Gleisi defende Lula de ataque etarista da The Economist
“A revista do sistema financeiro global prefere que o Brasil volte a ser submetido aos mandamentos do ‘mercado’”, aponta a ministra
247 - A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira (31) após a publicação de um editorial da revista britânica The Economist que questiona a possibilidade de reeleição do chefe do Executivo com base em sua idade. Em postagem nas redes sociais, Gleisi criticou o ataque de caráter etarista e afirmou que a preocupação central da publicação não é a saúde ou a vitalidade do presidente, mas a continuidade de um projeto político que contraria interesses do mercado financeiro internacional.
O posicionamento da ministra responde diretamente ao editorial da The Economist, que defendeu que Lula não deveria disputar a eleição de 2026, utilizando a idade do presidente como argumento central e relativizando sua força política no cenário brasileiro. A publicação, historicamente associada ao pensamento neoliberal, reconhece a solidez de Lula no cenário eleitoral, mas tenta deslegitimar sua candidatura por critérios que extrapolam o debate democrático.
Na avaliação de Gleisi Hoffmann, o incômodo da revista está ligado aos resultados do atual governo. “O verdadeiro risco que a reeleição do presidente Lula representa para a The Economist nunca foi a idade de um líder cheio de vitalidade e que cuida muito bem da saúde. O que eles temem é a continuação de um governo que retomou o crescimento do Brasil e não tem medo de enfrentar a injustiça tributária e social”, afirmou a ministra.
Ela também criticou duramente o alinhamento da revista aos interesses do sistema financeiro global. “A revista do sistema financeiro global, dos que fazem fortunas sem produzir nada, prefere que o Brasil volte a ser submetido aos mandamentos do ‘mercado’, abandonando as políticas públicas voltadas para o povo, o crescimento do emprego, dos salários e da renda das famílias”, escreveu. Para Gleisi, a preferência editorial por nomes da direita não tem relação com o bem-estar do país. “Não é para o ‘bem do Brasil’ que preferem Tarcísio; é por seus interesses, que não são os do país nem do povo brasileiro".
O editorial da The Economist reconhece que Lula ocupa uma posição sólida no cenário político, mas insiste em transformar a idade do presidente — que tem 80 anos — em um fator de risco, chegando a afirmar que “candidatos acima de 80 carregam enormes riscos” e que “carisma não é escudo contra declínio cognitivo”. O texto faz ainda uma comparação com o ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden, em uma tentativa de reforçar o argumento etário.
Apesar do tom crítico, a própria revista admite que Lula teve protagonismo recente ao enfrentar um cenário político descrito como “tumultuado”. O editorial menciona a prisão de Jair Bolsonaro (PL), condenado por conspirar contra a democracia, e registra que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tentou explorar o episódio com acusações falsas de perseguição política, além de impor tarifas ao Brasil. Ainda assim, reconhece que Lula enfrentou Trump e o levou a recuar em grande parte de suas investidas.
No campo econômico, a crítica da publicação também se mostra seletiva. A revista afirma que o país “cresceu surpreendentemente rápido”, mas classifica as políticas do governo como “medíocres” por priorizarem programas sociais e mecanismos de arrecadação que afetam interesses empresariais. Ao mesmo tempo, reconhece que Lula apoiou uma reforma para simplificar o sistema tributário, ainda que mantenha a narrativa de que o presidente seria “ruim para os negócios”.
Outro ponto explorado pelo editorial é a suposta falta de um sucessor político, com menções ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a lideranças mais jovens do campo progressista. A revista chega a sugerir que Lula deveria abrir mão da disputa para permitir o surgimento de um novo nome, interpretação vista por críticos como uma tentativa de tutelar o campo político brasileiro.
A diferença de tratamento fica evidente na abordagem em relação à direita. Enquanto Lula é alvo de questionamentos duros, a The Economist adota tom mais favorável ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, elogiando seu perfil e destacando sua idade como contraste ao presidente. O editorial chega a desenhar o que considera o “candidato ideal” para derrotar Lula, alinhado a uma agenda liberal e de centro-direita.



