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Milei atua como porta-voz do cerco militar contra a Venezuela na cúpula do Mercosul

Presidente argentino elogia pressão dos EUA e de Donald Trump sobre Caracas, enquanto Lula rejeita ingerência e alerta para riscos à estabilidade regional

O presidente da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires - 26/10/2025 (Foto: REUTERS/Cristina Sille)

247 – O presidente da Argentina, Javier Milei, assumiu um papel de porta-voz da escalada de pressão política e militar dos Estados Unidos contra a Venezuela durante a cúpula do Mercosul realizada em Foz do Iguaçu, no Brasil. Em contraste direto com a posição do governo brasileiro, Milei elogiou publicamente as ações de Washington e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e tentou arrastar outros países do bloco para essa linha de confronto. As informações foram publicadas pela teleSUR, que detalha os embates políticos e diplomáticos ocorridos durante o encontro de chefes de Estado do Mercosul.

Durante seu pronunciamento, Milei “saudou a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump” sobre a Venezuela e convocou os demais membros do bloco a “secundar” essa posição. Admirador declarado de Trump, o presidente argentino repetiu a retórica usada pela Casa Branca e voltou a empregar o termo “narcoterrorista” para se referir ao Estado venezuelano, alinhando-se integralmente ao discurso norte-americano.

A postura de Milei foi duramente rebatida pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da cúpula. Lula rejeitou a ingerência externa e criticou explicitamente a presença militar dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela, alertando para os riscos de uma intervenção armada e para as violações do direito internacional.

Ao defender que outros governos “secundem” o cerco militar e as pressões dos Estados Unidos contra Caracas, Milei ignorou denúncias feitas pela própria Venezuela, por países da região e até por setores políticos dos Estados Unidos, que classificam as operações norte-americanas como ilegais, violadoras do direito internacional e ameaçadoras da estabilidade regional.

Declaração paralela

Além da Argentina, participaram de uma declaração paralela à cúpula os governos do Paraguai, liderado por Santiago Peña, do Panamá, sob José Raúl Mulino, e autoridades de Bolívia, Equador e Peru. Segundo a teleSUR, esses países — em sua maioria alinhados à política externa de Washington — têm apoiado a escalada promovida por Trump, recebido tropas norte-americanas ou firmado recentemente acordos de cooperação militar com os Estados Unidos. O documento reproduz argumentos da Casa Branca contra Caracas, sem qualquer menção ao caráter intervencionista ou ao risco representado pelo deslocamento militar norte-americano.

A declaração não foi assinada por Brasil e Uruguai. No discurso de abertura da cúpula, Lula criticou diretamente a presença militar de uma potência extrarregional na América do Sul e advertiu para as consequências de uma eventual ampliação do conflito.

Ao abordar também a questão das Ilhas Malvinas, Lula traçou um paralelo histórico para reforçar seu alerta. Enquanto Milei pedia apoio do Mercosul à Argentina no litígio com o Reino Unido e, ao mesmo tempo, celebrava a intervenção dos Estados Unidos contra a Venezuela, o presidente brasileiro destacou as contradições dessa postura.

“Mais de quatro décadas depois da Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assediado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo colocados à prova”, declarou Lula durante a inauguração da cúpula, conforme reproduzido pela teleSUR.

A reportagem destaca que, na reunião de Foz do Iguaçu, ficaram evidentes duas visões opostas para a região. De um lado, Javier Milei, priorizando afinidades ideológicas e o alinhamento automático com Donald Trump, mesmo à custa do direito internacional e dos interesses regionais. De outro, Lula, defendendo a integração sul-americana, o respeito à soberania dos países e os princípios da Carta das Nações Unidas, a partir da experiência histórica das intervenções estrangeiras na América Latina.

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