"Querem que o 8/1 caia no esquecimento", diz Lula em meio ao PL da Dosimetria
Plenário do Senado pode votar ainda nesta quarta projeto que reduz a pena dos condenados pela tentativa de golpe
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (17) que há setores interessados em apagar da memória coletiva os ataques golpistas de 8 de janeiro e reforçou a necessidade de preservar a democracia brasileira. A declaração foi feita durante reunião ministerial, a última de 2025, em um momento de forte debate no Congresso Nacional sobre o chamado PL da Dosimetria, que trata das regras de progressão de pena para crimes contra o Estado Democrático de Direito.
Durante o encontro com ministros, Lula fez um discurso político no qual abordou o cenário eleitoral, o papel das instituições e a importância de não relativizar os atos golpistas. As declarações ocorreram no mesmo dia em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado avançou na tramitação do projeto que pode impactar diretamente as condenações relacionadas ao 8 de janeiro.
Ao falar sobre o embate político e o futuro do país, o presidente criticou adversários que, segundo ele, não demonstram compromisso com a população mais pobre. “Nós vamos para uma disputa com alguém que nós sabemos que não tem o mesmo perfil de compromisso com a sociedade como nós. Qual é o perfil que alguns dos possíveis candidatos e outros que não estão candidatos ainda têm para cuidar do povo pobre?”, questionou. Para Lula, a repetição desse modelo levaria à invisibilidade social: “Ora, a história vai se repetir, o povo vai voltar a ser invisível. Essa gente não enxerga o povo. Por isso nós precisamos fortalecer a democracia”.
O presidente também anunciou a realização de um ato simbólico em Brasília para marcar a data dos ataques às sedes dos Três Poderes. “No dia 8 de janeiro [de 2026] a gente vai ter um ato simbólico contra o 8 de janeiro aqui em Brasília. Eles querem que o 8 de janeiro caia no esquecimento, e nós queremos que a sociedade não se esqueça nunca”, afirmou. Na sequência, Lula voltou a responsabilizar Jair Bolsonaro (PL) pelos episódios. “Um dia esse país teve alguém que não soube perder a eleição e resolveu, pela forma mais cretina, continuar governando esse país, inclusive querendo matar nós dois”, disse, em referência a si próprio e ao vice-presidente Geraldo Alckmin.
Ao defender o legado do atual governo, Lula atribuiu à sua equipe o resgate institucional do país. “A coisa mais importante que vocês fizeram junto comigo foi resgatar a democracia brasileira”, declarou. Para o presidente, a democracia vai além das instituições formais. “A democracia da vida real, de ter o direito de comer, trabalhar, estudar, de ter acesso à cultura, de ir e vir. É isso que precisamos valorizar”, completou, destacando ainda o peso internacional do Brasil: “O Brasil é muito levado em conta no mundo hoje”.
As declarações ocorrem enquanto o Senado acelera a análise do PL da Dosimetria. Nesta quarta-feira, a CCJ decidiu reduzir o prazo de vista do projeto para quatro horas e marcou a votação do parecer ainda para o mesmo dia, atendendo ao cronograma definido pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP). O anúncio foi feito pelo presidente da comissão, senador Otto Alencar (PSD-BA).
A proposta, aprovada pela Câmara no último dia 8, gerou controvérsia ao prever regras mais brandas para a progressão de pena de condenados pelos atos golpistas. Diante das críticas, o relator no Senado, senador Esperidião Amin (PP-SC), apresentou um parecer restringindo o novo mecanismo exclusivamente aos crimes contra o Estado Democrático de Direito, incorporando uma emenda do senador Sergio Moro (União-PR) para evitar brechas legais.
O debate ganhou mais repercussão após a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de 27 anos de prisão por crimes como tentativa de golpe de Estado e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Segundo o relator do projeto na Câmara, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), as regras originalmente aprovadas poderiam permitir que o ex-presidente cumprisse apenas pouco mais de dois anos em regime fechado, cenário que intensificou a pressão política em torno da proposta.



