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Trump processa BBC em US$ 10 bilhões por edição de documentário sobre discurso de 6 de janeiro

Presidente dos Estados Unidos acusa emissora britânica de difamação e interferência eleitoral após corte de falas em produção do programa Panorama

O presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington, D.C. - 22/11/2025 (Foto: REUTERS/Aaron Schwartz)

247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou com uma ação judicial de US$ 10 bilhões contra a British Broadcasting Corporation (BBC), acusando a emissora pública britânica de difamação e de interferência eleitoral por meio da edição de um documentário exibido em 2024 pelo programa Panorama. A informação foi divulgada inicialmente pela Fox News.

A ação foi protocolada na segunda-feira na Corte Federal do Distrito Sul da Flórida e foi apresentada em caráter pessoal por Trump. O processo pede US$ 5 bilhões por difamação e outros US$ 5 bilhões com base na Lei de Práticas Comerciais Enganosas e Desleais da Flórida, totalizando US$ 10 bilhões em indenizações. A BBC e a BBC Studios Productions são citadas como rés.

Segundo a acusação, o documentário teria distorcido declarações feitas por Trump em seu discurso de 6 de janeiro de 2021, pouco antes da invasão do Capitólio, ao omitir trechos nos quais ele pedia que seus apoiadores protestassem de forma pacífica.

Em declaração à Fox News Digital, um porta-voz da equipe jurídica do presidente afirmou: “A outrora respeitada e agora desmoralizada BBC difamou o presidente Trump ao adulterar intencionalmente, de forma maliciosa e enganosa, seu discurso, em uma tentativa descarada de interferir na eleição presidencial de 2024. A BBC tem um longo histórico de enganar seu público na cobertura sobre o presidente Trump, tudo a serviço de sua própria agenda política de esquerda. A ação poderosa do presidente Trump está responsabilizando a BBC por sua difamação e interferência eleitoral imprudente, assim como ele já responsabilizou outros veículos da grande mídia por seus atos ilícitos”.

Trump é representado pelos advogados Alejandro Brito, Edward Paltzik e Daniel Epstein.

Edição contestada e pedido de desculpas

A BBC passou a ser alvo de forte escrutínio após a exibição do documentário, que analisava o discurso de Trump em 6 de janeiro de 2021. Críticos apontaram que a produção foi enganosa ao suprimir o momento em que o então presidente pediu que seus apoiadores se manifestassem “pacificamente”.

No processo, os advogados de Trump afirmam que “a BBC, diante de uma indignação avassaladora e justificada em ambos os lados do Atlântico, admitiu publicamente sua espantosa violação da ética jornalística e pediu desculpas, mas não demonstrou qualquer remorso real por sua conduta nem implementou mudanças institucionais significativas para evitar futuros abusos jornalísticos”.

A emissora retirou o programa de suas plataformas e divulgou um pedido de desculpas pela edição incorreta. Um porta-voz, no entanto, declarou que, embora a BBC “lamente sinceramente a forma como o clipe de vídeo foi editado”, a empresa “discorda veementemente de que exista base para uma alegação de difamação”.

Até o momento, a BBC não respondeu oficialmente ao pedido de comentário sobre o processo judicial.

Denúncia de whistleblower e montagem das falas

A controvérsia ganhou força após reportagem do jornal britânico The Telegraph, que revelou trechos de um dossiê elaborado por um denunciante interno, Michael Prescott, consultor de comunicação contratado pela própria BBC para revisar seus padrões editoriais.

De acordo com o dossiê, o documentário do Panorama fez uma edição enganosa ao unir declarações distintas de Trump feitas com quase uma hora de diferença, dando a entender que ele incitava a violência. O programa exibiu Trump dizendo: “Nós vamos caminhar até o Capitólio. E eu estarei lá com vocês. E nós lutamos — lutamos como o inferno”.

Na íntegra, porém, Trump havia dito naquele momento: “Nós vamos caminhar até o Capitólio. E vamos apoiar nossos bravos senadores e deputados, homens e mulheres, e provavelmente não vamos apoiar tanto alguns deles, porque vocês nunca vão retomar nosso país com fraqueza. Vocês têm que mostrar força e têm que ser fortes”.

Somente 54 minutos depois, em outro trecho do discurso, Trump utilizou a expressão “lutar como o inferno”, referindo-se à defesa da integridade eleitoral.

Impacto institucional e alegação de danos bilionários

O episódio foi descrito pelo The New York Times como “uma das piores crises em seus 103 anos de história” da BBC. Segundo o relato, o erro levou às renúncias da então CEO de jornalismo da BBC, Deborah Turness, e do diretor-geral da emissora, Tim Davie.

A petição judicial, com 46 páginas, sustenta que o documentário “obteve ampla repercussão e republicação em diversos meios de comunicação nos Estados Unidos e em outras partes do mundo”, sendo utilizado para “difamar de forma falsa e maliciosa o presidente Trump e prejudicar sua reputação”.

Os advogados afirmam ainda que a exibição do documentário teria sido estrategicamente programada para ocorrer próximo à eleição presidencial de 2024. O texto sustenta que a marca pessoal de Trump “é razoavelmente estimada em dezenas de bilhões de dólares” e que seus empreendimentos geram “centenas de milhões de dólares em receita anual”.

Segundo a ação, “o dano aos negócios e à reputação pessoal do presidente Trump infligido por esses réus, e seus esforços para retratá-lo falsamente, de forma maliciosa e difamatória, como um insurreicionista violento, continuam até o presente, causando enormes prejuízos econômicos ao valor de sua marca e danos significativos às suas perspectivas financeiras futuras, além de continuar prejudicando sua reputação como presidente dos Estados Unidos da América”.

Trump pede que o caso seja julgado por um júri.

Histórico de disputas com a mídia

O processo contra a BBC é mais um capítulo em uma série de embates judiciais de Trump com grandes veículos de comunicação. Em dezembro de 2024, a ABC News firmou um acordo de US$ 16 milhões com o presidente e divulgou um pedido de desculpas após o âncora George Stephanopoulos afirmar erroneamente que Trump havia sido considerado “responsável por estupro” em um processo civil movido por E. Jean Carroll, quando o júri o considerou responsável por abuso sexual.

Em julho, a Paramount chegou a um acordo multimilionário com Trump após acusações de “interferência eleitoral” envolvendo a edição de uma entrevista do programa 60 Minutes com a então vice-presidente Kamala Harris, antes da eleição de 2024. Trump também fechou acordos com Meta, X e YouTube, além de manter processos em andamento contra The New York Times, The Wall Street Journal, The Des Moines Register e a pesquisadora eleitoral Ann Selzer.

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