'Brasil pode ganhar dinheiro com o desenvolvimento da África', afirma Lula
Presidente defende retomada de investimentos e cooperação tecnológica com países africanos durante encontro empresarial em Maputo
247 - No encerramento do encontro empresarial Brasil–Moçambique, realizado nesta segunda-feira (24) em Maputo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o país precisa reconstruir sua presença no continente africano e fortalecer uma relação histórica que, segundo ele, foi negligenciada ao longo das últimas décadas.
Lula ressaltou que a política externa brasileira já teve laços sólidos com vários países africanos e que esse movimento precisa ser retomado com prioridade e visão estratégica. Ele observou que o Brasil “fechou os olhos para o continente africano” e que poucas empresas mantiveram presença ativa na região. Lula afirmou ter buscado reverter esse cenário em seus mandatos anteriores. “Tomei a atitude de que era preciso toda vez que olhasse para a Europa, olhar para a África”, declarou, lembrando a necessidade de reconhecer uma “dívida histórica” de séculos de escravidão.
Segundo Lula, essa dívida não pode ser paga financeiramente, mas sim por meio de cooperação. “Tem que pagar com amizade, solidariedade, transferência de tecnologia”, afirmou, citando a atuação passada de empresas brasileiras em solo africano e criticando o desmonte de iniciativas que, segundo ele, fortaleceram a presença nacional no continente. Ele mencionou ainda a retirada da Petrobras de diversos países africanos e a venda de ativos da estatal como parte desse processo.
Durante o discurso, Lula enumerou ações desenvolvidas em seus governos anteriores para aproximar Brasil e África, como a abertura de embaixadas, a criação de parcerias educacionais, a instalação de uma fábrica de medicamentos em Moçambique e programas de formação profissional em Angola. Para ele, essas políticas foram interrompidas por decisões “estritamente políticas” que desconsideraram o potencial de desenvolvimento conjunto.
O presidente destacou que a cooperação econômica pode trazer ganhos concretos a ambos os lados. “É importante lembrar que a gente pode participar, compartilhar e ganhar dinheiro ajudando a fazer as coisas que não existem”, disse, ao defender que o Brasil tem condições de contribuir para obras estruturais em países africanos, como estradas, pontes e hidrelétricas.
Lula também mencionou o esforço de seu governo para recuperar instituições como o BNDES e restabelecer a credibilidade internacional do país após o retorno ao Palácio do Planalto. Como exemplo de parceria estratégica, citou a importância de levar a Embrapa para projetos agrícolas no continente, retomando ideias gestadas ainda em seu primeiro mandato. Para ele, a tecnologia brasileira pode ajudar a transformar regiões como a savana africana, a exemplo do ocorrido no Cerrado brasileiro.
Ao abordar o comércio bilateral, Lula afirmou que o Brasil tem mais barreiras para vender a países como Alemanha e Estados Unidos do que para nações africanas, onde, segundo ele, existe espaço tanto para exportar quanto para produzir conjuntamente. O presidente ressaltou que a relação de afinidade cultural e histórica facilita esse diálogo. “Mesmo o Brasil não fazendo a lição de casa, os africanos gostam muito do Brasil”, afirmou.
Ele também enfatizou o papel da tecnologia no agronegócio brasileiro, destacando avanços genéticos e produtivos que podem ser compartilhados com países africanos. “As pessoas não se dão conta do quanto de tecnologia tem num grão de soja hoje”, observou, ao comentar a evolução dos processos de produção agrícola e pecuária.
Lula encerrou seu discurso destacando seu empenho pessoal na aproximação com o continente. Desde o início do atual mandato, afirmou ter visitado cinco países africanos e reforçado o diálogo com lideranças regionais. Ele lembrou que o comércio entre Brasil e Moçambique, que já alcançou quase R$ 170 milhões em anos anteriores, caiu para cerca de R$ 40 milhões em 2024. Para o presidente, esse número é insuficiente diante da dimensão da parceria. “Vamos tentar recuperar e fazer com que volte a crescer nosso comércio”, disse, defendendo que a relação comercial volte a ser diversificada e robusta.





