Protestos de agricultores seguem na França mesmo após adiamento do acordo Mercosul-União Europeia
Agricultores mantiveram neste sábado (20) bloqueios em rodovias e autoestradas do sudoeste da França
247 - Mesmo após apelos do governo francês por uma “trégua de Natal”, agricultores mantiveram neste sábado (20) bloqueios em rodovias e autoestradas do sudoeste da França. A mobilização ocorre no início das férias escolares e um dia depois de novas declarações do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, em um contexto de crescente insatisfação no campo diante das políticas sanitárias adotadas pelo governo e das incertezas em torno do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Os protestos têm como principal alvo a estratégia de combate à dermatose nodular contagiosa (DNC), que prevê o abate total de rebanhos nos quais seja identificado um único caso da doença. As informações são da RFI.
Bloqueios seguem apesar de apelo por trégua
“Enquanto não houver mudança na política sanitária, enquanto o governo insistir no abate sistemático e total quando houver um caso de dermatose nodular contagiosa (DNC) em um rebanho, continuaremos mobilizados”, declarou à AFP Sara Melki, coporta-voz da Confederação Camponesa de Aveyron.
Mesmo diante de uma ordem da prefeitura proibindo manifestações, o sindicato instalou um segundo ponto de bloqueio no sudoeste do país. A mobilização ocorreu sem confrontos com a polícia, segundo as autoridades locais.
Sindicatos criticam resposta do governo
Na sexta-feira (19), representantes da Coordenação Rural (CR) e da Confederação Camponesa foram recebidos pelo primeiro-ministro. Ainda assim, as entidades não recomendaram a suspensão dos protestos durante o período de festas. As seções departamentais seguem livres para decidir sobre a continuidade do movimento.
Em entrevista à rádio France Inter, o secretário-geral da CR, François Walraet, confirmou essa autonomia regional, embora tenha feito um apelo para “fazer uma pausa” durante o Natal.
Os sindicatos consideraram insuficientes as medidas anunciadas pelo governo. Em carta enviada às entidades, Lecornu reiterou a defesa do abate total dos rebanhos afetados e anunciou o aumento do fundo de emergência de 10 milhões de euros para 11 milhões de euros. A resposta, no entanto, não atendeu às expectativas do setor.
“As respostas esperadas, principalmente sobre as indenizações dos animais isolados, a segurança econômica das propriedades ou ainda o apoio aos produtores de cereais, não foram atendidas. Não é suficiente”, afirmaram os movimentos sindicalistas em reação ao documento.
Acordo União Europeia-Mercosul amplia tensão no campo
Paralelamente à crise interna, o impasse nas negociações entre a União Europeia e o Mercosul contribui para ampliar o descontentamento dos agricultores europeus. Enquanto representantes do Mercosul se reúnem em Foz do Iguaçu para a cúpula do bloco, a assinatura do acordo de livre comércio, prevista inicialmente para este sábado, foi adiada para janeiro.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a maioria dos países europeus defendiam a conclusão do tratado ainda no Brasil. No entanto, os protestos de agricultores, especialmente na França e na Itália, levaram ao adiamento. Von der Leyen afirmou manter a expectativa de que a assinatura possa ocorrer em 2026. Segundo uma fonte da Comissão Europeia, a nova data em avaliação é 12 de janeiro, no Paraguai.
Negociado há mais de 25 anos, o acordo UE-Mercosul busca criar a maior área de livre comércio do mundo. O tratado prevê maior acesso de produtos industriais europeus ao mercado sul-americano e facilitaria a entrada de produtos agrícolas do Mercosul na Europa, tema que está no centro das preocupações dos agricultores franceses.



