Lula tende a ficar fora da crise do Banco Master, mesmo com apoio a Galípolo
Aliados dizem que presidente evita se envolver no caso Daniel Vorcaro e citam autonomia do Banco Central e investigação no STF
247 – Aliados do presidente Lula avaliam que ele deve manter distância do escândalo que envolve o ex-banqueiro Daniel Vorcaro e o Banco Master, evitando qualquer manifestação pública ou tentativa de interferência no caso. A leitura, segundo relato publicado pela Folha de S.Paulo, é que o episódio não deve ser tratado como pauta direta do governo, já que envolve a autonomia do Banco Central e um processo em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com esses interlocutores, Lula tem apreço pessoal pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e apoia medidas saneadoras voltadas à estabilidade econômica, mas ainda assim é aconselhado a não se envolver diretamente. Um dos fatores apontados para essa cautela é o fato de o caso já estar judicializado e sob análise do STF, o que elevaria o risco de contaminação política e desgaste institucional.
Outro elemento que pesa nesse aconselhamento é a controvérsia gerada pela contratação, pelo Banco Master, de um escritório ligado a familiares do ministro Alexandre de Moraes por R$ 3,6 milhões mensais, para atuar na defesa dos interesses da instituição. A informação, revelada pelo jornal O Globo, provocou debate público sobre potenciais conflitos de interesse e ampliou a sensibilidade do tema, reforçando a avaliação de que o presidente não deveria se aproximar do assunto.
Essa postura, porém, não é consensual dentro do governo. Integrantes da equipe econômica divergem da cautela defendida por parte do entorno presidencial. Para eles, os valores atribuídos à fraude envolvendo o Master são tão expressivos que a liquidação do banco deveria ser defendida de forma enfática, como sinal de rigor regulatório e proteção do sistema financeiro.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou uma linha institucional ao comentar o caso no dia em que a liquidação foi decretada. Ele afirmou que o ministério está pronto para colaborar com o Banco Central, mas ressaltou que não faria comentários sobre a decisão por se tratar de tema delicado e sob responsabilidade da autoridade monetária.
“O Banco Central é o regulador do sistema financeiro e eu tenho certeza que, para ter chegado a esse ponto, todo o processo deve estar muito robusto”, afirmou o ministro. “O que cabe à Fazenda é dar suporte para as consequências desse ato [e], se houver [necessidade], nós estamos aqui prontos para colaborar.”
A crise do Banco Master ganhou novos desdobramentos com a previsão de depoimentos na Polícia Federal, nesta terça-feira (30), do próprio Daniel Vorcaro e do ex-presidente do BRB (Banco de Brasília), Paulo Henrique Costa, no contexto da tentativa frustrada de venda do banco. Embora não seja investigado no inquérito, a PF também deve ouvir o diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino. Após essa etapa, será avaliada a possibilidade de acareação entre os envolvidos.
A audiência foi determinada pelo ministro Dias Toffoli, do STF. O processo é sigiloso, e, desde o começo de dezembro, diligências e medidas relacionadas à investigação do Master e de Vorcaro passaram a depender do crivo de Toffoli, por decisão do próprio magistrado. Esse controle reforça o argumento do entorno presidencial de que se trata de um caso de alta sensibilidade institucional, com risco político elevado.
A liquidação do Banco Master foi decretada em 18 de novembro, após Vorcaro comunicar ao Banco Central que teria um plano de reestruturação e que havia encontrado um comprador: a Fictor, empresa pouco conhecida no setor financeiro, supostamente em conjunto com investidores dos Emirados Árabes cuja identidade não foi revelada. A tentativa de venda, no entanto, não prosperou e acabou se tornando um dos eixos centrais da investigação.
Segundo apuração citada na reportagem, a investigação sobre a tentativa de venda do banco apontou que o Master teria forjado e vendido ao BRB cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado, sendo R$ 6,7 bilhões em contratos falsos e R$ 5,5 bilhões em prêmios — valor que supostamente corresponderia ao preço da carteira, acrescido de um bônus.
Reafirmação da autonomia do BC
Além da liquidação, o escândalo levou à prisão de Daniel Vorcaro, controlador do banco. Ele ficou detido por 12 dias e foi liberado posteriormente, mas segue monitorado por tornozeleira eletrônica. O caso, agora sob forte escrutínio do STF e com novas etapas investigativas em curso, tende a permanecer como um foco de tensão entre a necessidade de resposta institucional firme e o esforço do Planalto para evitar desgaste político direto.
Nos bastidores, o cálculo predominante entre aliados do presidente é que a melhor estratégia é reafirmar, na prática, a autonomia do Banco Central, evitar ruídos com o STF e preservar Lula de uma crise que mistura investigação criminal, disputa regulatória e uma narrativa pública potencialmente explosiva. Já na equipe econômica, a ênfase está em garantir que o episódio resulte em responsabilização e reforço da credibilidade do sistema financeiro, sem tolerância a fraudes de grande escala.



