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Brasil é o 5º país mais desigual do mundo, aponta estudo

No Brasil, os 10% mais ricos detêm 70% de todo o patrimônio nacional

Protesto pela taxação dos super-ricos na Avenida Paulista - 10 de julho de 2025 (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

247 - O Brasil aparece novamente entre as nações com maior disparidade econômica do planeta, segundo a terceira edição do Relatório da Desigualdade Global. A publicação, conduzida pela rede World Inequality Lab, da Paris School of Economics, reúne mais de 200 especialistas liderados pela equipe do economista francês Thomas Piketty.

O levantamento evidencia que o país ocupa o quinto lugar entre 216 nações avaliadas quando o tema é desigualdade de renda. Os números reforçam que a concentração permanece estrutural e avança em âmbito nacional e internacional.

Os dados mostram que os 10% mais ricos do Brasil concentram 59,1% de toda a renda per capita, enquanto a metade mais pobre acessa apenas 9,3%. No ranking global de renda, o país só fica atrás de África do Sul, Colômbia, México e Chile. O cenário se repete na distribuição da riqueza — que inclui ativos financeiros, imóveis e outros bens —, área em que o Brasil ocupa a sexta posição no mundo. Somente os 10% do topo detêm 70% de todo o patrimônio nacional, e o 1% mais rico concentra mais de um terço desse valor.

O relatório evidencia ainda que a desigualdade extrema não é exclusividade brasileira. Em escala global, o 0,001% mais rico — cerca de 56 mil pessoas — acumula três vezes mais patrimônio do que toda a metade mais pobre da população adulta do planeta, composta por 2,8 bilhões de pessoas. Segundo o estudo, os 10% mais ricos capturam 75% da riqueza mundial, enquanto os 50% mais pobres ficam com apenas 2%.

A evolução dessa concentração é acelerada desde a década de 1990. De acordo com o documento, a fortuna de bilionários e centimilionários cresce em média 8% ao ano, praticamente o dobro do ritmo observado para a metade mais pobre da população. O texto destaca que “o resultado é um mundo em que uma pequena minoria detém um poder financeiro sem precedentes, enquanto bilhões permanecem excluídos até mesmo da estabilidade econômica básica”.

Em quase todas as regiões do mundo, o 1% mais rico acumula mais riqueza do que os 90% restantes juntos. O relatório também aponta que o sistema financeiro global opera sistematicamente em favor das economias desenvolvidas. O que antes era chamado de “privilégio exorbitante” dos Estados Unidos — beneficiados pelo dólar como moeda de reserva global — tornou-se uma vantagem ampliada às demais economias avançadas.

A transferência líquida de renda dos países pobres para os ricos, via rendimentos e aplicações financeiras, alcança o equivalente a 1% do PIB mundial por ano. Esse valor é quase três vezes superior ao montante destinado à ajuda internacional a países em desenvolvimento.

A metodologia utilizada segue parâmetros estabelecidos por Piketty em O Capital no Século 21. Para medir renda, o estudo considera ganhos do trabalho e benefícios de seguridade social, sempre antes da incidência de impostos. A comparação entre países é feita pela paridade de poder de compra, que ajusta diferenças no custo de vida. A definição de riqueza abrange a soma de ativos financeiros e não financeiros descontadas as dívidas, com dados obtidos de registros fiscais, pesquisas domiciliares e contas nacionais.

Entre os indicadores analisados está a Razão T10/B50, que compara a renda média dos 10% mais ricos com a renda média dos 50% mais pobres. O relatório reforça que políticas tributárias progressivas e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, são essenciais para reduzir disparidades. No entanto, aponta que os muito ricos pagam proporcionalmente menos impostos do que a população de renda média e baixa, além de utilizarem brechas legais para transferir patrimônio a regiões com menor carga tributária.

A edição deste ano dedica espaço também à crise climática, conectando desigualdade econômica e impacto ambiental. Segundo o documento, a metade mais pobre do planeta responde por apenas 3% das emissões de carbono provenientes da propriedade de capital privado. Em contraste, os 10% mais ricos são responsáveis por 77% dessas emissões, e o 1% mais rico sozinho concentra 41%, quase o dobro das emissões de todos os 90% mais pobres juntos.

O relatório destaca ainda que “aqueles que menos emitem, em grande parte as populações de países de baixa renda, são também os mais expostos aos impactos climáticos. Enquanto isso, os mais poluentes estão protegidos, com recursos para se adaptar ou evitar as consequências das mudanças climáticas”.

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