Restabelecimento de energia pela Enel SP por ciclone é mais lento do que 2023 e 2024
As informações constam no Relatório de Falhas e Transgressões
SÃO PAULO, 12 Dez. (Reuters) - O restabelecimento dos serviços de energia elétrica na região metropolitana de São Paulo pela concessionária local da Enel, após a passagem de um ciclone extratropical nesta semana, tem sido mais lento do que nos eventos climáticos extremos de 2023 e 2024 que despertaram críticas à distribuidora e resultaram em penalidades.
Dados da plataforma da Enel São Paulo mostram que cerca de 670 mil consumidores estavam com o fornecimento de energia interrompido às 13h30 desta sexta-feira, dois dias depois da entrada na região de um ciclone que trouxe ventos com rajadas de quase 100 km/h.
A quantidade de clientes sem luz mais de 48 horas depois do início da ventania é superior à verificada em outubro de 2024, quando uma tempestade chegou a deixar 3,1 milhões de consumidores sem energia, e também em novembro de 2023, no primeiro episódio que acendeu o alerta sobre a velocidade de resposta da empresa a emergências.
Na tempestade de outubro de 2024, havia pouco mais de 230 mil clientes sem energia no "D+2", ou 48 horas depois do pico de atingidos. Em novembro de 2023, também depois de uma tempestade, eram 290 mil.
As informações constam no Relatório de Falhas e Transgressões, um documento elaborado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no ano passado que embasou o termo de intimação à Enel São Paulo, instaurando processo que pode, no limite, levar à caducidade da concessão.
A demora na recomposição da energia aos consumidores foi uma das principais críticas feitas à Enel São Paulo, com a resposta sendo considerada insuficiente mesmo diante da ocorrência de eventos climáticos extremos.
Do fim de 2023 até agora, a Enel se comprometeu a aumentar suas equipes e melhorar a resiliência das redes elétricas, anunciando investimentos bilionários para se preparar para os eventos climáticos extremos mais recorrentes.
Procurada, a Enel São Paulo afirmou que o vendaval desta semana e as tempestades passadas se tratam de eventos com características diferentes, e que as "reconstruções de rede são operações complexas", incluindo procedimentos como "recondução de quilômetros de cabos, substituição de vários postes e reinstalação de equipamentos".
"Quando árvores de grande porte caem sobre a rede, os fios são tracionados e vários postes no mesmo circuito, juntamente com os equipamentos, chegam a ser destruídos. É necessária a remoção completa das árvores, que, por vezes atingem também imóveis e veículos, em ações coordenadas com as prefeituras, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros".
Em posicionamentos anteriores, a distribuidora ressaltou que o vendaval perdurou por 12 horas, e que, após o início dos consertos, centenas de milhares de novos casos de falta de energia foram surgindo devido à continuidade dos ventos.
A diretoria da Aneel começou a votar no mês passado o processo que pode resultar na perda de contrato pela Enel.
Uma das possibilidades avaliadas pelo órgão regulador é estender o monitoramento feito sobre a concessionária até março de 2026, a fim de avaliar as ações e respostas da empresa no próximo período chuvoso, quando se tornam mais frequentes fortes tempestades como as que interromperam o fornecimento de energia a milhões de consumidores paulistas nos dois últimos anos.
REAÇÃO FEDERAL - A nova falta de luz a milhões de consumidores paulistas com o vendaval reacendeu as críticas do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já defendiam que a Enel deixasse a concessão e não pudesse ter seu contrato com o governo federal renovado por mais de 30 anos.
"É inaceitável que já há anos essa empresa aqui na cidade de São Paulo e nos demais 23 municípios faça com que milhões de pessoas sofram tanto", declarou Nunes, ao comentar sobre a falta de energia em vídeo postado nas redes sociais.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que nas ocasiões anteriores fez duras cobranças à Enel, evitou fazer críticas diretamente à empresa.
"Enquanto o governador de São Paulo e o prefeito da capital do Estado preferem transformar um episódio climático extremo em disputa política, o governo do Brasil mantém o foco naquilo que realmente importa: restabelecer a energia elétrica para a população com rapidez e segurança", disse Silveira, em nota.
"A prioridade do governo do Brasil é cooperar -- não politizar -- e garantir que a população tenha o serviço restabelecido o mais rápido possível", acrescentou.
A pasta afirmou também que "eventuais falhas e omissões da distribuidora terão rigorosa e devida apuração da agência reguladora, que garantirá as punições cabíveis".
(Por Letícia Fucuchima)



