'Sugar baby' que recebeu imóvel de R$ 4 milhões de Vorcaro foi citada na Lava Jato
Karolina Trainotti foi citada em denúncia do Ministério Público de maio de 2022, em ação que levou à prisão da doleira Nelma Kodama
247 - A Super Empreendimentos, empresa associada ao círculo de negócios de Daniel Vorcaro, realizou em 2024 a doação de um apartamento avaliado em cerca de R$ 4,4 milhões para Karolina Santos Trainotti, citada em investigação sobre tráfico internacional de drogas. A transação foi divulgada inicialmente pelo UOL e confirmada posteriormente pela Folha de São Paulo, que detalhou que o imóvel foi adquirido pela Viking Participações —empresa da qual Vorcaro é sócio— antes de ser repassado à Super, responsável pela doação a Karolina no fim daquele ano.
O apartamento, de 113 m², fica na avenida Presidente Juscelino Kubitschek, em São Paulo. Comprado pela Viking pelo valor de mercado, ele foi revendido à Super pelo mesmo montante em março de 2024. Meses depois, em dezembro, a empresa decidiu transferi-lo para Karolina, que aparece mencionada seis vezes na denúncia do Ministério Público Federal apresentada em maio de 2022, na Operação Descobrimento —ação que também levou à prisão da doleira Nelma Kodama.
Figura conhecida por ter sido a primeira presa da Operação Lava Jato, em 2014, Kodama recebeu indulto em 2019, voltou a ser detida em 2022, e novamente foi solta em 2024. Apesar das citações no documento do MPF, Karolina não foi alvo de mandado de prisão na fase inicial da investigação, mas foi mencionada como destinatária de recursos que teriam origem em operações de câmbio associadas a Rowles Magalhães, apontado por tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, organização criminosa e remessa irregular de divisas.
Segundo a denúncia, Karolina teria recebido R$ 52 mil e 2.450 euros em cinco operações ligadas ao grupo investigado. Em 2023, ela se tornou ré em processo que segue desdobramentos da mesma operação. A acusação afirma que, entre 2020 e 2021, ela teria recebido mais de R$ 270 mil em 24 transações bancárias oriundas da conta de um doleiro envolvido no esquema.
O advogado de Karolina, Eugênio Pacelli de Oliveira, afirma que as suspeitas são infundadas. “A acusação sobre lavagem de dinheiro é de um absurdo típico de quem não se interessa pela verdade dos fatos. Para se ter uma ideia, nem ouvida ela foi na fase de inquérito. Ela nunca teve conhecimento sobre a origem de tais recursos. Jamais. Basta estudar o processo. Nada temos a dizer sobre a sua vida privada”, declarou por email.
Na defesa apresentada no processo, Karolina sustenta que desconhecia qualquer origem ilícita do dinheiro e que mantinha à época um relacionamento com outro réu, no qual teria suas despesas pagas enquanto atuava, segundo o documento, como “sugar baby”. Em suas redes sociais, ela exibe fotos de formatura em administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, viagens internacionais e eventos de grande porte, incluindo o Carnaval na Sapucaí, em um camarote ligado ao Café de La Musique, empreendimento que já contou com investimento de Vorcaro.
A Super Empreendimentos, responsável pela doação, possui ligações indiretas com o banqueiro, embora seu nome não integre formalmente o quadro societário. Reportagem da própria Folha de São Paulo revelou que a empresa comprou, em 2024, uma casa de R$ 36 milhões em Brasília, que acabou se tornando um ponto de encontro para figuras políticas. No local, Vorcaro recebeu lideranças como Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União Brasil), Hugo Motta (Republicanos-PB) e aliados do governo Jair Bolsonaro (PL), como Fábio Faria e Bruno Bianco.
A Super é controlada por um fundo administrado pela Reag DTVM, alvo da Operação Carbono Oculto, de agosto de 2024, que investiga conexões entre o setor de combustíveis, o PCC e empresas financeiras. A assessoria de Vorcaro declarou que sua relação com a Super restringe-se ao aluguel da casa em Brasília e negou qualquer envolvimento na doação do imóvel a Karolina.
Apesar disso, documentos apontam vínculos indiretos. No período da compra do apartamento da Viking pela Super, o cunhado de Vorcaro, Fabiano Zettel, ainda ocupava cargo de direção na empresa. Ele ingressou no quadro societário em 2021 e deixou a função em meados de 2024. Além disso, empresas em que Zettel figura como administrador dividem endereço comercial em Belo Horizonte com a própria Viking.
Com capital declarado de R$ 100 milhões, a Viking ganhou notoriedade quando Vorcaro foi preso em novembro de 2024, ao tentar embarcar em um jato de propriedade da empresa para Malta. Ele deixou a prisão 12 dias depois. Zettel não respondeu aos contatos da reportagem, assim como a Super.
Nelma Kodama, ao ser procurada, afirmou não conhecer Karolina, nem ter qualquer vínculo com Rowles Magalhães ou com Vorcaro, destacando que seu processo ainda está em andamento. A defesa de Magalhães, por sua vez, reiterou que ele não foi condenado nos casos mencionados e segue colaborando com as autoridades. “As referências feitas a ele no âmbito da operação policial ainda se situam no plano da instrução processual, sem que haja, até o presente momento, decisão judicial que lhe atribua responsabilidade penal”, afirmou seu advogado Adib Abdouni.



