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PF prepara nova fase da Operação Unha e Carne no Rio

Conteúdo extraído de celulares de Rodrigo Bacellar e de Macário Judice Neto sustenta avanço de investigação sobre vazamento e obstrução

Macário Júdice Neto e Rodrigo Bacellar (Foto: Divulgação | Alerj)

247 - A Polícia Federal avalia deflagrar uma terceira fase da Operação Unha e Carne após a análise de dados extraídos de celulares apreendidos do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, e do desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), Macário Judice Neto. Segundo investigadores, o material periciado reúne elementos considerados suficientes para o aprofundamento das apurações.

De acordo com a coluna Segredos do Crime, de O Globo, a Polícia Federal conseguiu acessar três aparelhos de cada investigado, mesmo sem a entrega das senhas. A equipe técnica conseguiu desbloquear os celulares, ampliando o conjunto de provas reunidas no inquérito.

Perícia técnica amplia alcance da investigação

A Operação Unha e Carne é um desdobramento da Operação Zargun, que resultou na prisão, em 3 de setembro, do então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Jóias. Ele é apontado pelas investigações como elo político entre o Comando Vermelho e o Poder Legislativo fluminense.

Segundo a apuração, um possível vazamento de informações pode ter atrasado o cumprimento do mandado de prisão e permitido a destruição de provas. A partir dessa suspeita, a Polícia Federal passou a investigar Bacellar e Macário Judice Neto por possível obstrução das investigações.

Suspeita de vazamento levou a novas apurações

O desembargador foi o responsável por decretar a prisão de TH Jóias e acabou identificado em uma ligação telefônica com o presidente da Alerj na véspera da operação policial. Conforme a Polícia Federal, Bacellar teria sugerido ao então deputado que destruísse o celular utilizado por ele.

As investigações indicam que, no momento da ligação feita em 2 de setembro, Bacellar e o desembargador estariam juntos em uma churrascaria. O caso tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da ADPF das Favelas, que apura a infiltração do crime organizado na administração pública.

Defesa nega encontro e questiona prisão

O advogado Fernando Fernandes, que representa Macário Judice Neto, negou que tenha ocorrido o encontro mencionado pelos investigadores. Segundo ele, não há provas de que seu cliente estivesse com Bacellar no restaurante.

“Será comprovado que o jantar não existiu. O jantar e o vazamento não aconteceram. Não há a menor dúvida”, afirmou, ao pedir celeridade nas investigações.

Questionado sobre a recusa do desembargador em fornecer as senhas dos aparelhos, o advogado disse que o cliente agiu amparado por seus direitos. De acordo com Fernandes, Macário Judice Neto considerou a prisão ilegal e, por isso, decidiu não entregar as senhas, ressaltando que os celulares continham informações de cunho familiar e bancário.

Decisão do STF aponta indícios de crimes graves

Na decisão que determinou a prisão do desembargador, o ministro Alexandre de Moraes apontou indícios suficientes da prática de crimes como organização criminosa armada, com participação de agente público, obstrução de investigação, violação de sigilo funcional, fraude processual e favorecimento pessoal e real. Em um dos trechos, Moraes escreveu:

“Os investigados utilizaram dessa relação de intimidade para se encontrar presencialmente, na véspera da operação policial, em alinhamento para a prática de condutas delitivas.”

Clima de apreensão entre parlamentares

A expectativa de uma nova fase da operação tem provocado apreensão entre parlamentares estaduais. Fontes da Alerj relatam que deputados passaram a calcular quantos colegas poderiam ser alvo de novas diligências até o fim do ano. Como a apreensão de celulares costuma ser uma das primeiras medidas da Polícia Federal, parlamentares têm evitado o uso de seus aparelhos e encontros presenciais, temendo estarem sob monitoramento.

Atualmente, Macário Judice Neto está custodiado na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, unidade destinada a policiais. TH Jóias foi transferido para um presídio federal fora do estado. Rodrigo Bacellar permanece em liberdade, mas foi afastado da presidência da Alerj por determinação do Supremo Tribunal Federal.

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