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Oficiais de Justiça procuram liquidante do Banco Master no escritório do banco

Visita antes do Natal aumenta expectativa de intimação e reforça tensão em torno da liquidação determinada pelo Banco Central

Sede do Banco Central, em Brasília 22/03/2022 REUTERS/Adriano Machado (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 – Dois oficiais de Justiça estiveram no escritório do Banco Master, em São Paulo, à procura do liquidante da instituição, Eduardo Félix Bianchini, em uma movimentação que alimentou a expectativa de que ele possa ser intimado a prestar esclarecimentos nos próximos dias. As informações foram publicadas pela Folha de S.Paulo.

A visita ocorreu antes do feriado de Natal, mas Bianchini — servidor aposentado do Banco Central, escolhido pelo regulador para conduzir o processo de liquidação do banco controlado por Daniel Vorcaro — não estava no local. Segundo a reportagem, ele passou o Natal com a família fora de São Paulo, o que impediu que fosse encontrado pelos oficiais.

Liquidante vira alvo em disputa judicial

Bianchini se tornou um dos pontos centrais do embate jurídico que se intensificou após a liquidação extrajudicial do conglomerado Master, decretada pelo Banco Central em 18 de novembro de 2025, sob a justificativa de grave crise de liquidez, deterioração econômico-financeira e violações a normas do sistema financeiro. 

A defesa de Vorcaro tenta, no STF e no TCU, sustentar a anulação da liquidação. Nesse contexto, a atuação do liquidante ganha peso político e institucional: ao ter acesso aos dados internos do banco, seu relatório tende a revelar contratos, pagamentos e relações com prestadores de serviço — incluindo escritórios de advocacia que atuaram na defesa da instituição.

Contrato milionário com escritório ligado a Moraes entra no foco

A reportagem destaca que o Banco Master teria contratado o escritório de familiares do ministro Alexandre de Moraes, do STF, por R$ 3,6 milhões mensais para auxiliar na defesa de interesses do banco, segundo revelação atribuída ao jornal O Globo. Esse tipo de contrato, em meio ao colapso e à liquidação, amplia a pressão por transparência e explicações formais.

Além disso, o risco de Bianchini ser chamado a esclarecer detalhes desse imbróglio entrou no radar depois que a defesa do Master passou a acusar o Banco Central de supostamente ter usado o liquidante para obter informações do banco já liquidado — argumento que teria sido apresentado em petição ao TCU.

Toffoli nega envio de oficiais e mantém lista de nomes para acareação

O ministro Dias Toffoli, do STF, decidiu promover uma acareação entre Daniel Vorcaro e Paulo Henrique Costa, ex-presidente do BRB, com a presença do diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos. A acareação está marcada para 30 de dezembro.

Procurado, Toffoli negou, por meio de sua assessoria, que tenha partido dele qualquer determinação de envio de oficiais de Justiça para intimar o liquidante. Segundo o ministro, neste momento, “estão mantidos apenas os três nomes já divulgados pelo STF para a acareação”.

Pressão no TCU e sigilo sobre investigação do Banco Central

No Tribunal de Contas da União, o ministro Jhonatan de Jesus teria ampliado a pressão no caso e determinado que o Banco Central se manifeste sobre supostos indícios de precipitação na liquidação do Master. A Folha relata ainda que existe desconforto interno no tribunal: uma ação teria restringido a atuação de técnicos da Audbancos, unidade responsável por fiscalizar bancos públicos e instituições financeiras, segundo relatos de servidores ouvidos pela reportagem.

O TCU também colocou em sigilo o processo que analisa possível omissão do Banco Central em operações ligadas ao Master.

“Sem precedente”: técnicos veem tentativa de intimidação

A Folha ouviu um técnico aposentado do Banco Central, descrito como integrante da “velha guarda”, com experiência em processos de quebra e liquidação bancária. Segundo ele, uma eventual interferência do STF e do TCU no trabalho do liquidante seria uma ação “sem precedente” e poderia representar, na prática, uma tentativa de intimidar a liquidação.

O ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo também criticou a movimentação e afirmou: “Eu nunca tinha visto. O que está sendo pedido são coisas que não têm sentido”. Ele acrescentou que o Banco Central tem respaldo legal para executar a liquidação e foi ainda mais duro ao avaliar o caso: “Foi uma fraude gigante. Não foi decisão de um diretor, mas de todo um colegiado a partir de um volume de documentação muito robusto.” 

Defesa de Vorcaro não responde até publicação

A reportagem informa que o advogado Walfrido Warde, que atua na defesa de Vorcaro, declarou estar fora do Brasil e que auxiliares entrariam em contato para responder aos questionamentos. Até a publicação do texto, porém, não houve retorno.

Caso Master expõe choque institucional

O episódio envolvendo a busca por Eduardo Félix Bianchini, somado à disputa travada no STF e no TCU, escancara o potencial de conflito entre órgãos responsáveis por regulação, fiscalização e decisões judiciais em um caso de grande repercussão financeira e política.

Ao mesmo tempo, o avanço do relatório do liquidante tende a se tornar peça-chave para compreender o que ocorreu dentro do Banco Master — e quais interesses foram mobilizados, com que contratos e quais valores, em meio ao colapso da instituição e à liquidação decretada pelo Banco Central. 

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