Morte de Teori não foi investigada, apesar das suspeitas sobre o caso
Novos elementos sobre a Lava Jato reacendem debate e reforçam a necessidade de reavaliar circunstâncias da morte do ministro
247 - A morte do ministro do STF Teori Zavascki, em janeiro de 2017, nunca foi objeto de uma investigação aprofundada, apesar das suspeitas que se acumularam desde o acidente aéreo em Paraty (RJ). O tema volta agora ao centro da discussão pública após a emergência de novos elementos sobre a atuação da Lava Jato e do ex-juiz parcial Sérgio Moro, especialmente depois de a Polícia Federal ter apreendido a chamada “caixa amarela” da 13ª Vara Federal de Curitiba, em que estariam armazenados vídeos da conhecida “festa da cueca”. O conteúdo foi mencionado pelo empresário Tony Garcia em entrevista à TV 247, e a conduta da força-tarefa está atualmente sob investigação do STF.
Em meio à retomada do debate, relembra-se o relato publicado pelo jornalista André Barcinski, do portal UOL, à época do acidente. A apuração destacou testemunhos de pescadores e bombeiros que participaram das primeiras tentativas de resgate. Segundo esses relatos de 2017, uma das passageiras teria permanecido viva por cerca de 70 minutos após a queda da aeronave — período superior ao estimado inicialmente pelas autoridades, que falavam em aproximadamente 40 minutos.
Um dos depoimentos mais chocantes reunidos por Barcinski é o do barqueiro conhecido como Mino, que presenciou as tentativas de içar o avião: “Dava para ver a mão de alguém batendo no vidro. Depois ouvimos os gritos, era uma voz de mulher: ‘Pelo amor de Deus, me tira daqui, não aguento mais!’”.
Segundo o relato, bombeiros e agentes da Defesa Civil tentaram romper o vidro da aeronave com uma marreta, mas não conseguiram. “Os Bombeiros e a Defesa Civil usaram uma marreta para tentar quebrar o vidro, mas não conseguiram, aquilo nem trincou".
A reaparição de antigos relatos ocorre simultaneamente ao fortalecimento de novas denúncias sobre abusos atribuídos à Lava Jato. Em artigo publicado no GGN, o jornalista Luis Nassif defendeu que a morte de Teori Zavascki seja reexaminada, argumentando que o surgimento de novos documentos e testemunhos sobre a operação lança dúvidas adicionais sobre o contexto institucional vivido na época.
Nassif destaca que a suposta existência dos vídeos guardados na “caixa amarela” reforça as acusações feitas por Tony Garcia, que afirma ter sido coagido por Moro a produzir gravações comprometedoras de autoridades. O jornalista sustenta que esse conjunto de revelações ajuda a explicar a postura conivente do TRF-4, que por anos validou as decisões da Lava Jato sem resistência.
Entre os episódios narrados por Garcia estão acusações de alto impacto institucional. Ele afirma que “um desembargador, contrário à Lava Jato, foi sacrificado com base em denúncias falsas”. Menciona também que dois ministros — Herman Benjamin, do STJ, e Luís Roberto Barroso, do STF — teriam sido alvo de tentativas de chantagem. No caso de Barroso, Garcia relaciona as pressões a operações do Banestado, período anterior à sua nomeação ao Supremo.
O texto de Nassif também cita o depoimento da ex-juíza Luciana Bauer, que reforçou publicamente a acusação de ter sido agredida por Moro dentro de um elevador, afirmando que o então magistrado segurou seu pescoço. Após o episódio, ela relata que viaturas passaram a circular com frequência incomum em sua rua.
Para o jornalista, o conjunto dessas denúncias impõe a necessidade de revisitar o acidente que matou Teori Zavascki, então relator da Lava Jato no STF. Ele lembra que o ministro Gilmar Mendes afirma que Teori morreu poucos dias depois de sinalizar que enfrentaria os abusos da força-tarefa.
Após a morte de Teori, a relatoria foi entregue ao ministro Luiz Edson Fachin, considerado “confiável” por integrantes da Lava Jato segundo diálogos revelados pela Vaza Jato. Embora não haja qualquer evidência de irregularidade envolvendo Fachin, Nassif observa que a mudança ocorreu em meio a uma disputa institucional intensa.
Para ele, o debate transcende o campo jurídico e alcança interesses econômicos de grande porte — desde recursos bilionários que seriam destinados à Fundação Lava Jato até disputas entre empreiteiras brasileiras e impactos diretos sobre a Lei de Partilha da Petrobras. Nesse cenário, argumenta que a reabertura das investigações sobre a morte de Teori Zavascki torna-se imprescindível diante dos novos elementos trazidos à tona e das atuais apurações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal.



