Setor produtivo pressiona por corte da Selic e critica cautela do Banco Central
Indústria, comércio e centrais sindicais apontam que manutenção dos juros em 15% trava investimentos, reduz consumo e aprofunda desaceleração econômica
247 – A decisão do Banco Central (BC) de manter a Taxa Selic em 15% ao ano, mesmo diante de sinais consistentes de desaceleração econômica, ampliou o descontentamento do setor produtivo e das centrais sindicais. Para representantes da indústria, do comércio e dos trabalhadores, o atual nível de juros funciona como um obstáculo ao investimento e ao crescimento, num momento de inflação em queda e perda de dinamismo do mercado de trabalho.
As informações foram publicadas pela Agência Brasil, que ouviu entidades empresariais e sindicais logo após o anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom).
Indústria critica imobilismo e diz que há espaço para cortar juros
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota contundente afirmando que o BC ignorou “evidências robustas” de que a economia já permitiria o início de um ciclo de redução da Selic.
O presidente da entidade, Ricardo Alban, afirmou que a manutenção dos juros “é excessiva e prejudicial”, agravando a perda de ritmo da atividade econômica, encarecendo o crédito e inibindo investimentos. Para ele, seria possível um ajuste gradual sem comprometer a convergência da inflação para a meta.
Também a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) expressou preocupação. Seu presidente, Renato Correia, destacou que a continuidade da expansão do setor em 2026 depende da queda dos juros “o mais rápido possível”.
Comércio vê BC desconectado da realidade econômica
No comércio, as reações também foram críticas. O economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Felipe Queiroz, avaliou que o BC segue uma política “desconectada da conjuntura nacional e internacional”, lembrando que países como os Estados Unidos já iniciaram cortes de juros enquanto o Brasil preserva uma das maiores taxas reais do mundo. Segundo ele, a postura atual “prejudica investimentos, consumo e agrava entraves estruturais”, além de dificultar a política fiscal.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) adotou tom mais moderado. O economista Ulisses Ruiz de Gamboa afirmou que a manutenção era amplamente esperada e reflete um ambiente ainda sensível, com inflação e expectativas acima da meta, expansão fiscal e incertezas internacionais. Ele ressaltou que o comunicado do Copom será crucial para indicar os próximos passos da política monetária.
Sindicatos classificam decisão como “vergonha nacional”
As centrais sindicais foram ainda mais duras. Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) criticou a decisão, classificando-a como um “descumprimento das necessidades da população e do setor produtivo”.
A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT) e vice-presidenta da central, Juvandia Moreira, afirmou que a Selic elevada desvia recursos do investimento para o “rentismo”. Economistas ligados à CUT sustentam que a inflação está controlada e que o aperto monetário já provoca queda no consumo, desaceleração do PIB e perda de dinamismo no mercado de trabalho.
A Força Sindical reagiu de forma ainda mais contundente. Seu presidente, Miguel Torres, classificou a decisão como “vergonha nacional” e acusou o Copom de favorecer especuladores ao insistir em juros elevados.
“Estamos vivendo a era dos juros extorsivos”, afirmou, destacando que a política atual prejudica campanhas salariais, limita o consumo e impõe obstáculos ao desenvolvimento econômico.



