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Trump ameaça novo ataque ao Irã e pressiona Hamas a se desarmar após encontro com Netanyahu

Presidente dos EUA diz que Washington pode apoiar nova ofensiva caso Teerã retome programas de mísseis

O presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington, D.C. - 22/11/2025 (Foto: REUTERS/Aaron Schwartz)

247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira que seu governo poderia apoiar um novo grande ataque contra o Irã caso Teerã volte a reconstruir seus programas de mísseis balísticos ou de armas nucleares, e fez uma advertência direta ao Hamas, exigindo que o grupo se desarme. Trump falou ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, após reunião na residência de Mar-a-Lago, na Flórida.

As declarações foram publicadas pela Reuters, que relata que Trump sugeriu que o Irã pode estar tentando reativar capacidades militares após o grande ataque dos EUA realizado em junho, durante a escalada de conflitos no Oriente Médio.

Ameaça direta ao Irã e menção ao bombardeiro B-2

Trump disse ter acompanhado relatos de que o Irã estaria voltando a “construir armas e outras coisas” e insinuou que isso ocorreria em novos locais, diferentes dos já atingidos pelo ataque norte-americano no meio do ano.

 “Eu tenho lido que eles estão construindo armas e outras coisas, e se estiverem, não estão usando os locais que nós obliteramos, mas possivelmente locais diferentes”, disse Trump a jornalistas, durante entrevista coletiva.

Em seguida, reforçou que os Estados Unidos estariam monitorando cada passo de Teerã e citou o bombardeiro utilizado na ofensiva anterior, numa referência explícita à possibilidade de repetir a ação militar.

 “Nós sabemos exatamente para onde eles estão indo, o que estão fazendo, e espero que não estejam fazendo isso porque não queremos desperdiçar combustível em um B-2”, afirmou.
“É uma viagem de 37 horas ida e volta. Eu não quero desperdiçar muito combustível.”

A fala ocorreu em um contexto em que Trump, segundo a Reuters, também tem mencionado nos últimos meses a possibilidade de um acordo nuclear com o Irã, ao mesmo tempo em que mantém o discurso de força e dissuasão militar.

Trump e Netanyahu discutem Gaza, Irã e Hezbollah

Segundo Trump, a reunião com Netanyahu teve como foco o avanço de um acordo de paz e cessar-fogo em Gaza, descrito como frágil, além de tratar de preocupações israelenses relacionadas ao Irã e ao Hezbollah, no Líbano.

O texto da Reuters destaca que o Irã travou uma guerra de 12 dias com Israel em junho e, na semana passada, anunciou que realizou exercícios com mísseis pela segunda vez no mês. Netanyahu, por sua vez, afirmou na semana anterior que Israel não busca confronto com Teerã, mas que acompanha os relatos e pretendia tratar do tema com Trump.

A avaliação implícita no encontro é que, mesmo após sucessivas ofensivas, Israel permanece atento ao risco de seus adversários reconstruírem capacidades militares, o que poderia reabrir uma escalada regional.

“Haverá um inferno a pagar”: pressão sobre Hamas

Trump também intensificou o tom contra o Hamas, responsabilizando o grupo por não se desarmar de forma mais rápida e afirmando que Israel teria cumprido sua parte no acordo de cessar-fogo.

 “Haverá um inferno a pagar”, declarou Trump, ao ser questionado sobre o que faria caso o Hamas não depusesse as armas.

A Reuters ressalta que Trump já fez declarações semelhantes em diferentes momentos ao longo do conflito, reforçando uma postura de intimidação pública que combina ameaças diretas e pressão política.

O impasse central para a chamada “segunda fase” do cessar-fogo é justamente o desarmamento do Hamas e a definição do futuro político de Gaza, tema que vem travando a transição prevista e alimentando acusações mútuas de violações do acordo.

Segunda fase do cessar-fogo e força internacional em Gaza

Trump afirmou querer avançar para a segunda fase do cessar-fogo, firmado em outubro após dois anos de guerra em Gaza. Essa etapa prevê, segundo a Reuters, forças internacionais de paz no território palestino, além de medidas estruturais mais difíceis e politicamente sensíveis.

A agência destaca que Israel e Hamas se acusam de violações graves, e que o grupo palestino, que se recusa a se desarmar, tem buscado reafirmar seu controle em áreas onde tropas israelenses permanecem entrincheiradas em cerca de metade do território. Israel já indicou que, caso o desarmamento não ocorra de forma pacífica, poderá retomar a ação militar para impor esse resultado.

A implantação da força internacional foi determinada por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 17 de novembro, apontada no texto como parte do arcabouço formal para estabilizar Gaza.

Condições israelenses: restos de refém e passagem de Rafah

A Reuters relata ainda que, segundo um oficial israelense próximo a Netanyahu, o primeiro-ministro exigiria que o Hamas concluísse a primeira fase do cessar-fogo devolvendo os restos mortais do último refém israelense ainda em Gaza, antes que os próximos passos fossem adotados.

O texto cita que a família do refém morto, Ran Gvili, integrou a comitiva israelense em visita a Mar-a-Lago. Israel ainda não abriu a passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito — medida que também é condição do plano de Trump — alegando que só o fará após a devolução dos restos de Gvili.

Turquia em Gaza e relações tensas com Israel

Outro ponto abordado antes da reunião foi a possibilidade de peacekeepers turcos em Gaza, segundo Trump. A ideia é considerada delicada porque, apesar de Trump frequentemente elogiar o presidente turco Tayyip Erdogan, a relação entre Israel e Turquia é descrita pela Reuters como marcada por cautela e tensões.

A discussão sobre a Turquia revela como a estabilidade em Gaza se tornou um tema que ultrapassa o eixo Israel-EUA, envolvendo disputas de influência regional e desafios diplomáticos amplos, especialmente quando se fala em presença de forças externas no território.

Síria também entra na pauta e Israel mantém desconfiança

A Reuters informa que Netanyahu declarou interesse em garantir uma fronteira pacífica com a Síria, e Trump disse acreditar que Israel se entenderá com o presidente Ahmed al-Sharaa, que chegou ao poder após a deposição de Bashar al-Assad no ano anterior.

Mas o texto destaca que Israel desconfia do novo líder sírio, por seu histórico de ligação com a al-Qaeda, e chegou a bombardear edifícios do governo em Damasco em julho.

Guerra ainda ativa apesar do cessar-fogo

Embora o cessar-fogo tenha começado em outubro, a Reuters registra que a violência não cessou completamente. Segundo autoridades de saúde de Gaza, ataques israelenses mataram mais de 400 palestinos, a maioria civis. De outro lado, militantes palestinos mataram três soldados israelenses no período.

O cenário descrito pela agência evidencia que o cessar-fogo segue frágil, e que a retórica de Trump — combinando ameaças ao Irã e pressão direta sobre o Hamas — pode tanto reforçar a estratégia israelense quanto aumentar o risco de nova escalada regional.

Alinhamento político e sinais ao governo Netanyahu

No pano de fundo do encontro, a Reuters aponta que as declarações de Trump sugerem que ele permanece firmemente alinhado a Netanyahu, mesmo com relatos de que alguns assessores questionam, em privado, o comprometimento do premiê israelense com o cessar-fogo em Gaza.

Além disso, Trump chegou a afirmar que o presidente de Israel, Isaac Herzog, teria dito que pretendia perdoar Netanyahu de acusações de corrupção — algo que o gabinete de Herzog negou imediatamente. Netanyahu, por sua vez, afirmou que presentearia Trump com o Prêmio Israel, que disse ser historicamente reservado a israelenses.

As trocas de gestos simbólicos reforçam o caráter político do encontro e indicam que a coordenação entre Trump e Netanyahu continuará a influenciar os próximos passos em Gaza, no Irã e em outros focos sensíveis do Oriente Médio.

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