China reforça defesa da soberania latino-americana diante de pressões externas
Diplomata chinês afirma que política de Pequim rejeita hegemonia, apoia integração regional e critica postura dos EUA e da Europa na América Latina
247 - A China voltou a defender a soberania da América Latina frente ao que classificou como pressões externas, em especial por parte dos Estados Unidos, reafirmando uma política externa baseada no respeito à autonomia dos países da região e na cooperação multilateral. A posição foi expressa por Hua Xin, embaixador da China em Cuba, ao comentar a mais recente estratégia dos EUA para o continente, que, segundo ele, aprofunda uma lógica intervencionista histórica.
Em declarações à Prensa Latina, o embaixador destacou que o chamado “Corolário Trump”representa uma versão ainda mais agressiva da Doutrina Monroe. Para o diplomata, trata-se de uma orientação que configura uma “intervenção brutal nos assuntos internos” dos países latino-americanos e caribenhos, além de reforçar a ideia de que a região seria tratada como área de influência exclusiva de Washington.
Segundo ele, após a divulgação da estratégia norte-americana, não houve uma resposta consistente de outras potências globais. O diplomata observou que nem mesmo a Europa, tradicionalmente vinculada à América Latina, apresentou uma posição autônoma. “Em vez de defender seus próprios interesses e autonomia, a Europa dita ordens aos outros, enquanto sua posição em relação aos Estados Unidos permanece frágil”, afirmou.
O diplomata chinês ressaltou que o novo documento de política para a América Latina e o Caribe é o terceiro publicado por Pequim desde 2008 e não deve ser interpretado como uma reação pontual. De acordo com ele, trata-se da continuidade de uma linha estratégica estável, orientada pelo respeito à soberania regional e pela rejeição explícita de qualquer pretensão hegemônica. “Não acreditamos que os países da região sejam um quintal para qualquer outro país”, declarou.
Ainda segundo o diplomata, a proposta chinesa se baseia em uma cooperação aberta e inclusiva, que reconhece o direito soberano de cada nação de escolher livremente seus parceiros internacionais. No campo da segurança, ele explicou que Pequim defende um conceito “abrangente, comum, cooperativo e sustentável”, além de apoiar a consolidação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz e livre de armas nucleares. Nesse contexto, a China rejeita de forma categórica o uso ou a ameaça de uso da força nas relações internacionais.
Na esfera econômica, o embaixador destacou a expansão contínua do intercâmbio comercial entre a China e os países da região. Segundo ele, o comércio bilateral superou 500 bilhões de dólares em 2024 e, nos primeiros dez meses deste ano, já alcançou quase 450 bilhões, com crescimento de 3,5%, mesmo em um cenário global considerado adverso.
Ao tratar das perspectivas futuras, o diplomata afirmou que o documento chinês não deve ser visto como um “monólogo” de Pequim, mas como uma resposta construída a partir das necessidades concretas da região. Entre as áreas prioritárias citadas estão o enfrentamento das mudanças climáticas, o combate à pobreza, o fortalecimento da agricultura, a transição energética, o desenvolvimento da economia digital e a ampliação da conectividade 5G.
“Construir uma comunidade com um futuro compartilhado não é um slogan, mas uma realidade com ações concretas”, concluiu o embaixador, ao sintetizar a visão chinesa para o aprofundamento das relações com a América Latina e o Caribe.


