"Bolsonaro destruiu o castelinho de cartas de Tarcísio", aponta político do centrão
Governador paulista comportava-se nos bastidores como candidato a presidente
247 – O lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República, abençoado por Jair Bolsonaro, provocou um abalo imediato no tabuleiro político da direita e expôs o enfraquecimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). As informações foram publicadas pela coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que ouviu dirigentes de diferentes partidos sobre o impacto da decisão.
Segundo lideranças políticas, o gesto dos Bolsonaro escancarou a falta de autonomia de Tarcísio, que, mesmo sendo governador do maior estado do país e apontado como um dos nomes mais competitivos da direita para 2026, continua subordinado às decisões da família do ex-presidente. O silêncio de Tarcísio após o anúncio apenas reforçou essa percepção.
Uma liderança do Centrão foi direta ao avaliar o estrago provocado pela movimentação: “O Bolsonaro vem e destrói o castelinho de cartas dele. Todo mundo está achando que o Tarcísio é o bobo da corte”, afirmou, enfatizando a frustração com a incapacidade do governador de reagir publicamente.
Outro dirigente descreveu a situação como “humilhante”, sobretudo porque, nos últimos meses, Tarcísio vinha se comportando nos bastidores como candidato a presidente. Em reuniões com banqueiros e conversas com líderes regionais, falava de conjuntura nacional e articulava alianças. “Era como se ele estivesse no comando, costurando tudo”, disse a fonte.
Um político submisso
Um terceiro interlocutor acrescentou que Tarcísio até teria votos para derrotar o presidente Lula em 2026, mas não dispõe de comando político. “As pessoas jogaram três meses de conversa fora e agora percebem que ele não tem liderança alguma, é submisso mesmo.”
Entre apoiadores do governador, cresce a avaliação de que a tentativa da família Bolsonaro de reduzi-lo politicamente é um erro estratégico. Segundo um dirigente próximo a Tarcísio, ele é o único nome da direita com reais condições de vencer Lula — como indicou o Datafolha — e, eleito, poderia até anistiar Bolsonaro. Para esse grupo, a tendência é que Flávio recue, já que não haveria apoio consolidado nem disposição para abrir mão de um mandato de oito anos no Senado.
Mesmo que o recuo ocorra, líderes lembram que o simples fato de Flávio Bolsonaro se manter como pré-candidato pelos próximos meses já prejudica Tarcísio. “Acaba com o palanque dele nos estados”, avaliou um dirigente, destacando que governadores e líderes regionais não vão esperar indefinidamente para saber se Tarcísio terá ou não o apoio da família.



