Casa Branca defende assassinatos de civis em barcos de pesca no Caribe
Governo Trump sustenta que ataques contra embarcações venezuelanas foram legais; no entanto, as execuções violam claramente a lei internacional
247 – A Casa Branca defendeu nesta segunda-feira a decisão de militares dos Estados Unidos de realizarem múltiplos ataques contra um barco venezuelano no Caribe, ação que resultou na morte de dezenas de civis e pescadores classificados pelo governo como suspeitos de tráfico. As informações foram publicadas originalmente pela agência Reuters.
Os ataques ocorreram em 2 de setembro e foram autorizados pelo secretário de Defesa Pete Hegseth, segundo confirmou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt. Ela afirmou que o almirante Frank Bradley “trabalhou bem dentro de sua autoridade e da lei ao conduzir o engajamento para garantir que o barco fosse destruído e que a ameaça aos Estados Unidos da América fosse eliminada”.
Leavitt acrescentou que o ataque foi conduzido em “autodefesa”, teria ocorrido em águas internacionais e estaria em conformidade com a lei do conflito armado. Segundo ela, “este governo designou esses narco-terroristas como organizações terroristas estrangeiras”.
A posição oficial do governo do presidente Donald Trump, no entanto, contrasta com severas críticas de especialistas em direito internacional e de parlamentares democratas e republicanos — todos alertando que a segunda ofensiva, destinada a matar sobreviventes que já não representavam perigo, constitui clara violação da lei internacional e pode configurar crime de guerra.
Especialistas: matar sobreviventes seria assassinato e possível crime de guerra
A professora de Direito Internacional da Universidade George Washington, Laura Dickinson, afirmou que a operação não caracteriza conflito armado, o que restringe ainda mais o uso da força letal. Ela foi direta: “Seria assassinato fora de um conflito armado”.
Dickinson disse ainda que, mesmo em situação de guerra, “o assassinato de sobreviventes provavelmente seria um crime de guerra”.
A crítica foi reforçada pelo grupo de ex-advogados militares JAGs Working Group, que classificou a ordem como “claramente ilegal”, sustentando que militares têm a obrigação de desobedecer comandos ilegais e que qualquer pessoa que execute tais ordens deve ser responsabilizada por crimes de guerra.
Contradições no governo Trump
A controvérsia se intensificou após o Washington Post noticiar que Hegseth teria ordenado que “todos fossem mortos”, inclusive os sobreviventes do primeiro ataque. Trump declarou no domingo que não teria desejado uma segunda ofensiva e disse que Hegseth nega ter dado essa ordem.
Apesar disso, o próprio secretário de Defesa voltou a defender Bradley publicamente. Na rede X, afirmou que o almirante é “um herói americano” e garantiu que tem seu “apoio de 100%”. Ele afirmou também que sustenta as decisões de Bradley “na missão de 2 de setembro e em todas as outras desde então”.
Parlamentares dos dois partidos anunciaram que irão investigar os ataques, especialmente aqueles contra sobreviventes incapacitados, ponto central porque o Direito Internacional Humanitário proíbe atacar náufragos ou pessoas fora de combate, que devem receber assistência e nunca ser executadas.
Escalada contra a Venezuela e operações clandestinas
Segundo a Reuters, desde setembro os Estados Unidos realizaram ao menos 19 ataques contra embarcações suspeitas de tráfico, matando pelo menos 76 pessoas no Caribe e no Pacífico.
A ofensiva integra a estratégia do governo Trump de pressão máxima contra Nicolás Maduro, considerado ilegítimo por Washington. No sábado, Trump afirmou que o espaço aéreo “deve ser considerado totalmente fechado” ao redor da Venezuela, aumentando a tensão no país vizinho.
Trump confirmou ainda que conversou com Maduro, mas não detalhou o teor do diálogo. A Reuters também revelou que o presidente norte-americano autorizou operações secretas da CIA na Venezuela como parte da tentativa de desestabilizar o governo.
Maduro nega qualquer envolvimento com o tráfico de drogas e afirma que a narrativa dos EUA é pretexto para justificar agressões e intervenções.



