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Lula dá ultimato à União Europeia sobre acordo com Mercosul: “se não fizer agora, o Brasil não fará mais”

Presidente afirmou que França e Itália se opõem ao acordo “por problemas políticos internos”

Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevou o tom nesta quarta-feira (17) ao tratar do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, ao afirmar que o Brasil não retomará as negociações caso o pacto não seja fechado agora. A declaração foi feita durante reunião ministerial, a última de 2025, na qual Lula relatou entraves políticos dentro do bloco europeu e cobrou uma decisão imediata.

Segundo o presidente, o governo brasileiro chegou a atender a pedidos da União Europeia para viabilizar a tramitação do acordo, inclusive alterando a data da reunião do Mercosul. “No sábado vou fazer a reunião do Mercosul. Essa reunião era para ser no dia 2 de dezembro e eu mudei para o dia 20 porque a União Europeia pediu, porque ela só conseguiria aprovar o acordo com o Mercosul no dia 19. E agora estou sabendo que eles não vão conseguir”, disse Lula. 

No discurso, Lula apontou diretamente França e Itália como responsáveis pelo impasse, atribuindo a resistência a fatores internos. “Itália e França não querem fazer por problemas políticos internos. E eu já avisei: se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente. Faz 26 anos que a gente espera esse acordo”, afirmou. O presidente destacou ainda que, na sua avaliação, o pacto é mais vantajoso para os europeus do que para os países do Mercosul.

Ao citar nominalmente o presidente francês, Lula relacionou a oposição ao acordo às pressões de setores agrícolas. “O acordo é mais favorável para eles do que para nós. O Macron não quer fazer por causa dos agricultores dele, a Itália não quer fazer não sei por quê”, declarou. Ele acrescentou que o bloco sul-americano já teria ido ao limite das concessões possíveis no campo diplomático: “Cedemos a tudo que era possível a diplomacia ceder”.

O presidente também contextualizou o acordo como um gesto político em defesa do multilateralismo, em um cenário internacional marcado por tensões comerciais. “O dado concreto é que nós do Brasil e do Mercosul trabalhamos muito para acertar esse acordo e passar uma ideia, nesse momento em que você tem um presidente dos Estados Unidos querendo fragilizar o multilateralismo”, disse Lula, em referência a Donald Trump, o atual presidente dos Estados Unidos. Segundo ele, o objetivo era mostrar força conjunta: “Queríamos fazer um acordo para mostrar que uma população de 722 milhões de um PIB de R$ 22 trilhões estava fazendo um acordo para defender o multilateralismo”.

Lula afirmou que irá à reunião em Foz do Iguaçu com expectativa de um desfecho positivo, mas deixou claro que uma negativa terá consequências na relação com o bloco europeu. “Vou à Foz do Iguaçu na expectativa de que eles digam ‘sim’. Mas se disserem ‘não’, vamos ser duros daqui para frente com eles”, afirmou.

Do lado europeu, o cenário segue indefinido. De acordo com a Reuters, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o presidente da França, Emmanuel Macron, concordaram com a necessidade de adiar a votação final da União Europeia sobre o acordo. A França tenta articular uma minoria de bloqueio, enquanto países como Polônia e Hungria já se posicionaram contra o pacto, e Áustria e Irlanda demonstraram simpatia pela posição francesa.

A votação final do acordo é considerada necessária para que o texto, firmado há um ano entre a União Europeia e os países do Mercosul — Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai —, possa ser ratificado pelos Estados-membros. O pacto prevê a abertura de novos mercados para exportadores europeus, mas enfrenta forte resistência de agricultores do continente, que temem a concorrência de produtos sul-americanos, especialmente carnes, com custos mais baixos e regras ambientais distintas.

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