Governo deve buscar perfil mais combativo para substituir Lewandowski no Ministério da Justiça
Aliados de Lula avaliam que segurança pública será tema central em 2026 e defendem ministro mais aguerrido para disputar a pauta com a direita
247 – A saída do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, do cargo já foi pactuada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após uma conversa recente em que o ministro relatou ao chefe do Executivo o desejo de deixar a função. Segundo a apuração, Lula disse que compreendia a vontade de Lewandowski e afirmou que pensaria em um substituto.
As informações foram publicadas pela Folha de S.Paulo, que aponta que o governo já vem percebendo, há meses, sinais de cansaço do ministro. Apesar disso, a troca não deve ocorrer de forma imediata. Como informou a colunista Mônica Bergamo, Lewandowski deve deixar o cargo nas primeiras semanas de 2026.
Saída pode depender de PEC da segurança pública
Dentro do Palácio do Planalto, parte da cúpula governista avalia que a mudança pode ser postergada até a aprovação da PEC que reorganiza atribuições de União e estados na segurança pública. Essa é a hipótese mais forte no entorno do atual ministro, mas ainda não há previsão para a votação do texto no Congresso, o que deixa o calendário indefinido.
A discussão sobre a sucessão de Lewandowski ganhou contornos ainda mais estratégicos diante de uma possibilidade em análise: a divisão da atual estrutura em dois ministérios, um voltado à Justiça e outro especificamente à Segurança Pública. Hoje, as duas áreas estão sob comando de Lewandowski.
Aliados pressionam por “perfil combativo” para enfrentar a direita
Nos bastidores, aliados do presidente defendem uma mudança no perfil do próximo titular. A avaliação desses setores é que o governo precisa colocar em posição de destaque alguém com perfil combativo, capaz de disputar a agenda da segurança pública com a direita — força política que tradicionalmente domina o tema no debate nacional e costuma usá-lo como arma eleitoral contra Lula.
Esse diagnóstico é reforçado pelo fato de 2026 ser ano eleitoral. Entre lideranças políticas, já existe consenso de que a segurança pública deverá ser um dos principais temas da disputa presidencial, cenário que favorece adversários de Lula, especialmente nomes ligados ao discurso “linha-dura”.
Governo quer reivindicar operações de impacto contra o crime
Para os que defendem um ministro mais aguerrido, o governo federal vem conduzindo ações de impacto no enfrentamento ao crime organizado, com operações contra lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, como a Carbono Oculto, mas não tem conseguido transformar essas ações em capital político na disputa pela opinião pública.
A leitura é que a gestão Lula precisa reivindicar de forma mais veemente o mérito dessas operações e enfrentar a narrativa de que a direita teria “monopólio” sobre o combate ao crime.
Contraste com Flávio Dino e mudança de foco do eleitorado
A comparação com o início do atual governo ajuda a explicar a mudança. No primeiro ano de gestão, a função de embate político cabia a Flávio Dino, então ministro da Justiça e hoje ministro do STF. Já quando Lula escolheu Lewandowski para a pasta, em janeiro de 2024, optou por um perfil mais discreto.
À época, a avaliação no governo era de que o principal problema a ser enfrentado era econômico e que não havia necessidade de protagonismo do Ministério da Justiça. Agora, porém, a percepção é de que o foco do eleitorado migrou para a segurança pública, exigindo uma postura mais ativa do Planalto na disputa narrativa.
Negociações políticas podem influenciar escolha
Além das pressões sobre o perfil do substituto, a definição também pode ser atravessada por negociações políticas mais amplas. A montagem de alianças para 2026 e articulações sobre a composição de um eventual novo governo Lula podem influenciar diretamente quem assumirá a cadeira hoje ocupada por Lewandowski.
O próprio calendário do presidente pode retardar anúncios. Lula viajou para passar o Natal com a família em São Paulo e deve passar a virada do ano na Restinga da Marambaia, área militar no litoral do Rio de Janeiro. O presidente só retorna a Brasília em 2026.
Nomes especulados e obstáculos no caminho
Mesmo com Lula ainda sem sinalizar uma escolha, alguns nomes já circulam como possíveis substitutos:
Manoel Carlos de Almeida Neto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, aparece entre os citados. Governistas, porém, observam que ele tem perfil mais técnico do que político e que nem sequer vem se movimentando para assumir o comando da pasta.
Outro nome lembrado é o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No entanto, ele já teria dito a aliados que não pretende assumir nenhum posto no governo. Pacheco foi preterido por Lula na escolha para uma vaga aberta no STF.
Também é mencionado Jorge Messias, advogado-geral da União, mas essa hipótese esbarra em outro fator: Lula teria de recuar na indicação de Messias ao Supremo, algo considerado improvável. O presidente foi pressionado pelo Senado para rever a escolha, mas não deu sinais de que faria isso e reiterou a indicação sempre que questionado. Segundo a apuração, Lula sustenta que nomeações ao STF são prerrogativa da Presidência e não devem sofrer interferência externa — o que tornaria um recuo incompatível com sua posição.
As fontes ouvidas destacam que não houve qualquer sinal claro de Lula sobre o assunto e que ele pode optar por outro nome –inclusive alguém fora do trio especulado. Um fator, contudo, é apontado como contradição central: todos os citados têm perfil discreto, justamente o oposto do que setores do governo desejam para enfrentar a agenda de segurança pública em 2026.


