HOME > Brasil

Relatos de "paranoia" e "alucinações" ampliam fragilidade de Bolsonaro como líder da direita, admitem aliados

Fala sobre paranoia provoca desgaste entre conservadores e reduz mobilização em favor do ex-mandatário

O ex-presidente Jair Bolsonaro em sua casa em Brasília-DF, onde cumpre prisão domiciliar, enquanto aguarda a execução penal pela condenação por golpe de Estado - 29/09/2025 (Foto: REUTERS/Diego Herculano)

247 - O relato de Jair Bolsonaro (PL) sobre episódios de "paranoia" e "alucinação" provocados, segundo ele, pela combinação inadequada de medicamentos agravou a percepção de fragilidade política no campo conservador. A declaração foi dada durante audiência de custódia e repercutiu de forma imediata entre apoiadores e dirigentes da direita. Ele afirmou ter sofrido "certa paranoia" em razão de prescrições médicas distintas que teriam interagido de forma inadequada. Desde então, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, aliados e analistas avaliam que o episódio reacendeu dúvidas sobre sua capacidade de manter protagonismo na direita.

Bolsonaro foi preso preventivamente por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último sábado (22). O ex-mandatário tentou violar a tornozeleira eletrônica poucas horas após a convocação de uma vigília religiosa feita por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em frente à residência onde ele cumpria as medidas cautelares.

Reações internas e impacto político imediato

O cientista político Renato Dorgan, CEO do Instituto Travessia, avaliou que a confissão tem peso eleitoral significativo. "A alucinação, do ponto de vista eleitoral, é catastrófica. Mostra que ele está desequilibrado e despreparado. Só é boa para o bolsonarismo raiz. O resto vai achar que o tempo de Bolsonaro passou definitivamente", afirmou.

Nos bastidores, integrantes da direita reconhecem que o desgaste é maior do que admitem publicamente. Um aliado relatou que a notícia da prisão gerou comoção no grupo, mas que o ânimo diminuiu após a revelação de que Bolsonaro tentou violar o dispositivo usando um ferro de solda.

Especialistas apontam prejuízos à imagem pública

Entre dirigentes da centro-direita, há consenso de que o vídeo com a admissão do uso do ferro de solda para tentar violar a tornozeleira agravou ainda mais os danos. Um deles, sob reserva, classificou o impacto como "politicamente ruim" e admitiu preocupação com a imagem pública do ex-mandatário. A avaliação é de que a crise não afeta apenas Bolsonaro, mas o conjunto do campo conservador, impondo um desfecho melancólico ao episódio.

Disputa pela liderança da direita se intensifica

As consequências para a disputa presidencial de 2026 ainda dividem a direita. Parte acredita que a crise acelera a necessidade de definição de um novo nome competitivo, já que Bolsonaro não conseguiu mobilização expressiva após a prisão preventiva. Dados da AP Exata mostram queda de engajamento tanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto de Bolsonaro nas redes sociais.

Outra ala prefere adiar a decisão, argumentando que a demora preservaria a influência do ex-mandatário e evitaria que candidatos como Tarcísio de Freitas (Republicanos) se tornem alvos antecipados da oposição.

Aliados tentam conter danos com novo discurso

Em público, aliados têm buscado minimizar o episódio, atribuindo os sintomas aos efeitos colaterais de remédios e reforçando a narrativa de perseguição judicial. O pastor Silas Malafaia disse que "qualquer pessoa pode ter um mal por tomar remédios, e aquele conjunto de remédios produzir um mal no seu físico e no seu emocional. Por causa disso a pessoa não tem condições? Pelo amor de Deus. Não cabe. O que vocês tinham que estar falando é: por que Alexandre de Moraes não aceita um documento médico? Ele é médico?"

A cientista política Juliana Fratini, doutora e mestre pela PUC-SP, avaliou a estratégia discursiva de Bolsonaro e seus aliados. "(Ele tem dito que) na realidade ele é a vítima de uma perseguição. E eu acredito que ele vai seguir nesse discurso. Você, enquanto vítima de uma perseguição, fica sujeito a ter esse tipo de crise comportamental", afirmou.

Parlamentares mantêm apoio, mas admitem fragilidade

A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) defendeu que a situação emocional não altera o ponto central da discussão. "O presidente não está no seu estado perfeito, mas isso não muda o fato central: ele não tentou fugir. A tornozeleira é simbólica; ele está sendo monitorado 24 horas por dia. Por que mexeria na tornozeleira sabendo que não sairia dali de forma alguma?", questionou.

O deputado estadual Tenente Coimbra (PL-SP) reforçou o discurso de perseguição. Para ele, mesmo preso, Bolsonaro permanece como "o principal líder da direita na América do Sul". "O ato de colocá-lo na prisão é um dos últimos atos de uma perseguição sem precedentes no Brasil. Bolsonaro continua sendo o líder, a pessoa que vai indicar os rumos da direita em 2026. Precisamos permanecer firmes e pressionar o Congresso para tirá-lo dessa situação."

Artigos Relacionados