Appio afirma ter pago por champanhes e denuncia fraude em edição de vídeo sobre suposto furto
Magistrado diz que gravação divulgada omite pagamento e foi usada para abrir PAD no TRF-4
247 - O juiz federal Eduardo Appio afirmou que o vídeo que embasa a acusação de suposto furto de garrafas de champanhe em um supermercado de Blumenau (SC) foi editado de forma a distorcer os fatos. Segundo ele, a gravação omite trechos essenciais, como a passagem pelo caixa e o pagamento pelas bebidas, e acabou sendo usada para justificar seu afastamento e a abertura de um processo administrativo disciplinar no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Em entrevista ao Jornal GGN, Appio sustentou que houve “fraude” na divulgação do material e que sua imagem foi exposta de maneira indevida, apesar de processos desse tipo normalmente tramitarem sob sigilo. O juiz afirmou que o caso ganhou repercussão nacional após o ex-juiz suspeito e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) divulgar um trecho do vídeo nas redes sociais e atacá-lo publicamente.
Divulgação do vídeo e reação do magistrado
Após a publicação das imagens, Moro chamou Appio de “ladrão aloprado” e questionou a credibilidade do magistrado. Em resposta, o juiz acionou seus advogados para processar o senador por difamação e afirmou que a divulgação teve como objetivo intimidá-lo por sua atuação em processos ligados à Lava Jato.
“Considero este vídeo dolosamente publicado pelo Senador Moro uma fraude sem precedentes e uma quebra de decoro. A intenção de Moro é me intimidar como testemunha de tudo que vi e apurei na 13ª Vara Federal de Curitiba”, declarou Appio.
Segundo o juiz, a exposição pública do episódio teria “dolosamente aniquilado” sua imagem e faz parte de uma perseguição relacionada às decisões que tomou ao revisar procedimentos da operação Lava Jato e remeter casos ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Processo administrativo e versão dos fatos
De acordo com reportagens divulgadas pela grande mídia, o PAD apura se Appio teria infringido regras da magistratura ao supostamente furtar, em ocasiões distintas, três garrafas de Moët Chandon, vendidas em promoção por R$ 399 cada. O magistrado, porém, afirma que pagou pelas três garrafas, totalizando R$ 1.199, valor debitado em seu cartão, conforme comprovante anexado aos autos pelo próprio supermercado.
O Jornal GGN teve acesso ao depoimento em vídeo de Osmar Saraiva, segurança do supermercado Giassi e autor do boletim de ocorrência. No relato, ele descreve a apuração interna e confirma que houve o pagamento pelas bebidas. Segundo Appio, o vídeo divulgado não mostra o acordo feito na sala de segurança nem o pagamento realizado, dando a impressão de que ele teria saído do local sem quitar a compra.
Depoimento do segurança e investigação interna
O segurança relatou que o caso começou após o inventário da loja apontar a falta de uma garrafa de champanhe. Imagens das câmeras levaram à identificação de um suspeito em setembro. Em outra data, no mesmo mês, uma nova ausência foi registrada, mas o próprio segurança admitiu que, apenas pelas imagens, não era possível afirmar “cem por cento” que se tratava da mesma pessoa.
No dia 18 de outubro, Appio foi filmado fazendo compras no supermercado, colocando uma garrafa na sacola e seguindo para o estacionamento, onde foi abordado por seguranças. Segundo o depoimento, ele se identificou, apresentou comprovantes de pagamento de outros itens e solicitou quitar a garrafa. Os seguranças exigiram o pagamento das três bebidas, o que foi feito para evitar o acionamento da Polícia Militar.
Relação com investigações no STF
Para Appio, o episódio não pode servir para interferir no andamento de apurações em curso no STF, que recentemente autorizou diligências no antigo gabinete de Sergio Moro em Curitiba. No local, foi encontrada uma “caixa amarela” com gravações relacionadas ao caso Tony Garcia, ex-deputado e empresário que afirma ter atuado como “espião” de Moro antes mesmo do início da Lava Jato.
Em ofício enviado à Polícia Federal no dia 13, o juiz afirmou ser alvo de tentativa de coação por atuar como testemunha-chave em investigações que podem resultar em punições a integrantes da força-tarefa. “Após 31 anos de serviço público honesto e imaculado, agora sofro, na condição de testemunha chave, agressão digital orquestrada com a finalidade de me coagir e interferir nos trâmites dos inquéritos sigilosos”, declarou



