Tarifaço traz riscos, mas o Brasil pode ganhar, diz Mercadante
Presidente do BNDES aponta pressões inflacionárias e instabilidade global, mas vê chances de avanço nos setores agropecuário, industrial e energético
247 - O novo pacote de tarifas imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato, provocou reações imediatas no cenário internacional e tem potencial para impactar economias em todo o mundo. No Brasil, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, alertou para os riscos da medida, mas também destacou as oportunidades que podem ser exploradas pelo país. As declarações foram feitas na quinta-feira (10), durante um seminário sobre cooperativismo na sede do banco, no Rio de Janeiro, segundo o Valor Econômico.
"O protecionismo comercial resultante das tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, traz risco de pressão inflacionária e choque externo global”, afirmou Mercadante. Segundo ele, no entanto, o Brasil pode se beneficiar da nova configuração geoeconômica. “Para a agricultura e para pecuária brasileiras, eu avalio que o Brasil vai ter mercados que vão se abrir com muito mais velocidade, porque os Estados Unidos são um concorrente nesse segmento".
Mercadante também destacou os efeitos no setor industrial. Ele acredita que empresas de alto valor agregado, como montadoras de veículos e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D), já estão considerando o Brasil como destino para novos investimentos. “Como nós temos um mercado interno muito forte, que é o principal fator de crescimento, isso também é um diferencial nesse mundo em que o protecionismo vai crescer e que os mercados internos vão ter mecanismos de defesa comercial”, avaliou.
Desde que reassumiu a presidência dos Estados Unidos, Trump vem elevando o tom contra parceiros comerciais. Na quarta-feira (9), ele anunciou uma pausa de 90 dias na cobrança de tarifas de 10% sobre importações de países que não retaliaram os EUA na guerra comercial, excluindo explicitamente a China. Os produtos chineses, segundo a última atualização, estão sujeitos a uma alíquota de 145%.
Mercadante alertou para os efeitos sistêmicos dessa disputa. “Essa confrontação comercial dos Estados Unidos que o governo Trump estabeleceu com a China vai trazer muita segmentação, porque as duas economias juntas representam quase metade do PIB mundial, então quando você gera uma barreira ao comércio e as cadeias produtivas são integradas, gera muita tensão”, explicou.
O presidente do BNDES enfatizou ainda a instabilidade provocada pelo tarifaço, inclusive nos próprios Estados Unidos. “É seguro que esse processo vai trazer alguma pressão inflacionária para todos os países, um choque externo global e vai atrasar investimentos".
Apesar do cenário tenso, Mercadante acredita que o Brasil e a América do Sul foram relativamente poupados neste primeiro momento. Ele mencionou o reposicionamento do México e do Canadá, que já buscam novas alianças comerciais, e sugeriu que o Brasil adote a mesma postura. “A União Europeia também vai se aproximar do Sul Global e do BRICS, com novas pontes estratégicas".
No setor energético, o presidente do banco de fomento apontou que o aumento do protecionismo pode encarecer o custo da energia, mas que o Brasil está bem posicionado. “Ter uma empresa como a Petrobras ajuda a reduzir o preço interno de combustível e é muito importante para ganhar competitividade”, afirmou. Ainda segundo ele, o Brasil precisa ampliar sua capacidade de refino. “Somos importadores de derivados, então temos que aumentar a nossa capacidade de refino para ter uma eficiência plena. Tem uma vantagem competitiva, porque as barreiras comerciais vão encarecer".
Por fim, Mercadante defendeu a exploração de petróleo na Margem Equatorial, desde que cumpridas todas as exigências ambientais. “Nós precisamos também avaliar qual é o nosso potencial de petróleo na Margem Equatorial. Pesquisa é uma coisa importante na economia e conhecimento científico é fundamental para o debate".
A fala de Mercadante revela um olhar pragmático sobre os desafios impostos pelo novo cenário global, reconhecendo os riscos, mas também apostando na capacidade do Brasil de se adaptar e tirar proveito das novas oportunidades.
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