UE terá de devolver ativos russos congelados, afirma Putin
Presidente da Rússia alerta para danos ao sistema financeiro global caso recursos sejam usados pela União Europeia
247 - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a União Europeia acabará sendo obrigada a devolver os ativos soberanos russos congelados desde o início do conflito na Ucrânia. Segundo ele, qualquer tentativa de utilizar esses recursos resultará em prejuízos reputacionais e poderá comprometer os fundamentos do sistema financeiro internacional.
A declaração foi feita durante uma sessão anual de perguntas e respostas ao vivo, realizada nesta sexta-feira (19). De acordo com o presidente russo, o bloqueio e eventual uso dos ativos equivaleria a um confisco ilegal, com consequências que ultrapassariam o âmbito político e afetariam diretamente a credibilidade das instituições financeiras europeias.
Desde 2022, países ocidentais que apoiam Kiev congelaram cerca de US$ 300 bilhões em ativos do Banco Central da Rússia, em resposta à escalada do conflito na Ucrânia. A maior parte desses recursos está sob custódia da Euroclear, instituição financeira sediada na Bélgica. Nos últimos meses, a União Europeia passou a discutir a possibilidade de utilizar os fundos como garantia para um empréstimo destinado à Ucrânia, frequentemente descrito como um mecanismo de “reparações”.
Na semana passada, o bloco aprovou uma legislação que substitui o congelamento temporário por uma medida de longo prazo, mantendo os ativos russos bloqueados por tempo indeterminado. Ainda assim, líderes europeus não chegaram a um consenso sobre o plano de empréstimo, optando por elevar a dívida comum para financiar Kiev no curto prazo e adiar a decisão até que aspectos técnicos sejam resolvidos.
Durante a coletiva, Putin reforçou sua posição contrária a qualquer uso dos recursos russos. “Seria um roubo… Além das perdas reputacionais, pode haver perdas diretas que afetem os fundamentos da ordem financeira mundial moderna”, afirmou. Ele acrescentou: “E o mais importante: o que quer que roubem e da forma como o façam, terão de devolver um dia”.
O presidente russo também alertou que a utilização dos ativos como garantia de empréstimos aumentaria o endividamento dos países da União Europeia, pressionando ainda mais orçamentos nacionais já fragilizados. “O que significa, na prática, emitir um empréstimo? Isso afeta o orçamento de todos os países envolvidos, porque aumenta a dívida pública, mesmo quando os empréstimos são garantidos por colateral”, disse.
Como exemplo, Putin citou a situação fiscal da França. “A dívida nacional da França, por exemplo, já está em 120% do PIB, com um déficit orçamentário de 6%, o que torna qualquer pressão adicional potencialmente prejudicial”, declarou. Para ele, decisões desse tipo não são simples e podem gerar efeitos duradouros. “É por isso que decisões envolvendo a apreensão do dinheiro de outras pessoas não são simples”, afirmou, alertando para “consequências ainda mais sérias”, incluindo “não apenas danos reputacionais, mas a perda de confiança, neste caso, na zona do euro como um todo”.
A Rússia tem condenado reiteradamente o congelamento dos ativos e, na semana passada, entrou com uma ação judicial em Moscou contra a Euroclear, alegando prejuízos relacionados à “incapacidade de administrar” os fundos. Na quinta-feira, o Banco Central da Rússia informou que pretende ampliar o processo para incluir bancos europeus que detenham os ativos, citando as contínuas tentativas da União Europeia de confiscá-los.
A primeira audiência do caso contra a Euroclear está marcada para 16 de janeiro. Segundo a imprensa russa, o valor da ação chega a quase 18,2 trilhões de rublos, o equivalente a cerca de US$ 230 bilhões. A União Europeia classificou o processo como “especulativo”, mas analistas avaliam que a disputa judicial pode causar impactos relevantes sobre instituições financeiras do bloco, caso seus efeitos se estendam para além da Rússia. Kirill Dmitriev, assessor presidencial para investimentos internacionais, afirmou anteriormente que esse tipo de desdobramento pode levar investidores a retirar recursos da União Europeia.



