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Recuo dos EUA contra Moraes frustra bolsonaristas: "Trump nos usou"

Retirada de sanções dos EUA contra Moraes é vista no PL como um fracasso político de Eduardo Bolsonaro

O presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano), em evento no Salão Oval da Casa Branca 6 de novembro de 2025 (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)

247 - A decisão do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de recuar na aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes provocou forte frustração entre aliados do bolsonarismo. Nos bastidores do PL, a avaliação predominante é que o movimento representa um revés direto para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e para a articulação internacional conduzida por ele nos Estados Unidos.

Segundo O Globo, dirigentes e parlamentares do partido, em caráter reservado, afirmam que o recuo desmonta a narrativa construída por Eduardo Bolsonaro e reforça a percepção de que as decisões do governo estiveram ligadas a interesses próprios, especialmente comerciais, e não a um alinhamento político com a direita brasileira.

Bastidores do PL falam em frustração e abandono

Entre integrantes do partido, o sentimento descrito é de decepção. Aliados classificaram o desfecho como “péssimo” e “aterrador”. Um deputado influente resumiu a avaliação com uma frase direta: “Trump nos usou”. Para esse grupo, o presidente dos Estados Unidos adotou um discurso público de defesa da liberdade ao anunciar a sanção, considerada extrema, mas recuou de forma abrupta ao priorizar seus próprios interesses.

Parlamentares avaliam que o gesto esvazia uma das leis mais simbólicas da política externa americana e expõe a ausência de compromisso real com a pauta defendida por Eduardo Bolsonaro. Há ainda a leitura de que o governo dos EUA poderia ter mantido a sanção por mais tempo, ao menos como sinal político, especialmente após a prisão definitiva de Jair Bolsonaro, decretada cerca de duas semanas antes do recuo.

Deputados criticam recuo e questionam interesses dos EUA

A frustração também se manifestou publicamente. O deputado Bibo Nunes (PL-RS) afirmou ter sido surpreendido pela decisão do governo Trump. “Estou profundamente chocado com essa retirada da Lei Magnitsky. Depois de tanta veemência contra Alexandre de Moraes, é decepcionante”, declarou.

Alexandre de Moraes havia sido incluído na lista de sancionados em julho, no mesmo dia em que Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras. Na ocasião, o governo estadunidense apontou como justificativa a atuação do ministro na ação penal que apurou a trama golpista, que posteriormente resultou na condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão.

Reação pública tenta conter danos políticos

Nos bastidores do PL, a avaliação é que o recuo não altera de forma significativa a visão do governo dos Estados Unidos sobre Moraes, mas produz um efeito político imediato ao encerrar a expectativa de constrangimento internacional ao ministro do Supremo Tribunal Federal. Alguns aliados afirmam que o desfecho já era cogitado, mas consideram que o momento escolhido foi especialmente negativo.

Publicamente, lideranças do partido buscaram reduzir danos. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que Trump sempre atuou com base em interesses nacionais. “Trump tem interesses americanos em primeiro lugar. Ele nos deu uma grande janela de oportunidades, seremos eternamente gratos ao Donald Trump. O Eduardo já fez a opção da luta dele lá nos Estados Unidos desde quando ficou por lá”, disse.

Nota de Eduardo Bolsonaro mantém discurso de crítica ao STF

Outros aliados evitaram comentar o impacto político do recuo e mantiveram críticas ao ministro do Supremo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que sua avaliação sobre Moraes permanece a mesma. “O ministro Alexandre, para mim, continua sendo um juiz injusto, vingativo, cruel e ideológico”, declarou.

O mesmo tom apareceu na reação pública de Eduardo Bolsonaro e do influenciador Paulo Figueiredo, que divulgaram uma nota conjunta lamentando a decisão, mas agradecendo o apoio de Donald Trump ao longo do processo. No texto, os dois afirmam que o presidente dos Estados Unidos demonstrou atenção à “grave crise de liberdades” no Brasil e atribuíram o desfecho à incapacidade da sociedade brasileira de construir unidade política. Eles também afirmaram que continuarão atuando, “no tempo que for necessário”, em busca de um caminho que permita a “libertação” do país.

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