e tem ampliado sua presença no setor de geração. As aquisições mais recentes incluem uma participação minoritária na Eletronuclear e a usina térmica a gás Norte Fluminense. Por outro lado, fontes apontam que a ausência de histórico relevante em grandes centros urbanos pode pesar em uma eventual análise regulatória. Procurada, a Âmbar informou que não comentará o tema.

A Equatorial Energia aparece como outro nome relevante. Reconhecida pela forte expertise operacional em distribuição, a companhia construiu reputação na recuperação de concessões problemáticas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Além disso, é acionista da Sabesp, o que poderia gerar sinergias entre os serviços, segundo fontes do setor. No entanto, a empresa está mais alavancada após a recente aquisição de participação na concessionária paulista de saneamento. Dados do balanço do terceiro trimestre indicam uma alavancagem de 3,3 vezes. A Equatorial não respondeu até o fechamento da reportagem.

Já a CPFL Energia é considerada por muitos analistas como a candidata mais óbvia em um eventual rearranjo. A empresa já atua no Estado de São Paulo, possui estrutura operacional instalada, apresenta baixa alavancagem e conta com o respaldo financeiro da State Grid, grupo chinês que controla a companhia. Além disso, a CPFL já demonstrou interesse em ativos da Enel no passado, ao tentar adquirir a Enel Ceará, antiga Coelce. Procurada, a CPFL afirmou que não comenta especulações de mercado.

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