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Austrália anuncia endurecimento das leis sobre armas após massacre antissemita em Bondi Beach

Ataque cometido por pai e filho deixou 16 mortos, incluindo uma criança de 10 anos, durante celebração judaica em Sydney

Atentado provoca pânico na Austrália (Foto: Reuters)

247 – A Austrália anunciou nesta segunda-feira planos para endurecer ainda mais suas leis sobre armas após o pior ataque a tiros em quase três décadas no país, ocorrido durante uma celebração judaica em Bondi Beach, em Sydney. O massacre, cometido por um pai e seu filho, deixou 16 mortos e dezenas de feridos, provocando comoção nacional e reacendendo o debate sobre segurança e extremismo. As informações são da agência Reuters.

O ataque aconteceu no domingo à noite, quando cerca de mil pessoas participavam de um evento de Hanukkah em uma das praias mais famosas do país. Segundo a polícia, um homem de 50 anos e seu filho de 24 abriram fogo contra os participantes. O pai morreu no local, atingido durante a ação policial, enquanto o filho permanece internado em estado crítico, elevando o número total de mortos para 16. As vítimas tinham entre 10 e 87 anos e incluem uma criança, um rabino e o próprio atirador mais velho.

As autoridades informaram que cerca de 40 pessoas foram levadas ao hospital, incluindo dois policiais em estado grave, porém estável. A polícia não divulgou oficialmente os nomes dos suspeitos, mas a emissora estatal ABC e outros veículos locais os identificaram como Sajid Akram e seu filho Naveed Akram. De acordo com o ministro do Interior, Tony Burke, o pai chegou à Austrália em 1998 com visto de estudante, enquanto o filho nasceu no país.

A polícia afirmou que o homem de 50 anos possuía licença para armas de fogo desde 2015 e tinha seis armas registradas. Vídeos gravados no local indicam que os atiradores usaram o que parecia ser um rifle de ferrolho e uma espingarda. “Estamos analisando o histórico de ambas as pessoas. Neste estágio, sabemos muito pouco sobre elas”, disse o comissário da Polícia de Nova Gales do Sul, Mal Lanyon, em entrevista coletiva.

A emissora ABC News informou que duas bandeiras do Estado Islâmico foram encontradas no veículo dos suspeitos, sem citar fontes oficiais. Um dos atacantes já era conhecido pelas autoridades, mas não havia sido classificado como uma ameaça iminente, segundo responsáveis pela segurança.

Diante do ataque, o primeiro-ministro Anthony Albanese afirmou que pedirá ao gabinete que avalie limites mais rígidos para o número de armas permitidas por licença e para o período de validade dessas autorizações. “As circunstâncias das pessoas podem mudar”, disse Albanese. “As pessoas podem ser radicalizadas ao longo do tempo. Licenças não devem ser perpétuas.”

Testemunhas relataram que o ataque durou cerca de 10 minutos e causou pânico generalizado, com centenas de pessoas fugindo pela areia e pelas ruas próximas. Um homem que conseguiu derrubar e desarmar um dos atiradores foi aclamado como herói. A rede 7News Australia o identificou como Ahmed al Ahmed, um comerciante de 43 anos, que foi baleado duas vezes e passou por cirurgia. Uma campanha de arrecadação criada para ajudá-lo já havia reunido mais de 550 mil dólares australianos.

Moradores de Bondi relataram o clima de choque e luto na região. “Normalmente está cheio de gente nadando, surfando, correndo. Hoje está muito silencioso, com um clima solene”, disse Morgan Gabriel, de 27 anos, que ajudou a abrigar pessoas que fugiam do ataque.

Um memorial improvisado com flores e bandeiras da Austrália e de Israel foi montado no pavilhão de Bondi, enquanto um livro virtual de condolências foi aberto. A área passou a contar com forte presença policial e segurança privada da comunidade judaica.

Albanese visitou o local do ataque na manhã desta segunda-feira e classificou o episódio como “um ato de puro mal, um ato de antissemitismo e um ato de terrorismo em solo australiano”. Ele acrescentou: “A comunidade judaica está sofrendo hoje. Todos os australianos se solidarizam com ela e dizem: estamos com vocês. Faremos tudo o que for necessário para erradicar o antissemitismo.”

Segundo o primeiro-ministro, diversos líderes mundiais entraram em contato para prestar solidariedade, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da França, Emmanuel Macron. O ataque ocorre em meio a uma sequência de ações antissemitas na Austrália desde o início da guerra de Israel em Gaza, em outubro de 2023.

O rabino Mendel Kastel, cunhado de uma das vítimas fatais, afirmou que a comunidade precisa reagir com união. “Não se trata de raiva ou de culpar pessoas, mas de comunidade”, disse. “Precisamos estar presentes uns para os outros e vamos superar isso juntos.”

Massacres a tiros são raros na Austrália, considerada um dos países mais seguros do mundo. O ataque em Bondi Beach foi o mais letal desde 1996, quando um atirador matou 35 pessoas em Port Arthur, na Tasmânia, episódio que levou à adoção de algumas das leis sobre armas mais rigorosas do planeta. Ainda assim, o episódio atual levanta dúvidas sobre se essas regras continuam suficientes diante de novos riscos de radicalização e terrorismo interno.

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