Europa revive fantasmas do nazismo e expõe crise política, afirma Lavrov
Chanceler russo critica líderes europeus, acusa práticas históricas de expropriação e comenta sobre Ucrânia, EUA, sanções, Irã e segurança global
247 - O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, fez duras críticas a governos e lideranças da Europa ao comentar o que classificou como o ressurgimento de ideias e práticas associadas ao nazismo no continente. As declarações foram dadas em entrevista à emissora estatal iraniana IRIB e abordaram desde o conflito na Ucrânia até sanções econômicas, controle de armas e a ordem internacional.
A entrevista, cujos principais trechos foram compilados pela agência TASS, trouxe uma avaliação abrangente da política externa europeia e ocidental, além de comentários sobre os Estados Unidos, a China, o Irã e a situação no Mar Cáspio.
Ressurgimento do nazismo na Europa
Segundo Lavrov, políticos da Alemanha e de outros países europeus “estão começando a se lembrar de seus ancestrais que foram membros ativos do partido nazista”, algo que, em suas palavras, “causa muita preocupação”. O chanceler afirmou que ideias e métodos associados ao nazismo estariam sendo reativados como parte de um esforço para unificar a Europa em um confronto direto com a Rússia.
“Trata-se de abordagens abertamente nazistas e de um flagrante desrespeito pelo que o regime nazista na Ucrânia está fazendo”, declarou. Para ele, o cenário atual repete movimentos históricos, comparando a mobilização europeia contra Moscou às campanhas de Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte no passado.
Lavrov acrescentou que a Europa, hoje unida “sob a bandeira nazista”, estaria novamente em guerra contra a Rússia, utilizando “dinheiro europeu e instrutores europeus”, enquanto os ucranianos atuariam como representantes diretos no conflito.
Ucrânia e relações com a liderança europeia
Ao comentar a guerra na Ucrânia, o ministro afirmou que a Europa teve diversas oportunidades de participar de iniciativas diplomáticas para resolver o conflito, mas optou por ignorá-las. Diante disso, Lavrov disse que Moscou não vê sentido em manter diálogo com a atual liderança europeia.
Acusações ocidentais e confiança internacional
Lavrov também rebateu alegações frequentes da mídia e de governos ocidentais de que a Rússia não seria um parceiro confiável. Segundo ele, essas acusações são “palavras vazias”, já que, de acordo com sua avaliação, o Ocidente não apresentou provas de que Moscou tenha descumprido compromissos internacionais.
Estratégia de segurança dos Estados Unidos
O chanceler comentou ainda a nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, afirmando que o documento teria como objetivo “garantir que a Europa saiba qual é o seu lugar”. Segundo Lavrov, a mensagem de Washington seria para que os europeus cuidem de seus próprios assuntos e não tentem impor valores liberais nem arrastar os EUA para “seus jogos sujos”.
“Sigam seus próprios assuntos e não esperem que os EUA continuem apoiando suas iniciativas imprudentes, pois têm assuntos mais importantes para tratar, principalmente na América Latina e na região da Ásia-Pacífico”, disse, ao resumir o que considera ser o recado norte-americano aos aliados europeus.
Sanções, concorrência e política econômica
Sobre as sanções impostas pelos Estados Unidos contra as gigantes russas de energia Lukoil e Rosneft, Lavrov afirmou que elas refletem o desejo de “suprimir seus concorrentes usando métodos sujos”. Ele também acusou Washington de adotar uma política de confronto com a China, ressaltando que a competição internacional deveria ser conduzida de forma justa.
O ministro criticou a imposição de tarifas elevadas, de 100% ou até 500%, para eliminar concorrentes, afirmando que esse tipo de prática contraria os princípios da globalização promovidos pelos próprios Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial. “Quando sanções são impostas e ninguém esconde que as posições políticas de países e indivíduos são a razão, não se trata nem mesmo de desigualdade, mas de desrespeito aos direitos humanos”, afirmou.
Ativos russos congelados e críticas à União Europeia
Lavrov foi particularmente contundente ao comentar o bloqueio de ativos russos no exterior. Para ele, a situação demonstra que “roubar está no sangue dos europeus”. O ministro acrescentou que os “colegas” ocidentais parecem ter “uma inclinação para o roubo em seus genes”.
Ele observou ainda que diversos meios de comunicação internacionais passaram a se referir à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, utilizando o apelido “Führer Ursula”, em referência ao passado nazista da Alemanha.
Controle de armas e segurança internacional
No campo da segurança global, Lavrov afirmou que há “pessoas sensatas” tanto nos Estados Unidos quanto na Europa que defendem a restauração do princípio do controle de armas, posição que, segundo ele, é compartilhada pela Rússia.
Irã, Oriente Médio e Mar Cáspio
Ao tratar do Irã, o chanceler disse que Moscou considera importante que Teerã permaneça como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear. “Acreditamos que vale a pena”, afirmou. Ele também destacou que a Rússia busca ampliar a cooperação em segurança com o Irã, inclusive no âmbito da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC): “Estamos abertos à cooperação”.
Lavrov avaliou que a normalização das relações entre o Irã e o Conselho de Cooperação do Golfo representaria “uma importante contribuição para o fortalecimento da paz” no Oriente Médio.
Por fim, ao comentar sobre o Mar Cáspio, o ministro disse esperar que o Irã ratifique nos próximos meses a Convenção sobre o estatuto jurídico da região. “Espero que a convenção entre em pleno vigor” antes da cúpula das nações do Cáspio, prevista para agosto de 2026, em Teerã. Segundo ele, países ocidentais tentam dividir as cinco nações da região para impor decisões que não sejam baseadas no consenso.



