Trump e Netanyahu discutem próxima fase do plano de cessar-fogo em Gaza
Desarmamento do Hamas, retirada israelense e governança transitória estão no centro do impasse, enquanto Irã e Hezbollah também entram na pauta
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve pressionar por avanços no cessar-fogo em Gaza, atualmente travado, quando se reunir na próxima segunda-feira com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em um encontro previsto para ocorrer em Mar-a-Lago, na Flórida. As conversas também devem abordar as preocupações israelenses sobre o Hezbollah, no Líbano, e sobre o Irã, segundo declarações do próprio Netanyahu.
A informação foi publicada pela Reuters, que relata que Washington tenta manter de pé um amplo plano de cessar-fogo firmado em outubro, mas enfrenta resistências e acusações mútuas entre as partes sobre supostas violações do acordo.
Netanyahu afirmou em 22 de dezembro que a reunião com Trump deve tratar diretamente da segunda fase do cessar-fogo em Gaza, além dos dossiês de Irã e Líbano. “As discussões devem cobrir a segunda fase do cessar-fogo em Gaza, bem como Irã e Líbano”, disse o premiê israelense, de acordo com a agência.
Processo em Gaza está travado e próxima etapa é mais difícil
O acordo aprovado em outubro — descrito como o plano de cessar-fogo de Trump — prevê medidas de alto impacto político e militar: retirada de Israel de Gaza, abandono de armas pelo Hamas e a renúncia do grupo a qualquer papel de governo no território palestino.
Apesar de o plano ter sido aceito formalmente, a Reuters aponta que Israel e Hamas acusam-se mutuamente de violações relevantes, e a implementação da etapa seguinte parece distante. O impasse é ampliado pelo fato de o Hamas se recusar a se desarmar e, segundo o relato, não ter devolvido os restos mortais do último refém israelense, enquanto forças israelenses permanecem entrincheiradas em aproximadamente metade do território.
Em meio à redução parcial dos combates, o conflito não cessou totalmente. A Reuters informa que, mesmo após o início oficial do cessar-fogo em outubro, ataques israelenses mataram mais de 400 palestinos, a maioria civis, segundo autoridades de saúde em Gaza, enquanto militantes palestinos teriam matado três soldados israelenses.
Casa Branca não confirma, mas Netanyahu diz ter sido convidado
O encontro ganhou caráter oficial a partir da sinalização do próprio premiê israelense. Netanyahu declarou neste mês que Trump o convidou para as conversas, em meio à pressão de Washington para estabelecer um modelo de governança transitória e uma força internacional de segurança para Gaza.
Segundo a Reuters, Trump afirmou que poderia se reunir com Netanyahu em breve, mas a Casa Branca não confirmou os detalhes, e não respondeu a pedidos de comentário.
“Conselho de paz” e tecnocratas palestinos: plano de transição sob pressão
O governo dos EUA trabalha para acelerar a montagem de uma administração transitória para Gaza. O secretário de Estado, Marco Rubio, declarou na semana passada que Washington quer que a estrutura prevista no plano — um Board of Peace e um organismo formado por tecnocratas palestinos — esteja “em funcionamento em breve”, antes do envio de uma força internacional de segurança.
O desenho de segurança foi respaldado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, datada de 17 de novembro, que teria mandatado a implantação dessa força internacional. Mesmo assim, o avanço prático emperra na desconfiança mútua e, sobretudo, na disputa central sobre o desarmamento do Hamas e o futuro político de Gaza.
Israel, segundo o texto, indicou que, caso o Hamas não seja desarmado por meios políticos, pode retomar ações militares para forçar a entrega de armas — sinalizando que a retomada do conflito segue como ameaça concreta.
Líbano: cessar-fogo com Hezbollah é testado e Israel mantém ataques quase diários
Além de Gaza, a agenda Trump–Netanyahu deve incluir o Líbano, onde um cessar-fogo apoiado pelos EUA, firmado em novembro de 2024, interrompeu mais de um ano de confrontos entre Israel e Hezbollah. O acordo previa o desarmamento do grupo xiita, apoiado pelo Irã, começando ao sul do rio adjacente ao território israelense.
O Líbano afirma estar próximo de cumprir a missão dentro do prazo até o fim do ano, mas o Hezbollah resiste às pressões para entregar suas armas. Israel, por sua vez, avalia que o progresso é “parcial e lento” e vem realizando ataques quase diários em território libanês, dizendo querer impedir que o grupo se reorganize.
Irã: exercícios de mísseis após guerra de 12 dias e tensão permanece
A questão iraniana também deve ser tratada no encontro. O Irã, que travou uma guerra de 12 dias com Israel em junho, realizou novos exercícios com mísseis pela segunda vez neste mês, segundo a Reuters.
Netanyahu afirmou que Israel não busca confronto com o Irã, mas disse estar ciente dos relatos e declarou que levantará o assunto com Trump. A agência também lembra que Trump ordenou, em junho, ataques dos EUA a instalações nucleares iranianas, embora desde então tenha mencionado a possibilidade de um acordo com Teerã.
Reunião ocorre sob pressão internacional e crise humanitária em Gaza
O encontro acontece em um momento em que a crise humanitária em Gaza permanece intensa. A Reuters abre sua reportagem relatando que palestinos deslocados caminharam em um acampamento de barracas à beira-mar, após o local ser inundado pela água do mar durante uma tempestade de inverno em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.
Esse cenário reforça o peso político da reunião, que tende a ser vista como tentativa de destravar a implementação do cessar-fogo, diante da dificuldade crescente da segunda fase do plano: uma etapa que envolve não apenas cessar as hostilidades, mas redesenhar o controle administrativo e o arcabouço de segurança do território — com exigências que, até aqui, nenhum dos lados demonstra disposição real de aceitar integralmente.



