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      Ataque de Vance à Europa deixa Ucrânia em segundo plano em conferência de segurança

      Expectativa era de que as negociações de paz dominassem o evento, mas Vance praticamente não mencionou Rússia ou Ucrânia em seu discurso

      J.D. Vance (Foto: Reuters)
      Guilherme Levorato avatar
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      Reuters - O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, acusou líderes europeus nesta sexta-feira (14) de censurar a liberdade de expressão e falhar no controle da imigração, o que gerou uma dura resposta do ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, e acabou ofuscando as discussões sobre a guerra na Ucrânia durante a Conferência de Segurança de Munique.  

      A expectativa era de que as perspectivas para negociações de paz dominassem o evento, especialmente após uma ligação entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin, nesta semana. No entanto, Vance praticamente não mencionou Rússia ou Ucrânia em seu discurso.  

      O vice-presidente americano afirmou que a ameaça que mais o preocupa na Europa não é a Rússia ou a China, mas o que ele chamou de um "afastamento dos valores fundamentais de proteção à liberdade de expressão" e o descontrole da imigração no continente.  

      O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, rebateu as declarações de Vance em sua fala na conferência, classificando-as como "inaceitáveis". Segundo Pistorius, Vance questionou não apenas a democracia alemã, mas a europeia como um todo.  

      O embate evidenciou as visões de mundo divergentes entre a nova administração de Trump e os líderes europeus, tornando difícil para os aliados de longa data, Estados Unidos e Europa, chegarem a um consenso sobre questões como a guerra na Ucrânia.  

      Muitos dos presentes na conferência assistiram ao discurso de Vance em silêncio, e houve poucos aplausos ao final de suas declarações.  

      Reunião com líder da extrema direita alemã - Após seu discurso, Vance se reuniu com Alice Weidel, líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). A movimentação deve gerar críticas, sendo vista como uma interferência indesejada antes das eleições federais alemãs, marcadas para a próxima semana.  

      A ligação de Trump com Putin gerou preocupação entre governos europeus, que desde a invasão russa da Ucrânia em 2022 tentam isolar o presidente russo. Há um temor de que os europeus sejam excluídos de negociações de paz que afetariam diretamente sua própria segurança.  

      Vance, que se encontrou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Munique nesta sexta-feira, afirmou em entrevista ao *Wall Street Journal* antes da conferência que Trump poderia usar várias ferramentas – econômicas e militares – como forma de pressão sobre Putin.  

      Após a publicação da entrevista, o porta-voz de Vance, William Martin, contestou a interpretação do jornal, negando que o vice-presidente estivesse ameaçando a Rússia.  

      Negociações de paz e garantias de segurança - Durante a conferência, Zelensky afirmou que só conversaria com Putin depois que a Ucrânia chegasse a um plano comum com Trump e os líderes europeus.  

      Vance e Zelensky não divulgaram detalhes sobre sua conversa em Munique, mas o presidente ucraniano reiterou que seu país precisa de "garantias reais de segurança".  

      A chanceler alemã Annalena Baerbock alertou contra qualquer tentativa de impor um acordo de paz à Ucrânia.  

      "Uma paz de fachada – sobre as cabeças dos ucranianos e dos europeus – não traria nenhum benefício", declarou. "Uma paz falsa não traria segurança duradoura, nem para o povo da Ucrânia, nem para nós na Europa ou nos Estados Unidos."  

      Atualmente, a Rússia controla cerca de 20% do território ucraniano, quase três anos após o início da invasão. Moscou justifica sua ofensiva alegando que a tentativa da Ucrânia de ingressar na OTAN representa uma ameaça existencial. Tanto Kiev quanto o Ocidente denunciam a ação como um ato de expansionismo imperialista.  

      Pressão para que Europa aumente gastos com defesa - Vance também reiterou a exigência de Trump de que a Europa assuma uma parcela maior da responsabilidade por sua própria defesa, permitindo que os Estados Unidos concentrem seus esforços em outras regiões, como o Indo-Pacífico.  

      "No futuro, acreditamos que a Europa precisará assumir um papel maior em sua própria segurança", afirmou Vance durante uma reunião com o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier.  

      O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, concordou com Vance, dizendo que ele estava "absolutamente certo" ao cobrar um maior envolvimento europeu na segurança do continente.  

      "Precisamos amadurecer nesse sentido e gastar muito mais", disse Rutte.  

      Durante a conferência, diversos líderes europeus reconheceram a necessidade de aumentar os investimentos em defesa, mas também destacaram a necessidade de um diálogo gradual com Washington para reduzir a dependência do apoio militar dos EUA.  

      Apoio ao AfD e conexão com Elon Musk - Antes de se encontrar com Alice Weidel, Vance sugeriu em seu discurso que o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) poderia ser um parceiro político legítimo, criticando a política adotada pelos principais partidos alemães de não colaborar com o grupo.  

      O AfD, que tem uma postura fortemente anti-imigração, está sob monitoramento dos serviços de inteligência da Alemanha por suspeita de extremismo de direita. A legenda está atualmente com cerca de 20% das intenções de voto para a eleição geral de 23 de fevereiro.  

      O bilionário Elon Musk, maior doador da campanha de Trump para as eleições de 2024 e agora chefe da equipe de Trump encarregada de reduzir os gastos do governo dos EUA, também expressou publicamente apoio ao AfD.

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