Jornalista da Folha diz que Bolsonaro não tem como impedir Michelle
Análise de Ana Luiza Albuquerque aponta avanço da ex-primeira-dama no PL e a fragilidade política de Jair Bolsonaro
247 – A crescente autonomia política de Michelle Bolsonaro dentro do PL tem provocado nova reacomodação de forças no núcleo familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao se posicionar publicamente contra uma articulação partidária no Ceará, Michelle demonstrou que construiu um espaço próprio e já não depende da tutela do marido.
A avaliação é da repórter Ana Luiza Albuquerque, em análise publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, que revisita episódios do passado para mostrar como Jair Bolsonaro perdeu a capacidade de barrar movimentos de independência de suas companheiras.
A jornalista relembra que, há 25 anos, Jair interferiu diretamente na vida política da ex-mulher Rogéria Bolsonaro. Em 2000, ele lançou o filho Carlos para disputar uma vaga na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o único propósito de enfraquecer a candidatura de Rogéria, que havia sido eleita em 1992 e reeleita em 1996 com apoio do então marido. Jair, no entanto, passou a entender que ela já não seguia suas orientações e decidiu sabotar sua campanha.
Duas décadas depois, o ex-presidente enfrenta dinâmica semelhante, agora protagonizada por Michelle Bolsonaro. Embora o PL e o próprio Jair tenham concordado inicialmente com a aliança entre o deputado André Fernandes e Ciro Gomes, a ex-primeira-dama rejeitou a articulação de forma aberta, contrariando a orientação partidária.
A reação detonou críticas dos três filhos mais velhos de Jair —Flávio, Carlos e Eduardo— que acusaram Michelle de autoritarismo nas redes. Mas ela não recuou. Após visita ao pai na prisão, Flávio pediu desculpas à madrasta, e o PL anunciou que suspenderia as conversas com o PSDB de Ciro Gomes.
Segundo dirigentes da legenda, Michelle saiu fortalecida do episódio. Ela ampliou engajamento nas redes, atraiu filiações femininas, fortaleceu sua relação com evangélicos e conservadores e conta com o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Além disso, possui a menor rejeição entre os integrantes da família Bolsonaro.
Ana Luiza Albuquerque destaca que Michelle não é Rogéria, assim como Jair também não é mais o mesmo. Quando ainda era deputado do baixo clero, ele tinha liberdade para “cortar as asas” da ex-mulher. Agora, preso, isolado e enfraquecido politicamente, Bolsonaro não tem nada a ganhar —nem pessoal nem politicamente— com um conflito aberto com Michelle.
A conclusão da repórter é categórica: Jair Bolsonaro perdeu a capacidade de impedir o avanço político de Michelle Bolsonaro, que hoje se tornou uma das figuras mais influentes do PL e do bolsonarismo.



