“Hugo Motta não tem mais condições de presidir a Câmara”, diz José Genoíno
Ex-presidente do PT afirma que presidente da Câmara perdeu autoridade ao conduzir votações e permitir violência no plenário
247 - As recentes decisões e a condução política do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, provocaram uma crise de autoridade no comando da Casa, segundo avaliação do ex-presidente nacional do PT, José Genoíno. Para ele, os episódios envolvendo a votação da chamada PEC da dosimetria, a tentativa de cassação do mandato do deputado Glauber Braga e a atuação da Polícia Legislativa dentro do plenário revelam que Motta deixou de cumprir o papel institucional esperado do cargo que ocupa.Em entrevista ao programa Bom Dia, da TV 247, Genoíno afirmou que a presidência da Câmara exige capacidade de diálogo, previsibilidade e respeito às regras do Parlamento, atributos que, segundo ele, deixaram de existir na atual gestão. A entrevista foi concedida à TV 247, em meio à repercussão dos acontecimentos que marcaram a última semana no Congresso Nacional.
“Hugo Motta não tem mais condições de presidir a Câmara. Ele trilhou um caminho de desgaste, de falta de legitimidade e de autoridade”, afirmou Genoíno. Segundo ele, o presidente da Casa passou a atuar como liderança de um bloco específico, em vez de exercer a função institucional de mediador entre governo, oposição, maioria e minoria. “O presidente da Câmara tem que ser um líder de todos. Ele está se comportando como líder do centrão”, declarou.
Genoíno apontou que a crise se agravou com a forma como Motta conduziu a tentativa de votação da PEC da dosimetria, que, segundo ele, foi apresentada de maneira inesperada aos líderes partidários. “Ele surpreende os líderes, não respeita a palavra e não preside o diálogo. Isso compromete completamente a autoridade de quem está à frente da Câmara”, disse.
O ex-presidente do PT também criticou a condução do episódio envolvendo o deputado Glauber Braga, retirado à força da mesa da presidência durante sessão no plenário. Para Genoíno, a situação poderia ter sido resolvida politicamente. “Ele podia ter negociado, dialogado, construído uma saída sem violência. Não fez isso. Optou pela truculência”, afirmou. Segundo ele, a atuação da segurança da Câmara só ocorre com autorização da presidência. “A segurança não faz aquilo sem o aval do presidente. Eu estive lá por 26 anos”, destacou.
Outro ponto levantado por Genoíno foi o bloqueio do sinal da Câmara e a restrição ao trabalho da imprensa durante a confusão no plenário. “Cortaram o sinal, impediram jornalistas de entrar na galeria. Isso é um absurdo e fere o funcionamento democrático do Parlamento”, afirmou.
Na avaliação do dirigente histórico do PT, a perda de autoridade do presidente da Câmara tem consequências diretas para o funcionamento institucional, especialmente em um período pré-eleitoral. “Quando o presidente perde autoridade, abre-se espaço para o vale-tudo, para dois pesos e duas medidas e para o enfraquecimento da própria instituição”, disse.
Genoíno também contextualizou a trajetória política de Hugo Motta, associando sua atuação atual a alianças formadas desde o período do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Ele vem do núcleo que apoiou Eduardo Cunha, votou contra a cassação de Cunha e se viabilizou nesse ambiente político. O presidente da Câmara deveria se comportar como um estadista, mas ele age como parte do processo”, afirmou.
Para o ex-presidente do PT, o conjunto desses fatores coloca em risco a estabilidade institucional do país. “Nós estamos vivendo uma crise institucional. A relação entre Congresso, Supremo e Executivo está congestionada, e atitudes como essas aprofundam esse quadro”, concluiu. Assista:



