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      Brasil pode perder R$ 30 bilhões com guerra comercial de Trump, aponta estudo da UFMG

      Simulação prevê impacto negativo na indústria e serviços, com ganhos apenas para a agropecuária

      Lula e Donald Trump (Foto: Ricardo Stuckert/PR | REUTERS/Brendan McDermid)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 -Um levantamento conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estima que o Brasil poderá registrar perdas de aproximadamente R$ 30 bilhões em decorrência da guerra de tarifas iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A análise foi divulgada nesta segunda-feira (14) e utiliza como base simulações computacionais realizadas pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), da própria universidade.

      De acordo com o estudo, o impacto total da escalada protecionista norte-americana e de seus desdobramentos globais sobre a produção brasileira deve alcançar US$ 4,980 bilhões. A avaliação considera os efeitos generalizados do conflito sobre diversos setores da economia nacional, com destaque para a indústria e os serviços, que devem amargar perdas bilionárias.

      Setores com perdas e ganhos - A análise setorial revela um cenário desigual. Enquanto a agropecuária brasileira deve registrar um ganho de US$ 5,526 bilhões, a indústria pode sofrer uma retração de US$ 8,895 bilhões e o setor de serviços deve perder US$ 1,612 bilhão. Os economistas explicam que essa diferença decorre do impacto heterogêneo das tarifas sobre cadeias produtivas distintas e da maior competitividade internacional de produtos agrícolas.

      Em relação às exportações, a simulação aponta uma queda de US$ 1,970 bilhão no total. Embora parte dessa redução já esteja embutida no recuo da produção, os dados indicam novamente que apenas o setor agropecuário sairia beneficiado, com ganho estimado de US$ 6,642 bilhões. Em contrapartida, a indústria perderia US$ 6,409 bilhões e os serviços, US$ 2,203 bilhões.

      Escalada protecionista - O estudo incorpora uma série de medidas tarifárias adotadas no contexto do atual conflito comercial. Entre elas, destaca-se o aumento de 145% das tarifas aplicadas pelos EUA sobre produtos importados da China e de 10% sobre produtos de cerca de 180 países. Além disso, o governo Trump elevou para 25% as tarifas sobre a importação de automóveis e aço, independentemente da origem. Como resposta, a China impôs retaliações com alíquota de 125% sobre produtos norte-americanos.

      Efeitos globais - A pesquisa também avaliou os impactos da guerra comercial na economia global, com conclusões nada animadoras. Segundo as simulações, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial pode recuar 0,25%, o equivalente a uma perda de US$ 205 bilhões. Já o comércio internacional seria reduzido em 2,38%, representando uma retração de US$ 500 bilhões.

      As maiores economias do planeta também devem sentir os efeitos da crise. Os Estados Unidos teriam uma queda de 0,7% em seu PIB, enquanto a China sofreria uma retração de 0,6%. No caso do Brasil, a estimativa é de um aumento tímido de 0,01% no PIB – resultado atribuído, em grande parte, ao fortalecimento do setor agrícola e à redução nos preços de alguns produtos importados.

      Produção em queda, PIB em alta - A aparente contradição entre a perda de produção e o leve crescimento do PIB brasileiro é explicada pelo economista Edson Paulo Domingues, integrante do Nemea e um dos autores do estudo. “Pode soar estranho que a produção registre perda de US$ 4,980 bilhões e o PIB, por outro lado, anote ganho de 0,01%. Mas essa aparente incoerência pode ser explicada. O PIB é uma medida de valor adicionado. Ele mede a riqueza criada. Assim, pode divergir do efeito no valor da produção”, esclareceu o pesquisador.

      O levantamento da UFMG oferece um retrato abrangente e técnico dos possíveis desdobramentos da atual política comercial norte-americana, indicando que, mesmo com ganhos pontuais em setores como a agropecuária, o saldo para o Brasil tende a ser negativo – tanto em termos de produção quanto de inserção internacional da indústria e dos serviços.

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