Pedidos de recuperação judicial no agro sobem 147% e atingem maior nível desde 2021
Crise financeira no campo se intensifica no terceiro trimestre, com alta expressiva de solicitações por produtores e empresas do agronegócio
247 - A deterioração da situação financeira no campo brasileiro ganhou novos contornos no terceiro trimestre, quando os pedidos de recuperação judicial no agronegócio registraram uma disparada sem precedentes. Entre julho e setembro, o setor acumulou 628 solicitações, um salto de 147,2% na comparação com o mesmo período do ano passado e o maior volume desde 2021, início da série histórica do indicador.
Os dados constam de levantamento divulgado nesta segunda-feira (15) pela Serasa Experian. Ao longo de 2025, os números já vinham superando os do ano anterior, mas o ritmo de crescimento se acelerou de forma significativa no terceiro trimestre. No intervalo entre abril e junho, a alta anual havia sido de 31,7%, bem abaixo do avanço agora observado.
Em análise divulgada no relatório, o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, classificou o cenário atual como delicado. Para ele, o contexto é “desafiador”, sobretudo para produtores que acumulam dificuldades ao longo de vários ciclos produtivos. “Em especial para aqueles que já estão há alguns anos rolando dívidas sem fazer os ajustes necessários para diminuir custos, rever patrimônio e encerrar expansões mal planejadas”, afirmou.
O aumento dos pedidos ocorre apesar do desempenho robusto da produção agrícola. O Brasil colheu mais uma safra recorde de grãos neste ano, e as primeiras estimativas para a temporada 2025/2026 seguem indicando volumes elevados. Ainda assim, a combinação de preços internacionais em queda, custos de insumos elevados e juros altos — mesmo com subsídios governamentais — tem pressionado as margens desde a safra 2023/2024, provocando desequilíbrios financeiros que se acumulam ao longo do tempo.
O monitoramento da Serasa Experian engloba tanto produtores rurais pessoas físicas quanto empresas do setor. No terceiro trimestre, produtores individuais responderam por 255 pedidos de recuperação judicial, número 140% superior ao registrado no mesmo período de 2024. Segundo o relatório, “a maior parte dos pedidos foi realizada por produtores rurais arrendatários ou de grupos econômico e familiares (84)”. Em seguida, aparecem os grandes proprietários, com 69 solicitações, os pequenos produtores, com 58, e os médios, que somaram 44 requerimentos.
Entre as empresas agrícolas, o avanço foi ainda mais intenso. Foram contabilizados 242 pedidos de recuperação judicial entre julho e setembro, alta de 163% na comparação anual. O levantamento inclui também outras companhias ligadas à cadeia do agronegócio, como fornecedores e prestadores de serviços, que apresentaram 131 solicitações no período, crescimento de 134%.
De acordo com a Serasa Experian, o segmento mais afetado foi o de “Comércio atacadista de produtos agropecuários primários”, responsável por 31 pedidos no trimestre. Na sequência aparecem a “Indústria processamento de agroderivados”, que engloba atividades como produção de óleo e farelo de soja, açúcar, etanol e laticínios, com 27 solicitações, e a “Agroindústria da transformação primária”, que registrou 25 requerimentos.



