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Líderes da União Europeia aprovam empréstimo de 90 bilhões de euros para a Ucrânia e adiam uso de ativos russos

Verba será garantida pelo orçamento do bloco

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Eurooeia (Foto: Reuters)

247 - Os líderes da União Europeia decidiram avançar com um empréstimo de grande escala para garantir o financiamento da Ucrânia nos próximos dois anos, em meio à guerra contra a Rússia. A solução encontrada após intensas negociações em Bruxelas prevê a liberação de até 90 bilhões de euros, assegurados pelo orçamento do bloco, evitando neste momento o uso direto de ativos russos congelados.

A decisão foi tomada após horas de discussões técnicas e políticas entre os chefes de Estado e de governo, que buscavam uma alternativa viável diante das divergências internas sobre a utilização de recursos soberanos russos, informa a Reuters.

Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta sexta-feira (19), o presidente da cúpula da União Europeia, António Costa, confirmou o acordo. “Hoje aprovamos a decisão de fornecer 90 bilhões de euros à Ucrânia”, afirmou. Segundo ele, a medida será implementada rapidamente: “Com urgência, concederemos um empréstimo garantido pelo orçamento da União Europeia”.

A proposta inicial previa a criação de um chamado “empréstimo de reparações”, lastreado em ativos russos imobilizados no território europeu. No entanto, essa alternativa se mostrou inviável neste estágio, principalmente devido à resistência da Bélgica, país que concentra a maior parte desses recursos e que solicitava garantias contra eventuais retaliações financeiras e jurídicas por parte da Rússia.

Apesar disso, os líderes do bloco decidiram manter congelados os ativos russos na União Europeia, que somam cerca de 210 bilhões de euros. Segundo o entendimento firmado, esses recursos só serão liberados quando Moscou pagar reparações de guerra à Ucrânia. Caso isso ocorra, o dinheiro poderá ser usado por Kiev para quitar o empréstimo europeu.

A construção do consenso não foi simples. A ideia de um empréstimo comum exigia unanimidade e encontrou oposição inicial do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, conhecido por sua postura favorável à Rússia. Ao final, Hungria, Eslováquia e República Checa aceitaram que o plano avançasse, desde que não gerasse impactos financeiros diretos para esses países.

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, comemorou o desfecho das negociações. “Esta é uma boa notícia para a Ucrânia e uma má notícia para a Rússia, e essa era a nossa intenção”, declarou. Para ele, a decisão reforça o compromisso europeu com a defesa ucraniana.

O primeiro-ministro da Bélgica, Bart De Wever, também destacou o abandono temporário do plano baseado nos ativos russos. “Havia tantas questões sobre o empréstimo de reparações que tivemos de ir para o plano B. A racionalidade prevaleceu”, disse. Em seguida, avaliou que “a UE evitou o caos e a divisão e permaneceu unida”.

Com as finanças públicas pressionadas em diversos países do bloco, a Comissão Europeia vinha avaliando alternativas para manter o fluxo de recursos a Kiev.

A urgência da decisão foi ressaltada por diversos líderes que chegaram à cúpula alertando para o risco de colapso financeiro da Ucrânia já no segundo trimestre do próximo ano, caso a ajuda fosse interrompida. Além disso, havia o desejo de demonstrar coesão e força política após declarações do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recentemente classificou os europeus como “fracos”.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, foi enfática ao comentar o momento. “Nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de falhar”, afirmou.

Presente à cúpula, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a defender o uso integral dos ativos russos para sustentar o esforço de guerra do seu país. “A decisão agora sobre a mesa – a decisão de usar plenamente os ativos russos para se defender da agressão russa – é uma das decisões mais claras e moralmente justificadas que poderiam ser tomadas”, declarou.

Com o acordo, a União Europeia garante a continuidade do apoio financeiro à Ucrânia, ao mesmo tempo em que mantém em aberto a possibilidade de recorrer aos ativos russos no futuro, caso as condições políticas e jurídicas permitam.

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